domingo, 23 de fevereiro de 2020

VASCO O QUÍMICO DAS PALAVRAS VENENOSAS

Não havia escrito de Vasco Pulido Valente que aparecesse pelo mundo da comunicação social que eu não tivesse vontade de  ler, quer em livro quer em jornais. As  entrevistas que deu quase que não as perdi. Às vezes, VPV conseguia escrever um texto de grande valor histórico misturando-o com um certo tipo de semivómito de esgar social que lhe saía em catadupas, quase naturalmente. Muitas das suas famosíssimas crónicas  ajudaram-no a construir a imagem de intelectual de eleição.    Sem elas não passaria de um José Vilhena, porém, mais letrado pois doutorara-se em História por uma Universidade londrina, onde privilegiados (alguns avençados) estrangeiros se iam encartar para depois voltarem aos seus respetivos países denunciando uma superioridade de vitrina perante os "indígenas". Casos da mesma leva, por exemplo, foram os dos professores e escritores históricos Filomena Mónica e Aníbal Cavaco Silva. Se bem que este último escrevesse a sua própria história em dois grandes volumes. Aliás, bem pesados. Convém acrescentar que enquanto Filomena e Aníbal como alunos de doutoramento não tinham na altura suficientes meios económicos, já Vasco os tinha, tanto  até que emprestava  dinheiro aos que passavam por certas carestias. A professora Filomena Mónica relata esta questão num dos seus livros autobiográficos. Se não erro, acho que ela escreveu que ele lhe emprestou algum para os alfinetes. VPV pertencendo a uma família burguesa, bem calçada e endinheirada, como costumava salientar, dava-se ao luxo de gozar que nem um perdido com os novos ricos que a "revolução" de Abril empurrara para a pia sem fundo das negociatas com o Estado, hoje denominada de corrupção. A maioria da plebe adorava quando ele ridicularizava figuras do poder, colegas de profissão bem conhecidos, gente grada das letras, da comunicação social, da política, etc. Tendo meios financeiros que a família proporcionava, tornou-se um quase pensador livre de patrões e de grilhetas. VPV rodeou-se de uma companhia de ridiculizadores que o acolitaram nas maldades eruditas. Um tal de Miguel Esteves Cardoso que para se pôr à altura social dele dizia-se, em escritos engraçados, filho de inglesa, e de Paulo Portas, jovem aguçado  de direita, a quem coube dirigir um jornal - o Independente - onde se fartaram - os três - a gozar e combater os políticos feitos à pressão que polvilhavam em tudo que era governo ou tacho. Mais tarde, Vasco Pulido Valente criou um blogue onde denegria personagens que se iam impondo no palco desta democracia. Um dia meteu-se com Clara Ferreira Alves e fodeu-se. Foi parar aos tribunais e não teve outro remédio senão recolher as garras. Tomou cagaço! Porque garras teve-as Clara. VPV refugiava-se muito em ridicularizar os retratos físicos do objeto humano que pretendia "despentear". O pior era que às vezes acertava o que permitia que o vulgo falasse não do que ele queria transmitir de substancial, mas da vítima. A última boca que o retornou mais famoso e   de que tenho memória foi o facto de chamar de geringonça a uma sociedade política levada a cabo por António Costa. Por acaso, Costa - um espírito de tolerância -  até brincou com o dito. Mas não evitará  de futuro ser relembrado como o homem que geriu uma geringonça. Outro primeiro-ministro vítima da sua língua viperina foi António Guterres que passou a ser conhecido por picareta falante. Não foi apenas a plebe que se deliciava com a maldade do guloso Vasco Pulido Valente, os meios de comunicação social também lhe faziam a perna. O próprio Presidente Marcelo não se livrou dele. "Marcelo é um desequilibrista e um presidente implausível." Melhor do que disse de Cavaco Silva, pois considerou-o "A alma mais desértica que o Ocidente produziu. Nutro por ele um verdadeiro sentimento de horror." Mais tarde hão de fazer um dicionário de nomes de políticos que ele rebatizou. Para fechar, sim, admirava nele a grande capacidade de escrever História e o modo como colocava as ideias que tinha ao fazê-lo. Deliciava quem o lia porque ninguém teve a sua coragem, isto é, ter quase todo o mundo contra ele. Nem sempre tivera razão e algumas vezes foi uma peste para colegas. Que o diga o professor Fernando Rosas quando Vasco publicamente o rebaixou. Historiador como ele, ouviu dele um elogio acerca de um seu trabalho. Isto num dia. No dia seguinte, VPV, em crónica publicada, descreveu a obra como sendo um detrito. Vasco achincalhava quem não era do seu meio social e que por mérito próprio  pretendia ascender. Era um Bom Sacana, e sendo ateu nunca pagará pelas ofensas que destilou por cá. Paz às suas vítimas! 

PS: Talvez por ciúme e de não ter chegado aos calcanhares de Miguel Sousa Tavares (de quem era amigo) como romancista lhe tivesse tentado manchar o seu Equador; que é considerado internacionalmente um dos grandes romances mundiais. Segundo a profª.   Fátima Bonifácio (in Público 23-2-20), Vasco Pulido Valente confessou-lhe ser um mentiroso.   Às vezes borrava a pintura, vá-se lá saber se a culpa foi do Scotch...