quinta-feira, 7 de outubro de 2010

VARETT - entrevistado por Paulo Rehouve



pressportugal

Existe alguma época em que a pintura represente para si mais do que panoramas de estágios pessoais com correspondências sócio-económicas?

Varett

Repare numa refeição brasileira algures no início do século XIX: feijão preto misturado com farinha de milho e um pouco de torresmo de toucinho frito... Penso que hoje em dia é tudo muito diferente. Se olhar a pintura através dos tempos ela também me diz que dá saltos. A pintura é feita por homens. Estes têm sempre correspondências em tudo o que fazem. A pintura faz sentido para mim na minha época. A minha época limita-me apesar de me servir dela para olhar o mundo para trás.

pressportugal

A pintura é sentimento?

Varett

Claro. Eu, por sinal, pinto ou tento pintar sentimentos embora o faça de várias maneiras.

pressportugal

E como o faz?

Varett

Olhe, eu já pintei duas angústias. Tendo em conta que ela é única, veja só.Um dia comecei a pintá-la porque a vi nas feições de uma pessoa. Mais tarde dei por mim a pintá-la (angústia) sem ter qualquer referência. Sei que a expressei na tela embora a sua compreensão não seja extensível a outros. Para mim ela é bastante perceptível.

pressportugal

Será a pintura negócio e arte, só negócio ou só arte?

Varett

Para mim é como a medicina. Há os que curam e cobram. Há os que só curam. Eu só "curo", ainda não comecei a cobrar. Não consigo dar aquele salto. É complicado.

pressportugal

Que pensa dos que negoceiam com a arte?

Varett

Alguns são mecenas. Nem tudo é mau. Reajo negativamente quando se corporativizam e seleccionam artistas com base em critérios duvidosos.

pressportugal

Que pintura se faz em Portugal?

Varett

Há em Portugal uma pintura de ideias e ideias que são pintadas. Há quem se dedique à paisagem, ao retrato. Há os que pintam para a parede e para o gosto da clientela decoradora. Pinta-se muitas vezes pelo petisco, pelo prazer, etc. De Almada para cá os nossos pintores portugueses provaram que são tão bons ou melhores do que os outros. O que ainda não aprenderam foi a serem unidos e isso impede-os de transpor fronteiras. Também os responsáveis pela Cultura não têm estado à altura para a promoverem a nível internacional, como , por exemplo, se faz na vizinha Espanha, França, etc.

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