quinta-feira, 1 de março de 2012

nasci na porra de um regime de ordem religiosa militar

esta foto é de 1945. ponta delgada-açores.
em casa de meus pais só faltava marchar e rezar fora do horário oficial das rezas.
meu pai foi militar português até aos meus sete anos de idade. minha mãe foi sempre muito religiosa. era sobrinha do ouvidor da matriz da cidade onde nasci. um padreca que escreveu uma coisas e parece que era maçónico. descoberta feita por um antigo director de um órgão de comunicação social casado com uma parente de minha mãe. fui obrigado a rezar ainda antes de ser essência e o sartre andar a papaguear existência longe da frança. e, também, a chupar com o deus dos judeus que se ocidentalizou e veio descaradamente substituir os velhos deuses celtas de boa memória pois eram pródigos na libertinagem. ai que bom! mal comparando, era uma espécie de ordem religiosa e militar o meu ambiente doméstico. de manhã, rezava-se em casa (mais tarde acumulava-se na escola e não eram consideradas horas extras o tempo das rezas. era o pacote da altura). à noite, outra vez de joelhos em frente ao minúsculo altar onde pontificava a sagrada família entre outros objectos que levavam muitos beijos. só mais tarde é que vim a perceber onde estava o sagrado: o pai do filho não era pai dele. só a mãe era de verdade mãe. o filho era deus e filho deste ao mesmo tempo. a mãe não podia dormir com o que se dizia ser pai da criança porque - imaginem - ela era virgem. muita bofetada levei porque nunca consegui entender este atentado à logica do sexto e sétimos anos do secundário esticados pelos anos de filosofia da faculdade cheio de grandes pensadores fidelistas. era cada fédon que leccionava a disciplina que mais parecia ter acabado de sair da mitológica caverna do que de um convento. como vestiam à civil só mais tarde vim a saber tratar-se de intermediários directos do divino. até hoje estou por perceber como é que um pobre diabo meio louco (mas também visionário) e que gostava muito de mulheres conseguiu ressuscitar e subir muito para cima da torre do galileo. ah, estava a esquecer que ele é deus (reconhecido 4 séculos depois pelos notários de trento). tá bem, sendo assim, pode voar de graça. voltemos aos anos quarenta do século passado. não sei como, não entrámos na segunda guerra. eu creio que não havia dinheiro e o mestre doutor salazar aproveitou em seu favor o facto de se apregoar ter sido ele quem nos livrou daquele horror. mas mesmo assim enviou trinta mil homens para os açores. era tropa por tudo que era sítio. eu ainda me lembro de ver soldados e cavalos. meu pai montava uma égua castanha muito nervosa. se calhar era dos nervos e por ter medo de ir enfrentar o grande exército alemão. foda-se! escapámos de boa. e a pobre grécia que foi invadida pelas botas do hitler e que claudicou violada como uma fêmea com cio?... claro que muitos homens de fora nos açores ia dar merda. e deu. o português bem falante, magro/moreno de dieta forçada e elegante contrastava com o açoriano de são miguel que era a puxar para o baixo e vivo à base de inhame, amido, couve aferventada e pouco dado a faladuras. também, diga-se que o regionalismo dos coriscos não ajuda muito pró engate. falamos um português com boca de francês quando faz sexo oral. quer dizer: percebe-se muito pouco aquele tipo de grunhido antropomórfico. as mulheres açorianas são sensíveis a uma boa prosápia. são também filhas do deus. bem, crias foram muitas o que renovou imenso o sangue dos ilhéus. houve pancadaria de criar bicho por causa dos ciúmes indígenas. uma vez ia acontecendo mortes. lembro-me de ter ouvido uns tiros e meu pai ter-me dito que um alferes tinha sido ferido. a arma disparou-se. bem, e ainda o solnado não dissertara sobre a guerra. o tesão além de ser uma coisa divina tem muita força. alturas houve em que se esperou uma invasão germânica. luzes apagadas! os faróis dos carros tinham uma espécie de papel higiénico furado para não serem detectados pela aviação inimiga. agora assim considerada pois sabe-se que o sacana do salazar era todo germanófilo e foi obrigado a apoiar as democracias. sabia o velho sábio que a democracia correria com ele do poder e que a igreja levaria um chuto no cu como no tempo do carrasco afonso costa, o inimigo número um dos grevistas e da igreja de roma por cá estabelecida. porém, os aliados que não deixavam de ser uns bons filhos de puta tendo à cabeça o bêbedo e impotente do churchill permitiram e auxiliaram que a ditadura fascista permanecesse e perseguisse todos os democratas portugueses por seu próprio interesse: não queriam que houvesse desestabilização política na europa. e, assim, deixaram que os fascistas permanecessem no poder oprimindo o povo. eh pá, foda-se! até a guarda nacional republicana fazia fogo de bala contra camponeses que reclamavam ganhar mais um escudo por dia para poderem matar a fome. têm no seu curriculum a morte de mulheres grávidas. chefiavam - essas forças de repressão - militares que tinham escapado à guerra. portugal foi, em certo sentido, uma espécie de síria novilatina. imagine-se o que os aliados deixaram que aqui se fizesse: um rapaz estudante num café deu vivas à liberdade. apanhou 3 anos de cadeia. é mentira? pois leiam quais os motivos pelos quais fora criada a amnistia internacional e vão ver este caso na sua origem. bem, vou tentar dar a volta ao texto pois está difícil uma vez que optei por este tipo de descrição (a)domesticada. depois da segundo guerra houve muita fome por todo o portugal, açores incluídos. rapou-se muita fome por esssas aldeias. as famílias dos portugueses eram muito numerosas. eles faziam sexo sem planeamento porque a padralhada lhes metia na cabeça que iam para o inferno se só procurassem prazer. havia que procriar mão-de-obra para o cultivo da terra que não lhes pertencia. a maioria não retirava com o fruto do seu trabalho escravo (o suor era de sol a sol) proventos que desse para alimentar as crias. era tanta a maldade e ganância dos que tudo tinham e possuiam que metia dó. até 1974 a vida foi dura para quem nada tinha. o futuro era coisa desconhecida. também, quem queria pensá-lo com a barriga vazia no presente. termino já. um dia um desgraçado foi roubar à noite bananas para alimentar dez mamíferos. não voltou nunca mais a casa. levou com balázio. sem poder roubar, sem trabalho e sem poder emigrar que vida da porra. não podiam emigrar porque os donos das terras exigiam ao poder político mão-de-obra barata não permitindo que fossem viajar (?) com passaporte. por outro lado não tinham trabalho. o desespero era tanto para emigrar que uns até construíam barquitos (manuel ferreira, o barco e o sonho) e atiravam-se mar adentro ensombrando os feitos de cabrais, gamas e dias. quase trinta dias no meio do mar à espera de uma salvação ou milagre, no seu dizer. outros. e isto é mais grave. tive conhecimento do que se passava ainda não há muito tempo através do historiador professor rainer daenhardt director do museu luso-alemão. (a minha ignorância...) a 15 kilómetros de onde moro existe um local que se chama ponta da galera. o que se passava aqui? os micaelenses desesperados pela falta de trabalho e pela fome atiravam-se mar dentro e a nado procuravam ser repescados pelos grandes navios que se dirigiam para a américa. calculavam o tempo que aqueles passariam pela ponta da galera e toca a mergulhar. os que conseguiam ser vistos salvavam-se. os outros? bem, conclua o leitor. dedico este texto a um filósofo de esquerda com quem tenho divagado burguesmente questões de que todos têm responsabilidade.
afonso gonçalves: daqui um abraço.
a temperatura está a 18 graus e o sol descaradamente a bater-se às miúdas na tentativa de as descascar muito antes do verão.
varett

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