sábado, 16 de janeiro de 2016

exame é uma questão social. a sua extinção na prática mais não é do que destruir barreiras entre as classes

quem defende que o ensino deve ser testado por meio de exames, defende a separação de classes sociais. não é fácil explicar como é que ela se dá. vou tentar. supúnhamos que entram para o primeiro ano do ensino básico maunel serafim e jorge crato. o manuel chega pelo seu pé no primeiro dia de aulas, enquanto o jorge  vem acompanhado pela mãe que até entra no edifício escolar para cumprimentar a professora. manuel habita uma casa com os pais, três irmãos e uma avó. um apartamento social com três divisões acolhe-os. cresceu brincando com os irmãos tanto em casa  quando os pais estavam no trabalho como no parque infantil que a junta de freguesia construiu. o pai operário e a mãe empregada doméstica pouco lhe ensinaram. a sua escola doméstica dividiu-se pelo que assistia na televisão e pelo que via os irmãos fazer. às vezes as brincadeiras acabavam  à chapada e ao sopapo. por acaso o pai não era homem de copos. tinha o vício do benfica.. muitas vezes batia na malta para impor silêncio. uma dessas vezes foi quando  na tevê o benfica estava empatado com o estoril. jorge crato tinha só uma irmãzita. cada um tinha quarto próprio. uma empregada doméstica diária limpava e cozinhava para eles. jorge aprendera a tocar piano muito cedo e sem ser um virtuoso levava muitas palmas em dias de aniversário. a mãe, médica, trabalhava só no setor público, enquanto o pai, engenheiro, desde que se filiara  ao centro já comia uma direção geral também no setor público. agora vou apelar à inteligência da minha leitora e alguns ameaços... passados 18 anos deparamos com o manuel serafim formado em medicina com uma carreira meteórica pela frente. também se filiou num dos do centrão e a coisa promete. um tio que é também seu padrinho é diretor clínico, etc. quanto ao  jorge crato, fomos encontrá-lo a servir à mesa num restaurante da beira rio. os pais, o senhor engenheiro, e a mãe, a senhora doutora, estão encantados com o jójó.  trabalhador incansável, até está a pensar na compra de um apartamento. só aguarda que a namorada arranje emprego fixo para que o banco lhe permita um empréstimo. dava para escrever a sério sobre esta questão mas era atirar pedras a porcos. e eu vou comer umas frutas e papar uma hora depois uma sopa de legumes aconchegada com um queijo fresco que eu faço sem que ninguém saiba. beijinhos a quem quer os exames para separar a ralé de gente que é gente. ora porra!
ps: nada a declarar pois sei que há gente que ainda raciocina. e este texto embora liofilizado aponta minimamente para o céu. dos ingleses, está-se mesmo a ver!
mmb

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