quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

a irreversibilidade da destruição do estado português já está nas mãos de terceiros


paulo rehouve:
que nos vai acontecer como estado independente?
varett:
a pergunta está mal colocada. portugal não é um estado independente. e isso deve-se ao facto de, logo após o "25 de abril", o país ter perdido a identidade histórica. com a destruição do estado nacionalista, tecnicamente denominado de estado novo, houve a tendência de o transformar num satélite da união soviética por parte do partido comunista português. no outro prato da balança: o capitalismo ocidental - muito mais apetecível às intenções nacionais. da refrega que se deu entre as duas imediatas opções, o capitalismo ocidental saiu vencedor. qualquer que fosse o resultado desta luta, a nossa antiga independência estaria condenada para sempre.
pr:
não beneficiámos com esta ocidentalização?
varett:
bem, do ponto de vista da direita, claramente. porém, note-se que o capitalismo ocidental só agora é que se está a impor entre nós.
pr:
e que tipo de país fomos até agora?
varett:
com a queda do "fascismo à portuguesa", seria impensável reorganizá-lo logo a seguir à revolução dos cravos. o povo não deixaria, visto estar já na rua e comandado para os objectivos da justiça social para que os comunistas apontavam.
pr:
e como entra aí o estado social realizado pelo modelo das sociedades de economia de mercado?
varett:
deve-se ao trabalho dos comunistas.
pr:
onde coloca os socialistas e os social-democratas nessa alteração?
varett:
vamos por partes. os comunistas arrastaram os outros partidos para a aceitação de tudo pelo povo, nada contra o povo. quem - na altura - se atreveria a combater esta onda justicialista dos comunistas? ninguém arriscaria ficar fora da reforma. seriam castigados nas urnas os reaccionários. foram de arrasto. não tinham alternativa. assim nas áreas da saúde, educação e sobretudo na segurança social, o estado tornou-se o senhor providência. era tão bom para todos. pobres e ricos, toda a minha gente vivia numa boa à custa do estado. este estado precisou de dinheiro para se manter. e o dinheiro entrou nos cofres estatais vindo do mundo capitalista. aquando da entrada em força dos dinheiros europeus o estado já estava a ser dominado pelos social-democratas de direita. o povo simpatiza com o partido comunista, mas não lhe confia o destino. tem medo do tipo de estado estalinista. foram muitos anos a meter na cabeça dos cristãos que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço... e como o voto é secreto vai daí, nunca fiando. é por estas e por outros que os operários e outros trabalhadores (explorados de todos os lados) gostam dos benefícios deste estado mas nunca o entregam aos comunas para o dirigirem. até a constituição tipicamente de esquerda está nas mãos da direita para a interpretar e ... usar. tudo isto representa uma falta enorme de cultura social. sem ela não passaremos de um protectorado.
pr:
o facto de estarmos englobados no ocidente capitalista, não quer dizer que percamos a independência. temos dívidas, claro. mas, uma vez pagas estas, nada impede que não nos libertemos dos compromissos que tivemos de assumir.
varett:
sonhar é fácil. comecemos por esclarecer uma questão. este governo está a apostar na desagregação do estado social. não vou explicar porque isso vê-se todos os dias através das suas medidas. o que vou referir é o seguinte: passos coelho e o grupo que o comanda vai tornar este estado tão leve de responsabilidades que amanhã quando acordarmos vamos ter de enfrentar o espectáculo de ao nos dirigirmos a uma antiga repartição pública depararmos com uma empresa privada que trata, por exemplo, de feitura de bilhetes de identidade e de tudo o mais. as participações do estado vão mudar de mãos.
pr:
que tipo de estado vamos ter? um do tipo americano?
varett: olha como você chegou lá tão depressa. repare que nas escapadelas - longe do público - foi criado um estado de polícias especiais. a antiga pide aí está a actuar numa forma moderna. as pessoas estão vigiadas. no antigamente, as suspeitas davam origem a detenção, prisão e a um tratamento "especial". agora, as suspeitas colocam atrás dos "criminosos" dezenas e dezenas de espiões que elaboram um processo que poderá ou não dar prisão. revoltas do tipo do "25 de abril" já eram. as forças armadas estão descaracterizadas e "desarmadas" o quanto serve para estarem quietas e obedientes às novas directrizes. quem tem o poder neste estado de salto é o poder/mando político/financeiro. este domina as forças policiais que vão desde as tradicionais às secretíssimas. entre estas estão forças de intervenção rápidas e preparadas para jugular qualquer gemido que leve a um possível golpe de estado.
pr:
golpe de esquerda?
varett: em portugal não há golpes de esquerda. são sempre as elites quem se movimenta. isto é história. claro que assaltos a mercearias e outros locais de culto alimentício não são revoltas no verdadeiro sentido da palavra. são espasmos de fome não organizados.
pr:
será viável um novo 25 de abril?
varett:
não vejo esta possibilidade, pois quem vive parasitando esta situação não tem carências que os levem a actuar nesse plano. quem tem o poder neste momento está mais interessado em fortalecer-se policialmente. repare que as forças armadas ainda são o resquício de uma entidade de consciência nacional e do estado social. não estou a ver as forças armadas portuguesas a servir como lacaios armados e combater o povo de qual ainda há pouco tempo eram o laço umbilical. por isso este governo/financeiro tem entre mãos um grande problema se as ditas forças se reorganizarem no modelo antigo.
pr:
a quem deve recorrer o povo como garantia das conquistas sociais que abril trouxe se o seu aliado natural está a ser desmantelado?
varett:
boa questão! ora liofilizadas as forças armadas, destruídos os laços que ligavam o povo ao executivo (com guterres e sócrates a questão não se colocava), calada a igreja mercê das novas regalias que o estado abriu mão (estão os padrecas e a igreja de roma de novo a comer dos dinheiros do estado na medida em que os canais do apoio social já lhes estão a cair no regaço das caixas das esmolas), criadas as juntas de ataque aos recalcitrantes (querem que volte a explicar?), nada mais resta ao povo senão comer e calar. claro que os comunistas e as suas centrais sindicais irão tentar movimentar-se. mas, a verdade é que as centrais sindicais estão cheias de reformados, de funcionários públicos politizados e de mais alguns manequins que enfeitam as anódinas manifestações. este tipo de político manifesteiro não se misturará com os milhares de esfomeados que acabam por destruir e queimar tudo à sua volta. a elite palradora dos chefes das centrais já há muito que se deixaram de gritar a la atila o huno.
(conclui amanhã)

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