quarta-feira, 25 de abril de 2012

a cada um o seu 25 de abril

caro companheiro tribuno das liberdades

relatar os factos que tiveram lugar em lisboa em 25 de abril de 1974 pode dar origem a interpretações pouco credíveis, dado que muitas vezes elas surgem eivadas de ideologia ou de precipitação intuitiva, para já não falar da doença da clubite muito afeita aos humanos. fosse o que fosse que tivesse acontecido naquele dia - mesmo dando ouvidos  a insignes construtores sectários de histórias -  uma coisa pode afirmar-se em termos de comportamento observável: o povo ao sair em massa para a rua inverteu o programa dos oficiais do quadro (uma espécie de homília de boas intenções pseudo-humanistas que minuto a minuto se foi tornando num abc de esquerda consoante o volume dos gritos de quem viveu reprimido durante quase 50 anos). ora um povo pobre que servia para carne de canhão para manter interesses coloniais, tão depressa se viu liberto tão depressa se amontoou nas avenidas e ruas da capital tornando-se numa espécie de tsunami sem cabeça. primeiro ficou encantado com o espectáculo da soldadesca armada para logo a seguir começar a dar caça desenfreada aos que tinham alguma coisa e que representavam um poder aterrador sustentado por uma sanguinolenta polícia política, uma polícia de segurança pública feroz na vigilância e cumprimento de leis contra o povo, uma guarda nacional que defendia os patrões à lei da bala para manter a subserviência dos mais desgraçados, vigilantes da pátria como a  legião e brigada naval que viviam defendendo o estado novo através da denúncia dos emergentes democratas. tudo isto acompanhado por uma religião oficial que vinha há muito retardando o crescimento intelectual de toda gente. perante a gritaria e o histerismo  geral teriam os golpistas de tomar posição senão o país caíria num caos imparável. e naturalmente seriam arrastados pelo desastre que iniciaram sem prever as consequências. note-se que apenas queriam reivindicar uma justiça de ordem corporativa. não passavam de um grupo cansado de guerra e de injustiça. um "bando" que nada tinha de ideologia na cabeça. não leram camilo, não leram eça nem tão pouco antero. eram os mais lídimos defensores do fado, futebol e fátima. claro que havia um ou outro que tinha umas leituras mais afrancesadas, como era o caso de melo antunes. mas mesmo este não era homem para pegar em armas e derrubar o poder instituído. ele servira o regime embora o criticasse intelectualmente. no dia 25 de abril de 74 encontrava-se a 800 milhas do palco da golpada. boa cabeça, não teve outra solução senão dar uma mãozinha nos textos que o otelo tinha na cabeça confusa. os militares não são dados a reflectir. são pessoas limitadas e isso compreende-se. são militares criados para obedecer aos políticos. tudo que for além disso dá disparate. compreende-se por  que os capitães - para não perderem o domínio da tempestade que arrasava o país - tivessem de chefiar a rebeldia geral. assim, de golpistas palacianos passaram a imitar os revoltosos da américa do sul que combatiam um capitalismo esclavagista de toda a população latino-americana. otelo que dirigira o golpe - por ser o mais mediático - deu uma de che guevara. foi promovido a oficial general e deram-lhe uma força de polícia político-militar (coopcon) para aguentar o que se previa: divisão da sociedade civil. foi responsável pelas centenas de prisões de pessoas que viviam sob a bandeira do salazarismo (não havia outra opção para quem quisesse viver em portugal). prendeu-se homens e mulheres só por serem ricos. bancários ou fugiam ou iam dentro. esta festa popular-militar deu azo a verdadeira anedota: deixaram marcello e thomaz "fugir" para o brasil numa desnorteação total. os verdadeiros responsáveis escapavam assim à justiça . antes que fosse tarde demais os militares começaram a ocupar tudo que era cargo. estou lembrado de o então major eanes ter sido catapultado a presidente da rtp. e logo ele que é falho na figura mediática.. militares feitos ministros com poucas letras era o pão nosso de cada dia. ao mesmo tempo que os militares eram arrastados pela  desportugalização, a propriedade privada era assaltada em certas zonas do país (aquelas onde o partido comunista tomara o control das massas, como o alentejo, por exemplo). de um dia para o outro milhares de famílias ficaram sem nada devido ao assalto dos seus bens. as casas apalaçadas despovoaram-se devido à fuga dos seus proprietários. tudo isto nas barbas dos revoltosos. era impossível tomar mão da onda socializante que assentara arraiais entre nós. e foi assim que enquanto uns tantos fugiam perdendo a fazenda, outros tantos a ocupavam. uma nova burguesia tomava lugar da velha  tendo como lema o poder do povo, substituído logo em seguida pela democracia burguesa. enquanto o povo não baixou de excitação as suas reivindicações foram tomando forma. ideias como, pão, paz, habitação saltaram para o texto constitucional. houve quem arranjasse casa, desse educação aos filhos e arranjasse emprego no estado. este começou a dominar todas as áreas anteriormente pertença das famílias (60 ou à volta disso) patrícias nacionais. em pouco tempo o estado português passou de um estado confessional para um estado totalitário na linha do materialismo dialéctico. os meios de produção caíram nas mãos de  novas organizações: os partidos políticos. o estado não reteve a lição da história materialista. assim como os generais de alexandre repartiram o seu império logo após a sua morte, assim também os partidos-generais dividiram o estado português entre si. claro que isto só se deu quando os militares caíram em si e regressaram aos quartéis com o rabo entre as pernas (exagero de linguagem aceito a crítica do doutor bastos. saíu assim... foram todos penalizados e a carreira foi ao ar. tiveram qualidades que temos que realçar. poderiam ter feito pior, isto é, não deixar o poder e enveredar por uma ditadura militar mais prolongada. nisso portaram-se bem. a liberdade veio estabelecer-se entre nós. a imprensa tornou-se livre tempos depois, pois houve no princípio tentativas totalitárias de uma certa esquerda ( a esquerda totalitária) para criar em portugal uma satelização soviética. em vez desta caiu-se numa república das bananas apadrinhada pelos estados unidos da américa. o partido socialista enveredou por este tipo de protectorado. hoje, sabe-se que os golpistas não tinham como objectivo acabar com a pide/dgs. bem, esta análise ficará para daqui a 50 anos, pois parece que aqui há gato e não é o gato de schrodinger. mais um dado positivo: a politização de muito capitão de abril (nome que depois foi-lhes atribuido). a maioria voltou a estudar e foi assim que por exemplo um dos golpistas - maia -  se formou em sociologia. e outros de quem o nome esqueci. portugal tornou-se de um momento para o outro numa universidade (universal) do conhecimento ideológico. nasceram como as ervas daninhas centenas de cronicões, politólogos, fazedores de opinião, líderes políticos, corruptos, políticos lacaios de empresários, empresas parcelares (uma espécie de fundo fantasma onde o dinheiro do povo foi parar), etc. as cadeias estão a abarrotar de bons pobres, e de bons assassinos estrangeiros. os hospitais já não têm filas de espera (os doentes já morreram), as escolas que formaram humanistas, juristas, jornalistas, economistas, sociólogos, professores, e etc, fomentaram o desemprego. a fome já deu sinais de si em certas zonas do país. a segurança social foi assaltada e está prestes a entrar em colapso financeiro. o ministério das finanças inventa diariamente novos impostos. ah, para terminar, o primeiro-ministro é um tal empregado de um empresário que já foi ministro de um partido que associado a outro tem arrastado o país para o desnorte económico e para a sodomia política.
ps: não posso deixar de dizer que de qualquer modo fiquei satisfeito com a queda da quadrilha que geriu portugal durante o chamado estado novo. isso deveu-se, claro está, a um punhado de homens que arriscou o pescoço. se o fez em nome do povo: obrigado. se foi apenas para olhar o umbigo: pois é, há males que vêm por bem.
varett

1 comentário:

  1. Meu Caro Professor, Político, Pedagogo, Jorna-lista, Esteta e Pintor, foi agradável o acto de liberdade de ler o seu texto e de subscrevê-lo em grande extensão. Há discordâncias entre nós quanto ao ângulo de ataque do problema e algu-mas da suas conclusões. Não se trata de confli-to de opinião ou ruptura de perspectiva, ao fim e ao cabo. Efectivamente, o que conta é o res-peito, amizade, estima, consideração e muita concordância nascida e desenvolvida num ambien-te de tolerância, cumplicidade e liberdade democrática. Querido amigo asseguro-te que ainda somos muitos, muitos mil para refazer Abril. Abraço amigo do victor bastos, teu émulo.

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