no período que vai desde 1928 (data em que salazar entra para a pasta das finanças) até à saída de josé sócrates de são bento em 2011, portugal adaptou-se a duas ideologias orientadoras. vejamos com um pouco de paciência os dois períodos. peguemos num pequeno exemplo para darmos início ao nosso raciocínio. a primeira república criara a escola superior do magistério primário, onde os estudantes se formavam em ensino superior. este tipo de formação cria um elite de professores que está apta a preparar mentes para altos voos. eh pá, a exemplo de países que nos habituámos a chamar de civilizados. salazar e o seu grupo, a primeira tarefa que tiveram na área da educação foi acabar com as escolas superiores de educação dando origem ao que se conhece por obscurantismo. as escolas superiores do magistério passaram a escolas do magistério primário. estas passaram a fornecer ao país professorinhas sem nada na cabeça. eram uma espécie de freiras que podiam casar desde que os pretendentes tivessem "bons" empregos. para não as chularem, assim determinava o estado novo, por lei. ensinavam a rezar nas escolas e tinham a enfeitá-las por detrás (uma espécie de sexo oral em abstracto) um crucifixo acolitado por duas fotos. uma de salazar e outra de um velhinho simpático (carmona). ah, e ensinavam as primeiras letras muitas vezes à base de pancada. sou testemunha. com o 25 de abril, voltou-se à velha forma e em vez de se criar escolas do magistério optou-se por se formar os futuros professores primários no ensino superior de nível universitário. em relação ao ensino de engenharia o que fez salazar e o tal grupo? engenheiros auxiliares (que se formavam nos institutos politécnicos) passaram a agentes técnicos de engenharia, tendo os institutos onde se formavam sido transformados, na forma, em institutos de estética. no entanto, mantiveram o nível de exigência de ensino pois havia poucos engenheiros licenciados pela universidade e era preciso mão-de-obra baratinha. professores primários (eram na quase totalidade mulheres) e agentes técnicos caíram num fosso sem fundo na escala social. veio o 25 de abril e com ele a retoma das antigas prerrogativas. entre professores primários e professores de liceu ia uma distância mais comprida que a ponte salazar. entre agentes técnicos e engenheiros, o que os separava caracteriza-se pelos cargos de chefia que eram sempre atribuídas aos segundos. repare-se como funciona a ideologia. o estado novo caracterizava-se por um sistema hierarquizado. assim criou-se o ensino liceal que dava acesso às universidades estas, depois, forneciam a classe dominante. em paralelo ao ensino liceal surgiram as escolas técnicas que formava uma espécie se cidadão de segunda. se o aluno quisesse prosseguir estudos era canalizado para os tais institutos de cosmética, digo eu. claro que se um estudante fosse inteligente podia alcandorar-se para o ensino universitário. para isso bastava perder dois anos lectivos num instituto para depois se abalançar para a universidade, indo inscrever-se no primeiro ano. só grandes batalhadores se aventuravam a tanto. isto para se dizer que o estado novo dividia os cidadãos numa de camuflar a tal trilogia nacional: clero nobreza e povo. com o 25 de abril e o advento da democracia havia que destruir esa grande clivagem que existia na sociedade lusitana. a própria igreja teve um papel fundamental no sustentar das teses da separação das classes. manter os pobres como pobres e criar neles o respeito pelos de cima. fizeram-no com êxito, as cabeças dos indígenas adaptaram-se rapidamente a esta sujeição. repare-se na insegurança no emprego. no regime salazarista qualquer empregado era despedido à velocidade da luz. e isto para não esquecer que as classes existiam distintas e havia as que mandavam e outras que obedeciam. os verdadeiros regimes democráticos (socialistas) apostaram na reforma das antigas instituições. gastou-se muito dinheiro em educação. principalmente no governo de sócrates com a criação do parque escolar que ninguém percebeu. aliás, está a ser combatido ferozmente por causa das derrapagens do costume. como se só houvesse derrapagens na educação. este ataque cabe agora a este governo de direita que vai - faz parte da sua ideologia - acabar com o "descalabro" educacional. sócrates quis colocar computadores ao alcance de toda a população estudantil. eh pá, que crime. até, uma certa esquerda (a da merda) combateu a medida. é que, apesar de tudo a alteração que uma certa esquerda levou a efeito tinha justificação à luz do progresso. quem, hoje, procurar fazer uma leitura ideológica, vai encontrar semelhanças arrepiantes com o que este governo de passos está a tentar realizar. salazar procurava manter o estado novo ligado às famílias. para isso proibiu os divórcios entrando de conluio com a igreja através da concordata. como o povo português é facilmente levado devido à sua falta de ginástica mental, não foi fácil criar o preconceito de ostracismo contra os filhos que eram ditos e feitos fora do casamento. esses não tinham direito a paternidade. ai daqueles que se casavam só pelo civil. eram olhados de lado. a igreja de cristo era a primeira a amaldiçoá-los (ora que porra). até aqui um milhão de portugueses eram olhados como párias. lá tínhamos outra vez uma perspectiva de dois tipos de cidadão. veio o 25 de abril e a coisa recompos-se. toda a gente passou a ter direito a ter pai e mãe. eh pá, bem bom. na economia, os escalões eram bem claros. um pequeno grupo de privilegiados arrecadava a maior parte da riqueza produzida enquanto que o resto andava aos miolos. grande parte da população trabalhava por conta de outrem sem garantias e desrespeitados pelo sistema. veio o 25 de abril (na parte boa, pois muito filho de puta de esquerda sabotou o regime que parecia ser a alternativa ao fascismo lusitano) e com ele a segurança e uma maior repartição de benesses até então distantes de povo trabalhador. enquanto uma ideologia procura separar a outra procura diminuir as diferenças. tanto uma como a outra se aplicam nas suas estratégias. estas incidem no ensino, na religião, na política, no desporto, etc. no estado novo os "representantes" do povo (não passavam de representantes do regime) pronunciavam-se sempre a favor das directrizes políticas institucionalizadas e votadas em 1933. no estado democrático os representantes do povo actuaram no sentido da criação de um estado de direito. só que isso foi música de pouca duração. o capitalismo comprou tudo e todos. o capitalismo transformou os representantes do povo escolhidos pela liberdade do voto dos ignorantes e dos confiantes ingénuos em verdadeiros lacaios dos grandes senhores dos negócios . uma vergonha! as ideologias estão corrompidas. penso que, bem, não penso nada pois posso de repente disparatar. eh pá, mas isto não tem solução? acho que tem, mas é preciso encontrarmos uma nova cultura de ideologia. é preciso criarmos a generalização da mesmo nas nossas mentes. é que isso permitiria estarmos vigilantes. vigilantes na medida em que não deixaríamos que houvesse desvios a um programa nacional. é disso que se trata antes de pensarmos viajar para uma europa tão próxima e ao mesmo tempo tão desconhecida. temos de nos transformar num sindicato abrangente onde cada um se sinta sindicalista. é a unidade que está em causa.
manuel melo bento
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