sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

o que tem voltaire com são miguel? nada, obviamente

do meu diário com pretensões:
"o malheureux mortels! ò terre déplorable!" voltaire, in poeme sur désastre de lisbonne (primeiro verso). a data deste poema ( segundo a edição a paris, de l'imprimerie de la fonderie stéréotypes de pierre didot l'ainé, et de firmin didot - 1800 ) é de 1737. fizeram-me confusão as datas. o desastre (o terramoto) teve lugar em 1755. o texto segundo a edição é anterior. bruxo! deve ter havido algum erro de impressão ou pior de tudo o poema retrata uma lisboa com pessoas detestáveis, miseráveis e mais coisas muito antes do desastre ter acontecido. fiz uma leitura sem dicionário o que quer dizer que não percebo o francês suficiente para traduzir voltaire. deixa para lá, se calhar vou voltar a ele. mais tarde, claro. bem, ao contrário de teófilo braga que dizia serem os açores uma terra habitável se não fosse habitada. um brincalhão que apesar de ter nascido em terras coriscas, esta lhe era adversa. para mim, que também por cá nasci (açores) a terra é boa mas só para a agricultura dado que a muita humidade ataca os idosos (como eu, evidente). no que diz respeito às gentes... bem. aqui há uns anos atrás falando com um sacerdote católico, este relatou-me um caso interessante sob a perspectiva do esclavagismo. juntou o sacerdote algumas fiéis para lhe transmitir uma sua aspiração. minhas bondosas senhoras, e se cedêssemos as tardes de domingo às "nossas" criadas para elas darem o seu passeio ou até irem a uma matiné no cliseu micaelense? bem, a coisa ficou feia (não digo preta senão algum integracionista ainda me acusa de racista) para o lado do justiceiro religioso. até de comunista foi acusado. é verdade, estávamos em pleno período do salazarismo e era muito perigoso falar em igualdade fora do pecado. dava prisão pois era considerado um atentado à segurança do estado. voltemos a voltaire. não é que este comunista vai escrever um poema (do mesmo livro que citei) com o título: "acerca da igualdade das condições". a data deste poema é de 1734 e muito antes da revolução francesa. quer dizer que duzentos anos depois do embrião de uma chamada de consciência para o com o semelhante, a justiça social açoriana/portuguesa não tinha mãe nem pai. é que, a escravatura, apesar de abolida pela lei, fazia arraial entre nós ditos cristãos. no que diz respeito às antigas criadas elas não tinham horário de trabalho. auferiam uma miséria mensal e muitas delas trabalhavam para poderem comer dado que nas aldeias (freguesias nos açores) de onde vinham não havia nada para matar a fome. os pais cediam as filhas como mercadoria. mas nada que se comparasse com o que faziam os indianos nas longínquas regiões da terra dos vedas...
varett

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