quinta-feira, 7 de outubro de 2010

JAIME GAMA O LÚCIDO




Disse o dr. Jaime Gama no dia em que a República comemorou cem anos: "Ninguém é dono da República!". Oh, senhor doutor! Quem é que quer ser dono de uma coisa que está falida? Ninguém! A não ser os que a tal forem obrigados. Eu não sei qual será o desenvolvimento que vou dar a este texto. Antes que tal "se desenvolva" quero afirmar o seguinte: a República não é a minha Pátria. No território Pátrio, a República teve e tem espaço. Não o posso negar, mas posso contestá-lo. É aqui que a coisa fica de tremeliques. Uma pátria sem nação é como um galinheiro sem galinhas. Uma nação sem estar politicamente organizada é como uma casa de passe só com proxenetas. Os meus quatro habituais leitores tenham calma. Eu ainda não comecei a chamar nomes a ninguém...

A minha Pátria tem 857 anos de existência. Comemoramos os últimos cem... Não comparando, era como se eu que tenho 69 anos apenas comemorasse os últimos 20. E isto porque tinha feito uma operação para alterar o sexo e me transformava em mulher há 20 anos. E então, os meus 49 anos como homem? Vou atirá-los ao gato? É complicado, eu sei, mas não posso ser só mulher. Credo em cruz, salvo seja o Padre Cruz. Esta comparação é coxa! Retracto-me já. A nossa Nação é muito misturada. E isso deve-se não só por termos sido invadidos como nos cruzámos com vários povos que fomos conhecendo (e fodendo, claro está). No princípio da nossa nacionalidade fomos tendo como parceiros na nossa organização a Igreja. Ela tinha os livros, a cultura, o método, a sabedoria e estrutura. Até nos ajudou com armas. Eu que não sou de Igrejas nem sou pagão, não posso deixar de lhe dar o devido valor (claro que às vezes e quase sempre não é muito recomendável). A Igreja sabiamente foi sobrevivendo e tornando-se imprescindível. Até - o foi nas democracias burguesas - que as tivemos. E isso deve-se a um dispositivo biopsicológico que coloca o ser humano ao dispor de quadros imagéticos. Não há pátria sem benzeduras... há que viver com isso. A nossa Nação não a dispensa! Porém, foi alterando os métodos. Ela ensinou durante séculos. Temos que lhe agradecer o gesto e o jeito. Vou saltar. Na monarquia, onde os republicanos tinham o seu lugar nos órgãos de decisão, também houve adaptações. Dos monarcas absolutos passámos a monarcas constitucionais. A monarquia foi percebendo que a política e os seus jogos deviam ser separados. O monarca passou a reinar e a política e os políticos a governar. O monarca acaba por encarnar o espírito da nação. Assassinaram o Rei Dom Carlos. Ele representava a Nação portuguesa. Qual a utilidade do crime de homicídio? Mudar o regime? Matar o espírito?

continua

mmb

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