sexta-feira, 28 de setembro de 2012

estas manifestações são contra ti, ó estúpido!


quando em 1958 o general humberto delgado foi convidado pelos opositores do regime salazarista a candidatar-se à presidência da república as manifestações de apoio não se fizeram esperar e mostraram-se sem cerimónia contra o regime semi caduco que se mantinha de pé e de saúde graças à igreja católica e às suas negociatas. só na cidade do porto uma enorme multidão com cerca de trezentos mil pessoas encheu a praça carlos alberto vitoriando o mais tarde designado general sem medo. o regime do bondoso ditador, acabado o período eleitoral - cujos resultados, segundo a oposição, foram uma verdadeira fraude - pôs os cães de caça a farejar os "comunistas" (eram assim designados os que se lhe opunham, de entre eles estavam os católicos do largo do rato). despedimentos e prisões foi o resultado da caçada. muitos emigraram porque cá dentro não havia hipóteses de sobreviver. américo thomaz foi eleito e o país entrou novamente naquela paz saloia que era muito bem interpretada nos palcos do parque mayer (única oposição permitida nos subentendimentos). o país vivia numa paz caracterizada pelo amor ao fado, ao futebol e a fátima (mais ou menos o que é hoje). as terras do interior de portugal estavam desertas (como  hoje se encontram) e havia muito velho e criança pelos cantos e fontenários. os pobres (que os havia em profusão) estavam domesticados e treinados a passar uma certa fominha. lembro-me de ouvir falar em pão com azeitonas como refeição e até de quem - para matar a fome -  beber azeite. o milagre de não haver gente a morrer à míngua deveu-se às divisas enviadas pelos  portugueses que trabalhavam na alemanha, na frança e no luxemburgo. isto é, era com este dinheiro que muitos mataram a fome e até construiam a casita dos seu sonhos (pobre não tinha casa). para o regime as divisas dos emigrantes eram uma receita do melhor que havia cá dentro. o regime imponha-se mais pelo medo psicológico do que pela repressão física, tipo síria. ajudado, claro está, por uma enorme quantidade de bufos que surgiam debaixo dos pés como as codernizes entre o trigo. nos "períodos de paz" , o regime só não dormia descansado com os universitários. pois estes, como é seu hábito, gostavam de se fazer políticos de oposição para depois se agachar nos tachos que o bom ditador preparava para eles se calarem. e não era preciso muito para tal. os oposicionistas, por exemplo, tipo irmão do professor daniel sampaio que foi presidente desta república vivia muito bem dos ganhos como advogado. o regime dava para todos. os oposicionistas mais apressados e que desejavam alcançar cargos políticos que lhes estavam vedados pelos fiéis e que se ponham a armar aos cucos eram despachados para a prisão (no máximo 60 dias numa boa) ou degredo. eh pá, o santo ditador queria um país pobrete, alegrete e pacífico. era o que estava a dar na altura. salazar que governava apoiado pela igreja e pelos grandes capitalistas permitiu-se durante 43 anos abafar qualquer tipo de manifestação que fosse para além de uma simples peregrinação onde o avé... avé... não apresentasse mais do que 12 decibéis. e porquê? porque o poder  da igreja e o alto capital  assentam em forças repressivas, desumanas e criminosas , ao ponto de não considerarem os direitos fundamentais dos indivíduos. uma simples reivindicação para melhoria de salário dava direito a chumbo. assim se matou, por exemplo,  no alentejo uma mulher com o filho ao colo. estávamos no ano de 1954. todos os crimes do estado novo foram sempre abafados quer pela igreja que era o cúmplice número um e o grande capital que não permitia dividir as grandes margens de lucro (uma coisa parecida com o que se passa agora). bem, com  manifestações ordeiras umas, abafadas outras assim assim se chegou ao 25 de abril de 1974. aí, meus caros, ninguém mais segurou a multidão e foi um tal ver autoridades ex-repressão a apoiar grupos de manifestantes que derrubaram e assaltaram  propriedades antes invioláveis. outras autoridades também ex-repressão para não ficarem de braços cruzados se dispuseram a dar cobertura a outros tantos manifestantes. uns assaltavam e ocupavam enquanto outros queimavam e destruiam tudo pela frente. uma espécie de guerra civil (25 de novenbro de 1975) à portuguesa à hora do copo e dos caracóis. atenção, o melhor é fugir da frente! o senhor 1º ministro não é tolo nenhum e sabe que o português só fará manifestação tipo assalto à embaixada de espanha (27 de setembro de 1975) quando tiver as costas quentes. até lá passos vai-se guardando com os pretorianos que estão a tomar ares de uma certa força especial muito violenta. que o diga o repórter de imagem da tvi. acabado o ciclo do euro tal qual se acabou o ciclo da pimenta vai restar a passos, a cavaco e a mais alguns a ilha do corvo. a madeira está fora de questão. isso era no tempo que madeirense era casca grossa. agora, embora continue casca grossa está politizado. é perigoso fugir para lá. ah, e um "otelo" ingénuo a  aparecer nestes tempos que correm, já era!
mmb

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