segunda-feira, 17 de maio de 2010

COMO SE PREPARAM AS REVOLTAS MILITARES EM PORTUGAL







Em 1926 uma coluna militar histérica desceu do Norte do país. Parou aqui e ali para comer, beber e defecar. Meio a dormir e a calambear chegou a Lisboa. Acabou-se a rebaldaria. Analisemos com calma anárquica - também tenho direito - o que se passou. Palavra-chave: cacau (dinheiro, erva, pilim, serrilhas, etc.). Faltou dinheiro para pagar o soldo aos militares. Também faltou para outros, porém, como não tinham armas apenas lhes restava berrar. Em Lisboa, foram acolhidos por outros militares com ordenados em atraso com gritos de vitória. Os militares só pensam num sentido e não fazem ideia de como se dirige um país economicamente. Há excepções, por exemplo, os militares do 25 de Abril (para rir). Como é? Há que chamar gente que perceba da poda e que faça o melhor para nós (militares, claro). Que obedeça! Que planeie! Pois a Pátria está em perigo. Por tentativa e erro chegaram à escolha de um professor de Coimbra que tinha sido bom aluno e que sabia poupar. Ei-lo: António de Oliveira Salazar (Salazar pela parte da mãe). Em nove meses, repito, nove meses reorganizou as Finanças Públicas. Milagre? Evidente! Aumentou os impostos, promoveu despedimentos, conteve as despesas públicas, promoveu o analfabetismo fechando escolas, entregou a exploração da riqueza nacional a monopolistas, permitiu a escravatura doméstica, esqueceu a importância da Saúde Pública transformando os hospitais em casas funerárias para os pobres, colocou nas mãos dos privados as fontes de energia, as águas, os transportes, calou a oposição com a criação da censura e para a fiscalizar recriou a inquisição como força paramilitar - a PIDE - limitando a corrupção aos seus apoiantes, despediu das repartições do Estado todos os que se lhe opunham, refez as prisões para estes, formou ideólogos baratos com a criação das Escolas do Magistério Primário destruindo as Escolas Superiores, aliou-se com a Igreja de Roma assinando uma Concordata que a colocava a par do Estado (a Igreja casava os cidadãos, perseguia e ostracisava com a sua falsa moral todos aqueles que com ela não alinhavam, fazia dos padres bufos políticos), obrigava os professores a denunciarem os alunos e colegas acerca de actividades suspeitas (as denuncias eram enviadas em papel timbrado ), fomentou a denuncia criando um corpo com milhares bufos, controlou o teatro popular e o outro... Bem, com estas medidas sossegou os militares, os tais que tinham as armas, permitindo-lhes o antigo fulgor e estatuto perdidos (éramos uma sociedade civil, mas em cada esquina tínhamos um governador civil acolitado por um governador militar. No tempo de paz, note-se), permitiu que se criassem - num modelo civil e politicamente acompanhadas conferências do tipo São Vicente de Paula para controlar a pobreza na base da caridade. Criou a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa a par da Legião de Maria. Permitiu o aparecimento de um milhão de filhos ilegítimos pois quem se casasse pela Igreja não se podia separar. O Papado não permitia que quando ligasse homem e mulher estes se separassem. Deus tínha-lhes fornecido essa lei e outras tais como perseguir todos os que tivessem orientação sexual diferente. Mandava prender quem fosse homossexual. Esta foi a sociedade perfeita com que vivi anos e anos.

Estendi-me ao comprido, pois comecei a escrever como os cronistas e não parei quando devia. Vou fazê-lo. Acontece que os militares de hoje não têm a liberdade de fazerem revoltas assim como quem vai ao Dafundo tomar café. Os militares estão reduzidos a uma elite bem paga mas controlada por forças que estão muito melhor preparadas para debelar qualquer cheirinho a revolta. As forças policiais especiais em sete minutos arrumam-nos. As chefias militares já não têm os soldadinhos à sua disposição para fazerem jogos de guerra. Os militares têm também forças especiais, mas estas estão descaracterizadas. Os políticos de hoje aprenderam com os erros do passado e estão atentos. A estes só lhes cabe fornecer boas condições às forças que os apoiam. Também sabem que quando lhes faltar o pilim cai qualquer forma de governo. Hipoteticamente só uma subvelação total popular pode dar origem a uma alteração de regime. Contudo, o governo Sócrates tudo tem feito para reduzir a despesa pública com o fito de manter alimentados os que possivelmente o retirariam num ápice do poder (copia-se descaradamente o modelo salazarista). O que está hoje em causa nada tem a ver com o bem estar das populações em geral. O que está a afectar os grandes grupos é que se tornou na grande preocupação dos dirigentes que a eles estão adstritos. O sonho da fuga à pobreza acabou. A realidade está aí a bater-nos à porta. E não há como fugir-lhe.

manuelmelobento

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