segunda-feira, 3 de junho de 2013

não vou muito com a cara de miguel sousa tavares...

comprei o terceiro romance de sousa tavares. era para lê-lo nas férias, mas acabei por o devorar em dois dias. "madrugada suja" é mais um grande romance. este homem tem o condão de quando escreve romances  acabar por viciar o leitor. aconteceu comigo com o "equador" e "rio das flores". lembro-me de ter começado a ler aos 11 anos e de ter lido um romance de uma das irmãs bronté. chorei que nem uma madalena, ou melhor como o antigo choramingas de belém.  não sendo crítico literário não deixo de me pronunciar sobre o que leio. aos 14 anos meti-me a ler tolstoi e dostoievski, depois de ter entrado de cabeça no livro do cura meslier. no que me fui meter, mas não havia outra solução dado que naquele tempo havia poucos livros e os que havia eram para ser trocados entre a malta. a malta que lia era reduzida. ler era e é uma espécie de vício. foi assim que aprendi a ler romances. depois quando apanhava um livro qualquer lá vinha a maldita comparação com os os clássicos russos. organizei-me num ingénuo espírito crítico não científico. é como gostar de um vinho e depois vir a saber que é dos mais caros no mercado e muito "considerado". é que lá vem o senhor escanção a dizer que é enrolado, aromático e entre muitos outros sintagmas adjectivais pespega com o termo personalizado. eh pá, basta! dá-me um gole e cala-te. mas voltando à minha forma naife de entender os romances devo confessar que foram os meus grandes companheiros de jornada que se aproxima do fim. descobri o proibido eça de queiroz (imaginem: tive o azar de perguntar na biblioteca do reaccionário liceu nacional de ponta delgada pelo "crime do padre amaro" e logo a responsável me ameaçou de que iria participar ao reitor o meu descaramento...) e enquanto não li todos os seus romances não descansei. até li uma crítica de antero de quental acusando eça de não ter lido os clássicos russos quando escreveu a primeira versão da história da amélia muito comida pelo amaro. pensei: mas eu li. e fiquei contente comigo. e que alegria que foi quando em 1967 descobri num livreiro "os possessos" por 20 escudos. foi a minha companhia na viagem de comboio que tinha de fazer. quer dizer, fui-me colando a escritores e fiz de alguns a minha sobremesa mental. encontrei um luíz pacheco pelo caminho e apesar de nunca ter escrito um romance fez com que eu crescesse. aprendi com joão pedro george como se trabalha com o texto pachecal. li, li, li por vício e alguma estupidez. às vezes tenho cada desgosto quando vou atrás de escritor e ele me desilude. ultimamente aconteceu-me o desagrado com irvin yalom. li de uma forma obsessiva "quando nietzsche chorou" e "a cura de schopenhauer" e quando me meti a ler "mentiras no divã" apanhei um banho de água fria. quer dizer que interiormente já escolhi os meus escritores e irrito-me quando eles fogem à imagem intelectual que deles faço. o aquilino? uma maçada! o saramago? quase intragável! o lobo antunes? para se ler com alzheimer! (gosto das suas crónicas. são de excelência). quanto aos novos, estou a tentar perceber porque escrevem para circuitos fechados com muitos comparsas difusores. esquecia-me do cristóvao de aguiar que redescobri em "marília". li quase toda a obra dele, mas só o preconceito me impede de ser imparcial, mas acho que ele é um universalista ainda não descoberto pelos grandes senhores das editoras. os que não são viciados na leitura de romances universais não sabem o que é ter pena quando estamos no fim do romance  que comprámos, às vezes, com tanto esforço e sacríficio em euros. ah, mas em compensação vingo-me quando vou à feira da ladra. 18 livros do camilo a um euro cada. "adeus às armas" do ernest hemingway por 50 cêntimos (a meu ver, fraco), dom francisco manuel de melo ao mesmo preço - não relido, "humilhados e ofendidos" que já tinha lido mas já não me lembrava de nada. idem. e o "crime e castigo"  em que a gaja segue o matador da velhota até ao inferno da sibéria. quer dizer que há romances em que a malta que os lê nunca mais esquece as personagens criadas pelos autores. lembro-me do livro do eduardo brum "não chores pela minha morte" que durante uns meses não me saíu da cabeça. há personagens que se nos colam. é o preço que se paga pelo vício. apesar de ser um viciado por autores pouco ou nada posso dizer de rigoroso sobre literatura. já cheguei a comprar o mesmo livro duas vezes por me ter esquecido do nome do autor e da obra. é pena! talvez se tivesse orientado melhor as minhas leituras fosse hoje em dia um expert. ah! ah! claro que quando falo de romances quero ressalvar o que se aprende e o que crescemos com eles. uma boa intriga é muito giro mas cansa. para isso temos as telenovelas brasileiras e as portuguesas que são muito chatas ao querer reproduzir uma realidade que só esta na cabeça dos realizadores ou autores de textos. deviam dedicar-se a plantar alhos nas serras fora das cidades para não estarmos a papar os dos chineses que as nossas glândulas gustativas confundem com chicletes. uma vez lido um romance não o vejo (nem quero) transformado em chouriços nas telenovelas ou filmes. não, o mundo da literatura não pode ser o mundo do audiovisual misturado com anúncios de creme hemorroidal. então no que diz respeito à poesia, a coisa dá para chorar. uma florbela metida num fadinho ainda vá que não vá quando for puxado à substância. talvez e eu ande um pouco desconfiado sobre se miguel  miguel sousa tavares, ao desenhar "madrugada suja", não está a tentar a entrar pelo cinema adentro. não entendi o ritmo do romance apesar de o achar uma grande peça formativa para se entender muita coisa. até dava para afirmar que mst está a preparar alguma... já anunciou que tem outro na forja. aguardemos. aprendi a separar autor de narrador e vou ficar por aqui para não meter mais água. acho que mst vai ser dos poucos que depois de morto não morrerá. sim, é o mais limpo de todos dado a sua total e irritante distância das banalidades mundanas.  
varett

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