no tempo em que o partido da democracia cristã era perseguido, aceitei presidi-lo na região autónoma dos açores. o meu programa pessoal era o de libertar o território insular das bestialidades centralistas dos representantes do povo português; uma espécie de chulos desidratados que apareceram com um biberão na boca depois da queda do regime cristão-salazarista e que por meio de embustes burgueses se fizeram eleger protegidos pela ignorância dos eleitores. para libertar o povo ilhéu é preciso libertar - em primeiro lugar - os oprimidos. ingenuamente assim pensava eu ao tempo. o povo quer-se oprimido! bem, mas isso é outra história que não vem ao caso. continuando, pois daqui a pouco dá-me o sono. ora, ser democrata-cristão, na altura, era ser-se fascista. por acaso, e só por acaso eu não sou fascista. é uma chatice, mas é a verdade. então, e muito sagazmente, engendrei um programa para o partido se apresentar às eleições. e eu, claro, como seu cabeça de lista. curriculo? tinha saído da prisão por tentativa de assalto (não fora bem assim, mas deixa estar) e tinha sido amnistiado por uma lei emanada da assembleia da república que abrangia crimes político-militares (1979), e como tal o meu crime (eram vários) tinha sido considerado. adoro portugal e é por isso que me deixei de separatismos. ah, e era professorinho (como professor não faltava às aulas embora estivesse ao abrigo dos direitos dos candidatos em campanha o poder fazê-lo. uma espécie de o que é dos copos aos copos pertence e o que nos faz comer de consciência tranquila (trabalho) não se confunde. estava limpo! ah, não fora militar nem dera tiros em ninguém. no tempo em que havia a pide eu - embora nunca tivesse cagado fininho - tive muito medo. um dia um filho de puta de um comuna do meu bairro pediu-me para esconder umas malas durante um certo período. uf, que cagaço! nem quis saber o que elas continham. não sou bisbilhoteiro. é um defeito num país de intriguistas. eu era de esquerda? não sei responder. era mais anarca se assim se pode dizer. é que para mim a política vinha logo a seguir ao vinho, às putas, ao jogo,à musica, à amizade, etc. e só muito lá no fim é que eu dava um jeitinho. era um gajo normal? não me estava a ver a trabalhar para um futuro tacho. era coisa que não me passava pela cabeça. não era por taí que me seduziam. a minha vontade era ser pintor. mas chumbaram-me nas belas artes de lisboa por ser um nabo. isto mais parece a história da carouchinha em cuecas à espera de ser enrabada. bem vamos ao programa do partido fascista que estava a meu cargo. copiei as teses do partido comunista e apliquei-as nos discursos e na campanha. combati as grandes riquezas regionais, a banca e outras organizações que a igreja na altura abençoava e os políticos açambarcaram. e os filhos de puta da comunicação social regional sempre a tratarem-me com se fosse da extrema-direita , ah, e outros filhos de puta de outros partidos. mais, o programa do pdc escrito e passado a stencil era vendido por cinco escudos. se tivesse a minha assinatura pespegada passava a sete escudos e cinquenta centavos. ainda se vendeu alguns sem assinatura. o eleitorado açoriano é esperto, filho da puta. por exemplo, vota no cavaco silva que quer dar continuidade à menoridade dos povos das ilhas. eu, hoje, até que acho que ele faz bem. aquela trampa de elitorado não merece mais do que chicote. ah, mas o mais engraçado é que o pdc conseguiu ser a força política mais votada fora do "parlamento açoriano". está entre aspas para dar ênfase à sua importância. certo dia, um homem da igreja católica atirou-me do passeio do lado contrário: tu não acreditas em deus e andas a pregar horrores no partido cristão. era verdade! a partir de certa altura deixei de acreditar em baboseiras e mitos religiosos. faz-me confusão de como os humanos acreditam em deuses de forma humana e nos seus desvarios sexuais com virgens. o raio do deus que os cristãos ocidentais escolheram não é que fornicou uma virgem e bonita e ainda por cima fez-lhe um filho. eh pá, tem dó. eu sou sub-humano. não dá para entender os doutores e sábios que beijam o cu às estatuetas. para acabar. passados os actos eleitorais e das vitórias morais, eis que sou acusado de ter obtido votos de velhinhas beatas que julgavam que o pdc transportava a palavra divina. de facto, numas eleições posteriores o número de votos decresceu e muito. não que elas não quisessem votar na democracia cristã (eram fanáticas), deu-se o caso de terem morrido. ah, fizemos a campanha com apenas 175 escudos. e mesmo assim ainda cresceu algum. cada fotocópia dava lucro. que fizemos do lucro? não utilizámos os bancos suiços. bebemos umas cervejolas. ai foi tão bom!
ps: não coloco o jornal do dr. eduardo brum no rol da comunicação social açoriana. brum representou - durante dez anos - a primavera da liberdade de expressão numa terra de mentes feitas por uma "sabedoria" que em vez de subir é imposta de cima para baixo. os povos que resultam dessa "pedagogia" são muito pequeninos.
manuelmelobento
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