domingo, 29 de abril de 2012



o meu bilhete de identidade é o único que não me mente. estás velho e enfurrujado, diz-me quando o apresento para fins de pagamento de coisas sérias. filho de puta! já lhe disse que isso não me chateia. o que me chateia são as paragens que tenho de fazer por causa da porra das pernas. fraquejam e paro. respiro. depois lá vão mais umas passadas e mal chego a casa ligo a antena dois. o único serviço público que ainda não foi contaminado pela porra da política, melhor dizendo, pelos políticos que nos invadem de sorrisos quando nos querem chupar os votos. mal conquistam um lugarejo, nunca mais os podemos tocar (apalpar não me importava de o fazer na querida cristas, com o devido respeito, está claro) nem ouvir. ouvir, minto, podemos fazê-lo na rário e nas estações de televisão. deixámos de lhes servir e eles a nós por motivos ainda hoje por descortinar. a verdade (se é que isso existe) é que pouco tempo depois estou a dar cabeçadas no livro que tenho no colo. não é só sono não. deu-me para ler um tal de schopenhauer pela pena de ribot. como não sei francês. aliás sei o suficiente para perguntar - há que anos - a uma francesa da rue pigalle quanto custa ir para a cama (com ela), pedir leite e pão, enfim combiem? não dá para tantos voos. e é mais por isso que pego no sono à segunda tentativa  folheio no dicionário o respectivo significado, dado que o significante eu ainda posso soletrar. anda para aí uma onda para repescar os velhos e dar-lhes um fim dignificante academicamente falando... da minha parte agradeço, mas já não dá. se os novos andam aos bonés, o que faremos com títulos universitários? querem mexer-lhes (aos velhos como eu)  com o cérebro para os espevitar. eu gostaria era de manter aquilo que perdi mas noutras zonas do corpo mais palpáveis. se não fosse por causa das coisas eu ainda me ponha a aprender o islão para - no caso de ir para o céu - ser recebido por setenta virgens. por causa das coisas quer dizer que ainda me limpavam o sarampo por duas vezes. não, não arrisco que eu desde que tenho cu tenho medo e muito. a minha avó - que não sendo nenhuma sábia - disse-me coisas que eu na altura queria era ser mouco: guarda sempre uma ou duas gargalhadas das muitas que costumas dar que é para quando estiveres a gemer de dor física, ou outra, elas te compensarem. pois, apesar de não ter dado muita gargalhada  por causa dos tropeções dos velhos fi-lo só uma vez em que me ri imenso quando meu avô da cidade ia caindo sustentado por duas bengalas. sim, duas bengalas que meu avô era rico e tinha uma certa inclinação pelo sr. presidente do conselho. escrevo com s porque não me predisponho a ficar de cócoras. então eu que chumbei por causa do ditado. foda-se! penso que até já escrevi sobre isso. ah, esta cabeça! c de cão para concelho do imi e s de sacana para o que diz a galinha ao pinto. que confusão! às vezes a minha cabeça fica oca. não perco o hábito de escrever só que não tenho nada para dizer. já agora que estou com a mão na massa e não me apetece enviar ao filóso afonso - companheiro de abril (à cicil, claro) - um recado que é o seguinte: já cheguei à capital. agora é só marcar a dia para o café vegetariano. também, se ele não ler este texto, no problem. ah, já sei o que queria escrever. bom, mas agora é tarde. fica para outro dia. como não tenho sono e não gosto de tomar drogas (gostar eu gosto, mas já não me posso embebedar) para ressonar vou pegar no th. ribot que aquilo é remédio santo e nem preciso ir mais do que uma vez ao dicionário. as fotos? bem, uma é de ponta delgada velha, beata e ordeira de ontem e era lá que eu brincava. a outra é de um barco enorme que nem em pesadelos sonhava vê-lo  beijar as rochas do calhau das senhoras que foram obrigadas a frequentar outras aquáticas paragens.
varett

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