segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

partido comunista português isola-se na esquerda



jerónimo de sousa  deve ter feito o melhor discurso político que há memória desde que o país aderiu ao regime democrático. em linhas gerais: colocou o partido sozinho na esquerda  onde só cabem os trabalhadores e os pequenos empresários. trabalhadores , desempregados e pequenos empresários falidos  não têm em portugal quem - igual a eles se identifique com a sua luta - os represente sem mentir. jerónimo evitou a cassete dos operários e  camponeses, dado que estes últimos dão-se por satisfeitos uma vez que já não precisando de cultivar os campos recebem mensalmente um "vencimento" da segurança social, o que para eles é uma espécie de dádiva divina. quanto aos  operários, a coisa está a ficar incaracterística. o país está desindustrializado (25 empresas fecham diariamente) e - verdade seja dita - estão a ser despedidos aos cachos. pense-se nas centenas que estão e ser despedidos de norte  a sul  uma vez que os industriais estão a tentar fugir à falência real aproveitando a alteração da lei do trabalho da lavra da actual coligação. o discurso do líder comunista teve em conta a nova temporária-mentalidade-portuguesa fruto dos despedimentos generalizados, da fome de uns milhares e da insegurança que surgiu proveniente da  transformação e liquidação de sectores sociais do estado português por parte do grupo economicista que detém o poder executivo. o discurso de jerónimo de sousa, "operário" metalúrgico, tem muito mais importância ideológica do que aquele que mário soares, "burguês" enriquecido, pronunciou na fonte luminosa e que determinou o princípio  do fim da hegemonia de cunhal e dos "esquerdistas" modernaços que se infiltraram nas forças armadas (de então) e abriu as portas ao modelo capitalista europeu. o comunismo era visto em 1975 como um movimento sangrento que metia medo. toda a gente sabia pela propaganda do estado novo que na rússia - berço do comunismo sanguinolento - se matou toda a nobreza que não conseguiu fugir à sede de "justiça" social do "novo" povo russo. aquilo é que foi matar nobres e burgueses recheados. foi tão verdade que até a virgem qual astronauta viajou até fátima para pedir aos portugueses que rezassem milhões de avé-marias pela conversão da rússia. cá dentro foram muitos os desvarios dos populares que o partido comunista, encantado com os voos da revolução de abril, acabou por dar o seu aval. cunhal bem tentou ter as forças armadas do seu lado para cobrir a gesta da plebe. esse apoio falhou e os comunistas liofilizaram-se em eleições (uma maldita invenção burguesa e grega/inglesa de origem se não estou em erro). hoje, essa coisa de ocupações e assaltos às residências de proprietários é condenada pelos actuais comunistas. o que os comunistas de hoje mantêm do passado revolucionário é o facies de poucos amigos. de resto, jerónimo é um diplomata bem visto por milhões de portugueses. jerónimo ao querer que o partido socialista voltasse ao redil da esquerda estava a denunciar a traição dos socialistas. o que já vem de longe desde que mário soares meteu o socialismo na gaveta. o bloco de esquerda não conta neste momento. a inglória saída de louçã arrumou de vez com a esquerda caviar substituindo-a por um casal em dueto pró-paulista (1): combate aos banqueiros como a dona jonet combate os pobres atrevidos e gastadores. portanto, o discurso de jerónimo representou o mapa real e ideológico do país. e sem que ninguém se lhe oponha, ele e o seu partido são a esquerda. quem ouviu  jerónimo e está pronto a segui-lo? esta pergunta é imbecil. mas, pode-se tentar responder. há o eleitorado comunista que começou por andar à volta de 800.000 mil almas. perdão, materialistas, em 1976. neste momento, com um milhão de desempregados é de crer que grande parte deste pense duas vezes se vai cair novamente nas patranhas dos partidos da burguesia capitalista. que são a saber, o ps, o psd e o cds-pp. estes sabem que só sobreviverão metidos numa europa onde o mercado é livre  e quem manda nele, os banqueiros, que nela  pontificam. depois, temos todos aqueles que querem ser protegidos pelo estado nas três áreas (segurança social, educação e saúde) que passos e companhia estão a rendibilizá-las e a empurrá-los (a ex-classe média) para a indigência. já há números de quem passa fome. entre ser pobre sem protecção e abrigar-se num estado social de cariz comunista nem é sequer preciso pedir ao diabo para aconselhar a decidir. o discurso de jerónimo é um meio de esclarecimento e uma mensagem forte  do que pretendem fazer com o estado os comunistas: olhar para  segurança dos trabalhadores, dos pequenos comerciantes e empresários, independência nacional (até o hino foi cantado com sabor panlusitano e emoção... no fim do último congresso). os ricos ficaram de fora da função apelativa da palavra de jerónimo . pudera, no meio de tanta miséria à vista quem é que vai querer fazer festinhas àqueles que ofendem com a opulência dos seus sinais exteriores de riqueza e que estão a contas com a justiça? jerónimo falou para todos aqueles que perderam a casa e tudo o mais e que se vêem na iminência de ir viver para debaixo da ponte. em quem irão votar esses todos, a quem o capital até a dignidade vendeu? jerónimo sabe que se este  governo cair que não terá sorte nas urnas em novas eleições  e que iremos cair de novo nas malhas do rotativismo. daí que tenha feito um convite bastante discreto ideológico e directo para que os socialistas sejam socialistas... os socialistas são hoje ecomercadores. estão contaminados pelo dinheiros do estado e pela vida de luxo (sim, vida de luxo comparada com aqueles que sofrem por já não poderem pagar a mensalidade da casa, do carro, educação dos filhos, etc.) não está no horizonte do ps desistir das mordomias conquistadas com trapaças, mentiras e negociatas. os socialistas estão tão bem instalados  tanto quanto estão os social-democratas nos corredores do poder e do capital. não sairão de lá senão à lei da bala. estão a ver, caros leitores, os actuais socialistas que vivem descaradamente no bem-bom que este estado lhes proporciona a recobrar as velhas teses marxistas que lhes serviram de bíblia e com as quais atacavam o capitalismo? não é viável devido ao seu comprometimento actual e por isso a esquerda de hoje é assumida e representada apenas pelos comunistas, valha a verdade. a grande vitória dos camaradas e de jerónimo reformula-se  na implantação das "novas" teses sociais que vão desde o respeito pela propriedade privada até à aceitação de uma luta sem violência contra a  democracia burguesa da união europeia tendo como meta para já o manter o estado social em vésperas de dar o salto para a privada. os comunistas, que combatiam ferozmente o estado social regulado tanto por socialistas quanto social-democratas, são os mesmos que o querem, agora, manter em nome da defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo. este entendimento do pensamento político dos comunistas é caracterizado pelo salto por cima da velha orientação, práxis que não se ajusta aos dias de hoje. os comunistas estão bem acomodados e aceites dentro do sistema e é nele que o querem combater. fazem-me lembrar a velha estratégia dos liberais (pinto balsemão, mota amaral, sá carneiro, martins mota, etc) quando , em vez de combaterem a ditadura frontalmente, preferiram fazê-la implodir fingindo com ela colaborar para a contaminar. bem, termino. mesmo sendo semi-burguês vou votar nos comunistas nas próximas eleições (se as houver) porque estou de acordo com as suas teses a favor da manutenção de um estado social português equilibrado, da sua postura pelo respeito dos dinheiros do estado, da defesa intransigente de quem trabalha e de quem trabalhou e que está a ser enganado, da apresentação do modelo nacionalista que saiu das frases de jerónimo, da justa remuneração de quem trabalha e mantém este país vivo, da justa atribuição de impostos aos que mais têm para que a riqueza de alguns não se transforme num foco de instabilidade tão ao jeito dos países das ditaduras da américa latina sustentados pela política externa dos eua. o programa deste partido comunista português não esconde as preocupações da maioria da população. a nova mentalidade a nascer por via deste esfarelar anti-social das instituições vai abrir portas às actuais teses comunistas, a médio prazo. a ver vamos o que tenho na carteira, como dizia a minha avó perante os emergentes pedidos de ajuda que eu lhe fazia. em escudos, está claro.
(1) - inspirados pela acção meritória das vicentinas.
manuelmelobento
ps: recebi uma reclamação telefónica por causa de estar sempre a mudar de foto e a colocá-la ao lado das crónicas. respondo: a máquina de fotografia é minha e está paga, o computador é meu e está pago e utilizo a internet porque pago mensalmente sem falhar (por enquanto) a prestação dos seus serviços que me permitem (até hoje) escrever crónicas livres. a mim chamam-me reaccionário. algum problema?

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