sexta-feira, 6 de julho de 2012

oportunismos académicos... continuação da entrevista de varett



paulo rehouve:
será que o oportunismo tomou conta do país nesta democracia?
varett:
ouça! você parece um anjinho. e se dermos um salto no tempo? estamos - faz de conta - no tempo de salazar e cerejeira . a cambada - é sempre a mesma - que tomou conta do estado queria colocar na direcção geral de saúde e num bom tacho um "amigo" médico. que fizeram sem dar que falar? mandaram o amigo para o estrangeiro tirar uma especialidade de medicina que não havia nas nossas faculdades. a especialidade teve a duração de 6 meses. depois, abriram um concurso em que um dos requisitos para ocupar o lugar era precisamente a tal especialidade. quando em portugal não havia cursos ou especialidades de qualquer área os que possuiam diploma tirado no estrangeiro eram aceites para os serviços do estado. mediante aprovação da polícia política (note-se). isto quer dizer que todos os outros médicos foram papados e impedidos de concorrer ao lugar público. houve alguma ilegalidade na colocação? não! o que existe é uma questão de ética. e não creio que esta entrevista vá descambar para aí.
paulo rehouve:
se não vamos falar de ética, falemos de oportunismos.
varett:
assim, está melhor! ocorreu-me o seguinte: adquirir documentos sobre habilitações académicas não é coisa do outro mundo. por exemplo, você só tem a 4ª. classe antiga e quer arrelvar o seu currículo académico. mete-se num combóio ou num avião e quando chegar ao país (são três ou quatro para o efeito) dirige-se a uma unidade de ensino e pede para estudar à noite dado que trabalha de dia. sentam-no numa mesa e colocam-lhe um teste para ser preenchido com cruzinhas. depois, para seu espanto, dizem-lhe que se pode inscrever no curso tal e tal. (note que só tem a 4ª classe). como você tem de voltar para trás para não ser despedido do emprego na mercearia que o seu padrinho conseguiu para si, deve fazer o seguinte: procure imediatamente inscrever-se no tal curso (pagando a propina). a seguir pede um certificado do que fez e da inscrição que acabou de realizar. ok. volta para portugal. já está doutor? calma, ainda não. por vias das dúvidas você vai a uma escola secundária e pede para continuar os estudos. diz que foi emigrante e que estudou no estrangeiro. mostra o certificado. inscreve-se, por exemplo, no ensino recorrente. colocam-lhe por direito adquirido no 10º ou 11º ano dependendo da apreciação e disposição dos que "arranjam" as equivalências. no dia em que se inscrever pede um certificado na secretaria do estabelecimento para mostrar ao patrão. paga por isso alguns cêntimos. chega a casa e coloca o certificado na parede metido numa moldura que comprou nos chineses. porém, você é ambicioso e quer - já agora - ser tratado por doutor. ah, já sei (informaram-no)! na próxima ida ao tal país vai ao tal college e pede para falar aos professores do curso em que se inscreveu (dou-lhe uma dica. o que melhor calha para si é o master in business and administration). mister professor, eu (me) canote (can not) e mistura espanhol com inglesóide e explica que como imigrante teve que ir trabalhar para outro condado. no problema. yes you (can) take trabalho e depois mandar para myself dar nota. ok! understand me or not? você responde yes sir. volta depresssa para portugal não sem antes ter pedido a um primo que lhe vá enviando para os seus professores os trabalhos que uma amiga muito dotada encontrou numa biblioteca e que fez o favor de traduzir e que você utiliza para ser avaliado. passados dois anos (pode encurtar o tempo. mas como é um teso não o fará) de correspondênciacom os avaliadores  você obtém um diploma. pode metê-lo no cu porque a única coisa que lhe permitirá fazer é vender gasolina num posto americano. isto se o boss achar que você é capaz. traz o diploma para portugal. nem precisa viajar para o ir buscar. o seu primo encarrega-se de o enviar. mete o diploma numa universidade onde tem lá companheiros do partido na administração. tudo isto até aqui é legal. você continua a ser um homem sério. o que quer é ser doutor. para isso só tem de ter amigos colocados na chafurdice legal. o conselho científico composto por homens do partido achou que você deve ter uma classificação de licenciatura de 15 valores. o seu amigo de dentro da universidade telefona-lhe para o informar que o certificado de licenciatura já pode ser levantado. quanto ao diploma com selo de prata. bem, isso leva mais tempo. 15 valores? só! ora que porra. isso é muito menos que a nota do kiss my ass da união (um português feio e narigudo). você já  é doutor, sem qualquer dúvida, pois tudo o que fez está coberto pela legislação. começa a pensar que deve voar mais alto. toca a pôr o nariz no esquema e de repente grita! "heureka do arquimedes" quero ser doutor por extenso. no entretanto você despediu-se do seu antigo patrão e habilita-se a um concurso que o estado abriu. como, por acaso, o seu partido está no poder, logo você ficou em segundo lugar. se trabalhava pouco na privada, agora tem mais (todo) o tempo livre. informações é o que você precisa. já está! universidade para a terceira idade e outros que querem queimar o tempo. tanto  de dólares para a matrícula e já está você inscrito num phd. no fim de um ano tira-o como quem tira a caspa do cão morto do mandrake. claro que você já fala com os professores taco a taco. sabe que eles sem alunos vão limpar ruas ou retretes. na américa é assim, por exemplo. eu tenho uma universidade só minha disse um milionário americano que tinha feito fortuna a construir casas. e era verdade. o homem tinha de facto comprado um estabelecimento de ensino superior como o russo milionário também tinha uma equipa de futebol na inglaterra. a lei permite que você peça equivalência numa universidade qualquer (os estabelecimentos têm 60 dias para responder a esses pedidos). bem, encurtando. dão-lhe uma equivalência a doutorado muito mais rapidamente do que você viajar na 2ª circular de marquês até camarate. ah, eis que acontece que um dos professores doutores que dava aulas na "sua" universidade teve uns problemazitos por causa de umas espingardas metralhadoras o que foi  considerado (falta provar) tráfico de armas e teve que ir até ali e já volto. atenção agora: está, é o senhor doutor eee? sim. só um momento que o senhor professor doutor ggg quer falar-lhe. eh compadre! olha o compadre! sabe, precisava de lhe pedir um grande favor. diga compadre. estou aqui para isso. sabe, preciso de alguém que me venha dar aulas de tttt. será que o amigo podia socorrer-me nesta aflição. conte comigo. vai logo à loja de fazendas, bebidas e produtos lácteos tomar um tinto? já percebi. lá estarei às 8 em ponto. abraço. agora vou contar mais um caso. tudo o que aqui contei é tem procedimento legal. não há aqui qualquer golpe ilegal. ah! ah! é preciso notar. bem, um casal conhecido separou-se. a mulher levou os filhos para a américa e uma vez lá foi obrigada a colocar as crianças numa escola. em portugal o que tinha 13 anos ainda frequentava o 5º ano. o outro com 14 frequentava o 6º. ano. ambos não tinham aproveitamento nos estudos. na américa cada um foi para a sua turma respectiva conforme os canones locais. veio o inverno e eles choraram baba e ranho. resumindo, voltaram à pátria. uma vez cá chegados foram para uma escola próximo de casa. o que tinha 13 e que ia fazer 14 foi colocado numa turma do 9º. ano. o outro foi instalado  no 10º. ano. o que aconteceu? apresentaram na inscrição da escola os documentos da congénere americana, onde tinham feito testes... a direcção regional foi quem atribuiu as equivalências. ah, e não teve nada com partidos. tá? quem lida com a lei vai encontrar aberturas que permitem aproveitamentos que não lembrariam à  mulher do  diabo mais novo. está lá! sim, faça favor! olhe, daqui fala o professor doutor eee. queria reservar uma mesa para o jantar para sete pessoas. sim senhor, senhor professor doutor eee. eu fui lá espreitar. de facto estavam a jantar um grupo de professores doutores. o prof. doutor eee pagou com cartão multibanco. o empregado que o recebeu perguntou-lhe se podia ir a uma sua consulta, pois tinha um assunto grave. sim sinhor. olhe, aqui tem o meu cartão. lá podia ler-se: e....e...e..., por debaixo do nome podia ler-se: ena pá, tanto nome. mas o que mais me chamou a atenção foi aquela linha onde se lia: professor catedrático doutor.
(continua)

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