farsa: o raspar da fazenda
(argumento)
a falta de dinheiro no país que foi à india, no passado século xv, para levar a palavra da santa madre igreja e trazer na volta - nos porões das caravelas - droga para vender à europa fez com que pedro passos coelho tivesse vendido todos os palácios onde se estabeleciam os ministérios. como o dinheiro da venda só deu para pagar as dívidas, os ministérios passaram a actuar ao ar livre. porém, sempre que havia conselho de ministros, passos coelho mandava o relvas negociar o arrendamento de uma tenda aos ciganos do largo da feira da ladra. estes, arrendavam a tenda mas exigiam uma fiança. foi por isso que a custódia de belém foi vista a ser leiloada pela sotheby´s, em londres.
(reunião ministerial na tenda)
passos - está frio. quem me passa o licor beirão?
relvas - chamando viegas (que fica à porta da tenda por ser só secretário da cultura), traz meia de licor!
viegas - não esquecer que tudo aqui é a pré-pagamento. fiado só amanhã.
(passos ouvindo a conversa, começa a procurar nos bolsos)
passos - (dirige-se a relvas) toma lá dois euros e paga a esse lírico o licor.
relvas - (trazendo o copo "meio cheio") toma lá!
passos - que é lá isso! o copo está meio vazio!
relvas - ele disse que já estão incluídos os 23%.
vitor gaspar - ah, assim é que é falar! (para viegas) passa para cá o iva.
(viegas sai da barraca e vai procurar arranjar trocados para fazer contas com o ministro das finanças, mas dá de caras com um tipo alto vestido de preto que vem do ccb e que lhe aperta o pescoço)
viegas - socorro! acudam, é o da mona lisa!
vitor gaspar - lá se vai o iva.
homem de preto - (ainda abanando o pescoço do da cultura) onde está esse vitor raspar que é para lhe fazer o mesmo.
ministra teixeira da justiça - ai que horror! quem trouxe para aqui (aponta para o lençol que está sobre a relva e que substitui o tampo da mesa do conselho) um ratinho?
ministra assunção cristas - é um coelho de criação para lançar no alentejo.
paulo portas - (que ri descontroladamente) vitor raspar! vitor raspar!
ministro crato da educação - aquele senhor (o da mona lisa) deveria ser reavaliado no seu português. não é raspar é gaspar. digam isso a ele, isto se ele quiser concorrer a um lugar no ensino.
macedo das polícias - di-lo tu que eu tenho os agentes em greve.
ministra teixeira da cruz - quantas caixas de multibanco esta semana?
ministro miguel macedo das polícias - doze
ministro paulo macedo da saúde - (para o ministro álvaro) passa para cá o dinheiro da aposta. eu não te dizia que a média de assaltos às caixas do multibanco era de doze por semana.
álvaro da economia - (para passos) já tenho uma certa fome.
passos - vou dar a palavra ao raspas (totos riram muito) e depois vamos todos para casa que quero ver o portugal/dinamarca.
assunção cistas - ena pá! viva o luxo!
passos - herdei-a! tá! (para vitor gaspar) professor gaspar raspar tudo a que temos direito. tem a palavra.
gaspar - quando eu era pequenino brincava muito com o meu primo irmão louçã. era assim: íamos os dois roubar moedas de prata ao cofre do nosso avô. ele pegava no dinheiro e ponha-se a distribuir pelos pobres que encontrava no caminho de casa. eu fazia uma covinha no quintal e guardava lá as moedas de prata.
assunção cristas ministra da agricultura - porquê numa cova?
raspar - eu cuidava que havia de lá crescer uma árvore de patacas?
álvaro da economia - e cresceu?
passos - (para raspar) então?
raspar - vou terminar, visto não nos entendermos quanto ao que é relevante só vos quero avisar que temos de criar pobres neste país.
ministra da justiça - queremos uma criada de quarto ou mesmo uma cozinheira e não se encontra. com o colega! de acordo.
paulo portas - havemos de chegar lá, mas eu prometi aumento de pensão aos mais desprotegidos...
ministro da segurança social - impossível! é contra as normas da troika. demito-me!
passos - calma meus senhores. paulo portas falava metaforicamente. (para portas) não é assim, colega?
paulo portas - (tomando a palavra) há muito que o cds-pp tem tido muito dó dos que nada têm. e está no seu programa ajudá-los. mas, primeiro, faço notar que temos que empobrecer os portugueses. reduzi-los à verdadeira pobreza. à pobreza cristã. só assim ganharão o bilhete para o céu. portanto (volta-se para o ministro da segurança) compreendeu muito mal as minhas palavras.
ministro da segurança (que é muito magro) - assim é outra conversa. além do mais, os portugueses estão muito gordos.
teixeira da cruz - devem ficar todos como o colega. mas acho difícil. por mais dieta que eu faça não perco nem um grama. serão precisos muitos meses para os habituar a comer menos. é que se não têm dinheiro para o peixinho ou carne voltam-se para as batatas e as couves. e comem que nem alarves. o que eles querem é quantidade.
raspar das finanças - já sei. vou lançar um imposto muito alto sobre as batatas e as couves. e acaba-se com a conversa.
teixeira da cruz - o colega não pode esquecer os nabos e as cebolas...
paulo portas - os alhos e o grão.
passos - (lambendo o bordo do copo) estão a esquecer o arroz, os ovos, a fruta. caramba! tenho eu de supervisionar tudo.
assunção e teixeira da cruz - ai de vocês se aumentam os impostos sobre as novas coleções do outono.
passos - acaba por aqui. tenho de apanhar o autocarro. adeus, até ao próximo aumento.
(e acordei. tinha começado a ler um livrito com as farpas de gil vicente e peguei no sono com a pança cheia com uma sopa de couves aferventadas e com muitas batatas ainda livres do último imposto. era para ser um pesadelo...)
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