sábado, 10 de novembro de 2012

universidade portuguesa sem cérebros, sem dinheiro mas sempre submissa


a universidade portuguesa tem tudo o que é preciso para ser uma verdadeira  escola de ensino superior. mas o que é necessário para tal materialização? duas coisas são necessárias: cérebros e  essência. os gregos - sempre os gregos - através de ésquilo colocaram na boca de prometeu a seguinte frase: "o saber, porém, é muito menos forte que a necessidade." (1) a economia portuguesa está a desmoronar e arrasta com ela a vetusta ideia de sermos portugueses de raiz. melhor dizendo. o capital não tem pátria e chegados à beira do descalabro há que fazer como os camaleões. mudar de cor para não sermos devorados e também assim disfarçados podermos caçar os incautos insectos da nossa sobrevivência. algumas franjas de comentadores queixam-se de que os nossos cérebros estão a fugir para os países que lhes permitirão realizar os seus sonhos. faltou um projecto com sentido para a universidade deste  tempo de democracia que veio  substituir o velho sistema educativo. à pressa se legislou uma lei de bases copiada da francesa que contemplava a mudança de comportamento e racionalidade. a universidade do estado novo era um viveiro de elites que depois de juras ao sistema e à carta papal (dita concordata) se propunha servir os lugares mais destacados do estado. e como testamenteiros dos cérebros que os frequentavam permitiam-se escolher quem era os que lhes tinham melhor bebido a cartilha. a governação criada pela constituição de 33 fazia de portugal um país fechado num circuito que aprisionava todas  as classes sociais. (e) a escolha do reitor da universidade era feita pela mostra do servilismo e aquiescência ao poder político. passar numa prova académica não implicava o saber-se a matéria somente. não senhor. quem examinava tinha mais poder que jeová, alá ou a pitonisa de delfos. chumbava-se e pronto. come e cala. da minha parte devo dizer que perdi um ano de curso só porque afirmara que a idade média significava 10 séculos de escuridão. veio o 25 de abril e o medieval foi saneado. certo dia depois de receber uma nota que não me satisfazia acusei o professor de não estar a par de todo o conteúdo da disciplina. exigi discutir o teste de imediato. bem, o lente lá me subiu a nota. nunca mais ninguém me atribuiu uma nota sem eu estar de  de acordo com ela. isso significava o domínio da matéria e o ter de discuti-la taco a taco. aprende-se na defesa e no ataque. esta táctica permite um crescer mental e nos responsabiliza como cidadãos. estar a memorizar conteúdos e depois debitá-los torna-nos zumbis mnésico-repetitivo. ficamos prisioneiros de um estádio pré-lógico do género das bocas de levi-strauss. a pesada herança salazarista foi mais contundente e feroz no trato com o intelecto. a beleza da ditadura que nos afogou durante 48 anos foi um projecto da igreja e dos vencedores do 28 de maio. a pide e os bufos "organizavam" o nosso pensamento político de acordo com a orientação do timoneiro que a par do pensamento religioso nos tornava num povo imbecil. digamos que de 1 a 10 obteríamos facilmente a nota máxima. estar contra o  timoneiro salazar significava a morte como cidadão. não acreditar nas patetices vomitadas pela padralhada a soldo do anticomunismo era um sinal suspeição. ser ateu era sinónimo de esquerdista. ser-se casado sem a benção da igreja significava a morte social e  ostracismo. a universidade era mais um parceiro desta monstruosidade e quem de entre ela não acatasse as baboseiras da igreja e da situação tinha de fugir,  isto se não fosse apanhado entretanto. de um momento para o outro  a universidade libertou-se e preparou-se para voar. a velha universidade baqueou e uma nova era foi estendida aos que esperavam um mundo novo e um homem novo. sem mestres para enfrentar a nova viagem a nova universidade afogou-se nas ondas de uma caterva de gente que a invadiu e se autopromoveu academicamente. distribuíram entre si mestrados e doutoramentos como quem atribui títulos nobiliárquicos  e entupiram todas as entradas a outros (talvez mais capazes). a universidade passou de uma catedral de imundos reaccionários para a bandalheira actual. mas não há verdadeiros académicos entre nós fora dos feitos na prata da casa? claro, mas tiveram de sair  do país e apreender novos horizontes e que fazem das universidades o vector primordial da mudança. são poucos e sobretudo livres e tolerantes. os que os há por cá e por cá se fizeram não passam de gerentes de grandes superfícies humanistícas . salvo as excepções meritórias não temos por enquanto uma universidade plena. e isso deve-se ao facto de elas se terem transformado em partidos políticos encapotados. para finalizar: o sintoma de que a nossa universidade falhou deve-se ao facto de nenhum país estar disponível para comprar professores altamente qualificados. não os temos. ah, mas exportamos jogadores de futebol. valha-nos isso. para informação: sabem quanto é que pagam as universidades americanas por cada académico europeu (incluindo russos) que convidam para dar aulas nas suas salas? à volta de 100.000 dólares por mês. façam o câmbio ou peçam ao guterres para fazer a operação. é obra!
(1) - (prom., 514, éd. wil.)
manuelmelobento

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