domingo, 12 de maio de 2013

libertei-me! não sou pobre nem rico. ah, e ainda estou vivo

no meu tempo, o pobre comia carapau com batata ou inhame acorrentado por pão de milho e se era domingo lá ia meio quartilho de mija de baco aviado na taberna mais próxima (tabernas eram mais do que as madrinhas de guerra) que imitava o nosso multibanco. é que  após o saldo comido ainda havia o que hoje chamamos de crédito ordenado. era o tal fiado no rol. estou, obviamente, a falar do pobre que ainda conseguia  comer. é que havia outros (muitos) que passavam uma certa fominha debelada muitas vezes por roubos higiéniccos em tudo que permitisse dar ao dente. aquela abundância implicava que o chefe de família fosse um camponês apalavrado  numa boa casa agrícola, ora bem, até que para além do petisco atrás dito ia aconchegada uma morcela de sangue de porco. porra! até parece um baptizado. bem, até que era. não pense o leitor (obrigado por me ler) que o carapau nomeado chicharro em zonas dialectais era abundante. não, nada disso. era contado e muitas vezes cortado em pedaços porque a prole aumentava e era preciso contenção. gente gorda havia? sim. os donos das terras, suas mulheres e alguns párocos. os professores das primeiras letras eram todos muito escanzelados e não entravam nesta estatística. os pobres também eram muito elegantes e se mulher do povo apresentava gordura à imitação das senhoras... bem, havia cavala na costa. diziam alguns que era uma sociedade perfeita. esquecia-me do que comiam os ricos ou aqueles cuja profissão era o de ser proprietário. alimentavam-se à base de carne. havia certo dia da semana que era dedicado ao bife com batatas fritas e ovos estrelados. a carne de vaca podia ser estufada, guizada, cozida com muito adjuvante tal como orelha de poco, morcela, chouriço, couves, repolho, batata, batata doce e arroz. pão de trigo e vinhaça e estava feita a festa. por festa. o perú do natal mais o seu recheio. depois vinham os espumantes, bem esta parte era para outras estações. claro que havia  mais especiarias que estavam nos livros de receita. um dia fiquei na dúvida de se havia de acreditar ou não quando um companheiro dos copos me disse que só tinha comido bife aos 19 anos. sei que muitas donas de casa desconheciam que uma vaca não era só bife. por isso muito talhante vendia bife rijo umas vezes e mais tenrinho noutras conforme a cara da freguesa. pudera, a carne do cozer dava belos bifes  para quem de vacas só conhecia os cornos e as tetas. conheci mulheres enganadas que coziam a "carne de bife" antes de a passar pela frigideira banhada na manteiga. estive a descrever mediocremente algumas diferenças de comer  no meu tempo  onde se podia equiparar o mantimento com a classe social. era como na idade média. se um camponês se vestisse como um burguês estava sujeito a prisão e a ser açoitado. é como vos digo. quem comesse fora das suas possibilidades e se apresentasse agordurado tornava-se suspeito aos olhos da autoridade. e hoje como é? não vos conto, então não é que o rico de hoje dana-se por peixe e pelas  iguarias que os pobres eram obrigados a comer sempre a pensar na mesa farta dos afortunados. e os pobres? coitados, o que conseguem comer de mais barato é a carne; hoje, um superproduto que surge como a erva daninha em todo o sítio. pobre não chega ao peixe e rico, como é? não sei! não sou rico, sou apenas vegetariano. e porque o sou? não sei, só sei que depois de ver uma vaca a ser morta pelo dono e depois comida ainda meio viva, recebi cá um choque que me deu volta à torre de controlo. esta madrugada acordei todo banahdo em suor. sonhei que estava a comer uma mão de vaca alagada por um esporão de 22 euros. ufa! bem, a verdade é que não foi o esporão o causador do pesadelo...
manuel melo bento

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