quinta-feira, 16 de maio de 2013

afinal, que tipo de estado estará disponível para servir portugal? o filósofo kantiano afonso gonçalves, pensativo perante a questão, procura a solução olhando a "arte na cozinha" da autoria de varett


tempos houve em que fernandes queria dizer, por exemplo, filho de fernando. uma pessoa identifica-se, não cai do céu na maioria das vezes... e quanto ao estado? este estado que foi recriado em 1976 surgiu com uma componente "reaccionária" e oposta àquele que tinha assentado arraiais num longo período denominado por estado novo. isto é, com o medo de que um determinado grupo, à imagem do passado recente, tomasse conta nepoticamente dos negócios do estado, quem abocanhou o poder abriu caminho para a partidarização das tendências políticas; apanágio do regime democrático. melhor dizendo, não caíu do céu o estado de direito, foi filho rebelde de um pai austero. trata-se de um fernandes diferente do progenitor fernando. duas pessoas portanto! comparação coxa, mas é o que tenho à mão cerebral. repare-se que logo a seguir ao 28 de maio de 1926 o estado português voltou a receber uma componente estranha que caracterizou o período que vai desde o fim do estado (regime) monárquico até à queda do estado (regime) parlamentarista que o substituiu. porém, nunca se perdeu a ideia de estado e de centro de poder. os primeiros republicanos procuraram retirar à igreja-religião a capacidade de influenciar os negócios de estado, coisa oriunda desde os primórdios da nacionalidade. viu-se um ministro da justiça mandar prender bispos e outros altos dignitários da poderosa igreja de roma. foi importante para a reorganização do estado este afugentar de um corpo estranho que impedia o acesso directo à representação e intervenção (se bem que indirecta) do povo. quando a constituição é aprovada em 1933, o estado português reencontra uma orientação definitiva imposta por um grupo que tinha como cabeça um verdadeiro professor universitário. salazar de seu nome, embora homem de igreja, separou esta sem a rejeitar por completo porque sabia o poder que ela representava para a pacificação dos desprotegidos rebeldes (por fomes e outras carências). salazar inferiu e impôs para com o estado um respeito tal que o colocou acima de todos os interesses de grupos ou campangas. o estado português voltou-se de novo (1) para o conceito de pátria. reforçou-a com a benção de deus (o ocidentalizado judaísmo, está claro) e como corolário recolocou a família no centro de tudo retocando-a à imagem da sagrada família. concluindo: deus voltava a ser sagrado como é hábito entre os crentes, a pátria e a família comiam do mesmo prato. face a este tempero estatal surgiu como quem não quer a coisa um nacionalismo ridículo assente numa total inversão da história centenária. camões - que tinha morrido à fome - foi catapultado para representar a alma portuguesa renascida ou criada para fins de unidade lírica. a igreja contribuiu, para não ficar de fora, com o aval do milagre de fátima e mais tarde - não muito mais - o ditador salazar encostou-se ao futebol e à equipa mais popular do país. chegando ao ponto de impedir que um jogador - que era o símbolo de herói desportivo - de ir para a itália, país que  queria adquirir o seu passe por qualquer coisa (a trocos actuais) como 200 milhões de euros. salazar, sabendo da vontade de chorar do povo português, deu uma achega ao fado promovendo-o através da aceitação nas altas esferas sociais da mais famosa fadista de todos os tempos. para cumprir com o destino de virilidade latina do macho lusitano pincelou a tauromaquia como seu espelho. no cimo do bolo colocou-se. perdão, colocou a honestidade. a sua dele como exemplo. salazar era um homem de estado com tanta abnegação que houve tempos que era tido como seu timoneiro. isto é, quem tinha salvado portugal e os portugueses, ajudado, está claro,  por nossa senhora de fátima. eh pá, tanta conversa para chegar a este estado (de coisas) em que no cimo do bolo está... bem, que o diga o leitor. calma, calma! a culpa não é dele, mas sim de quem lá o colocou. faz-me lembrar quando quiseram correr comigo de um organismo estatal. prepararam-me a folha, mas quando souberam que eu tinha sido admitido por via de uma cunha da mulher mais importante do país, ainda por cima casada com a quarta figura do estado novo. é o despedes. os filhos de puta recuaram na acção. se soubesse o que sei hoje, tinha feito uma participação ao ditador a explicar o que lá se passava. havia de ser bonito. se calhar seria promovido. hoje designa-se de corrupção. não sou mais sério do que ninguém, só que  por preguiça e para não estar sempre com o coração nas mãos é que não alinhei naquelas poucas vergonhas ou seriam porcas vergonhas. portanto, tivemos uma constituição de estado de 1933 vocacionada para uma espécie de cancioneiro nacionalista que foi substituída por uma outra - imposta por um levantamento militar - em 1976 toda ela feita por amor ao povo e que veio a arruinar os cofres do estado porque à custa daquele in love sumiram-se milhões e milhões de euros e que ficámos a dever... e sem dinheiro até mulher séria dá um jeito. o estado português estrebucha e agoniza, daí que tivesse surgido um grupo de bons capitalistas modernos cheio de vontade em criar uma nova constituição para salvar portugal. enquanto isso não acontece que faz o governo que o voto do poveco empurrou para são bento? imita o velho ditador quando aceitou tomar a pasta das finanças em 1928. corta aqui, corta ali. miséria a florescer aqui e o capital a fugir para ali que é como quem diz meia dúzia de eleitos a rechearem-se com a riqueza criada como por milagre. por enquanto não houve uma nova constituição por um simples motivo. o cds-pp impede-o. é que quando o psd e o ps se entenderem teremos uma nova constituição. não como a de 1933, mas muito diferente. trata-se de uma constituição que tem por meta a destruição da estrutura do estado tal como este era constituído. é que para se entrar na europa capitalista com a alemanha a comandá-la acolitada da arrastadeira francesa é preciso que percamos a total independência política. é uma baboseira o que aqui desenho? pois, meus lindos, tudo aponta para o momento em que o estado não disporá de um tostão para pagar aos seus funcionários nem aos seus  pensionistas. não sabem os meus leitores que o próximo berro da fome terá como tenor a caixa geral de aposentações. são 4 mil milhões de euros em dívida e que se tornaram incomportáveis para os cofres do estado. não ouviram o que disse o primeiro-ministro aquando da sua última intervenção acerca da falta de dinheiro para manter o sistema de pensões? não podemos continuar assim! não? ai não! não sabem o que isto quer dizer? é por essa razão que estão na manga do governo os últimos e breves cortes nelas e que vão chegar numa primeira leva aos 40 por cento com tendência para aumentar. está escrito nas contas. perante isto, que estado teremos? quando o cds-pp for corrido e reaparecer o bloco central estejam atentos, pois com estes dois a constituição irá ao fundo. vem aí o novo regulamento que é no que se transformará aquilo que chamávamos de constituição.
manuel melo bento
(1) - a acreditar na seriedade dos revoltados de 1640, havia neles a ideia de estado independente.

Sem comentários:

Enviar um comentário