quinta-feira, 5 de julho de 2012

paulo rehouve de novo com varett



paulo rehouve:
pode comentar a decisão do tribunal constitucional que considera o corte dos subsídios de férias e do natal uma medida inconstitucional.
varett:
não! não quero complicações comigo nem quero ser fichado de novo. mas vou referir um facto histórico que aconteceu num país regido por um estado confessional. certo dia um tribunal religioso decretou que um tal olaf bin kline não morrera. considerou-o "no estado de vivo". porém,  por outro lado, reconheceu que ele estava de facto morto, por via de informação do médico legista. e tudo isto porque sendo o tribunal constituído por uma elite de intelectuais entendeu que devia, por um lado, agradar à família  (que rejubilou de alegria mesmo olhando-o impávido, seráfico e sem se mover) e por outro dar arquivamento a um processo-crime  movido pela autoridade competente. é que por engano  agentes secretos haviam matado um desgraçado que estava inocente, o que satisfez a contra-informação nacional  e suas teias estendidas no estrangeiro.
paulo rehouve:
bem, já que não quer assumir...
varett:
perdão, perdão! eu sou uma das vítimas do assalto. e como me constitui assistente não vou falar do que está em segredo de justiça.
paulo rehouve.
que acha acerca da inutilidade da austeridade que está a ser sujeito o povo?
varett:
estamos a ser governados por garotada. o pior é que essa malta já deu provas de que não está apta a levar o país para a estabilidade. sabe-se que quando se promove o desemprego, se corta na despesa e se aumentam os impostos que não há país nenhum que se aguente. tudo paralisa. o estado é por último tornado insolúvel, porque deixa de haver dinheiro para pagar os seus funcionários e também para pagar as despesas que faz. o que está na forja pode ser mais subtil. temos visto que este tipo de economia que se está a impor frente aos nossos narizes leva invariavelmente a uma ditadura. está só aparecerá quando portugal sair da união. note-se.
paulo rehouve:
que estará por detrás dos ataques a miguel relvas?
varett:
circo maravilhas! quem tiver a paciência de investigar o que se passou com o ensino nos últimos trinta e oito anos não achará nada de anormal o facto de um homem conhecedor dos meandros dos decretos tirar um curso num ano com férias e tudo o que elas implicam. por exemplo, os rapazes que  fizeram o serviço militar e que regressavam aos estudos podiam habilitar-se a fazer 7 (sete) cadeiras por mês. em medicina houve quem fizesse 27 cadeiras num ápice.  vai meter o dedo noutra próstata, aqui neste cu é que não metes. em história, mal chegou do ultramar um rapaz em ano e meio fez as montanhas de cadeiras que lhe faltavam. certo rapazote que esteve a trabalhar no canadá, inscreveu-se num curso nocturno donde tirou um diploma de "bachelor of arts" em três anos. pediu ao ministério da educação equivalência e obteve uma licenciatura em línguas e literaturas modernas que exigia a permanência na faculdade de 5 anos.  foi para o ensino, profissionalizando-se tendo como colegas em igualdade de requisitos os que tiraram o curso em 5 anos. num tal despacho 32/84 lia-se que professores primários podiam profissionalizar-se no 2º. ciclo como os licenciados pelas universidades. para tanto teriam de ter leccionado por um período de 5 anos. e porquê? porque tinha saído um decreto-lei que dava aos professores primários equivalência a curso superior de nível de licenciatura e bacharelato. tenho em casa fotocópias disto tudo. senão teria colocado uma fotografia para ilustrar o que digo. no entanto a capacidade para leccionar não pode estar no título académico, pois já sabemos o que valem (alguns). há mais! por exemplo, qualquer pessoa poderia requerer um exame no instituto britânico. este passava diploma no sétimo e no oitavo anos. só que (e isto passou-se comigo) podia-se perante requisição fazer o exame que julgávamos estar habilitados. isto é, se eu me propusesse fazer um teste do quinto ano e se tivesse êxito poderia inscrever-me logo a seguir no sexto ano. agora, veja-se o seguinte: pede-se para se fazer exame do sétimo ano e passando nele fica-se habilitado a dar aulas com a classificação de candidato com habilitação suficiente. um dia dava para tal. já no tempo do estado novo se podia fazer o exame de aptidão à universidade possuindo apenas a 4ª. classe. fazia-se exame a duas cadeiras nucleares e  uma de cultura geral. há quem duvide. mas para isso há o remédio da investigação. vou saltar senão não mais acabaria. tudo isto está na lei. na lei também estão os actuais créditos que bolonha instituiu entre nós. lembro-me de um grande cachorro me ter feito perder um ano só por causa de ter dito que a idade média fora 10 séculos de escuridão. estive um ano a apanhar bonés. e eu que até sabia todos os conteúdos da matéria. foi uma injustiça.  esse tempo acabou. já não saímos diplomados pela universidade e logo tomamos lugar numa secretária. mais, era só dar ordens e recebíamos em troca sim senhor doutor ou engenheiro conforme os casos. ganhávamos mais do que os outros trabalhadores. só tínhamos que vender a alma aos chefes. os grandes chefes e as suas ideologias imponentes...
paulo rehouve:
está com a corda toda! nunca mais acaba?
varett:
olhe, deixe que lhe diga mais o seguinte: quando alguém chegava a portugal (estou a  referir ao tempo de salazar) com um diploma francês, inglês ou americano não tinha hipóteses de trabalhar para o estado. mais, não tinha direito a usar oficialmente qualquer título académico. por exemplo, conheci um médico alemão que era uma sumidade e que tinha fugido a hitler. para trabalhar entre nós tinha que ter um médico que se responsabilizasse por ele. sabem quem? um joão semana que mal sabia receitar uma aspirina. agora para terminar. o que está em causa são dois aspectos. o primeiro é acabar com distinções absurdas entre os portugueses. os doutores e os engenheiros para um lado e para o outro o resto do poveco. na monarquia tínhamos o mesmo mas com outra designação.  nobreza com os seus brasões e condes por um lado e pelo outro o mesmo poveco. mudou alguma coisa? não! somos uma sociedade rural que desprestigia o fato macaco e curva-se aos engravatados. isso não muda nunca. quem em portugal admiraria a dignidade de um engenheiro que estivesse de fato macaco sujo de óleo a trabalhar com as mãos a chafurdar num motor a explosão? "isso é algum engenheiro?"
(continua)


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