quinta-feira, 22 de março de 2018

o que seria eu sem o meu telemóvel? Um fóssil, claro está!

Em 1998, comprei um celular ainda nem havia rede em Ponta Delgada. Quando se estabeleceram as redes já eu sabia atender as chamadas, ligar para alguém que também tinha adquirido um exemplar. Depois, aprendi a escrever mensagens. Enfim, hoje, a minha vida está nas mãos do meu telemóvel que tem algumas particularidades que o tornam indispensável. Tiro uma foto a mim mesmo (o que faço com muita frequência...) e logo no mesmo instante a posso enviar para alguém. Já cheguei a falar com pessoas olhando para elas no visor. Recebo faturas e tudo o que tenho a pagar. Avisam-me da Fundação  que tenho uma consulta em tal data com o médico especialista. Dezenas de operadores estão permanentemente a chatear-me as moléculas para eu aderir a coisas esplêndidas. Com 77 anos, e as insistências das meninas, sinto-me vivo e importante pois elas não me largam. Ainda se fosse a braguilha, vá lá que vá. Mas tudo bem. Quero saber as horas e é só olhá-lo. Relógio, o que é isso? Como estará o dia, também me  informa a temperatura e a altura das marés. Quero meter o bedelho num site de moças que prestam favores e jeitos sexuais, é  só clicar nas teclas apropriadas. Preço e tudo mais vem apenso. Discursos e intervenções de políticos também estão à mão. Sempre gostei de escrever umas coisitas utilizando canetas. Adorava as canetas de tinta permanente. Um dia, o Eduardo Brum, que era o diretor do Expresso das Nove, onde eu colaborei, disse-me que se me habituasse a escrever no computador, tablete ou mesmo no smartphone que depois não queria outra coisa. Na altura, não acreditei. Hoje, já nem sei o que isso é de usar as canetas. Quer dizer, quando eu bater a bota gostaria de levá-lo comigo. E isto porque de repente  quando eu estiver mais que morto pelo dito do óbito, de repente, dizia eu, posso ter de atender uma chamada. Está, daqui fala o morto que seria eu no caso. Quantas vezes coloquei o meu celular em cima da mesa quando fazia uma refeição no restaurante? Quantas vezes fui piroso sem me dar conta? O raio do aparelho já faz parte do meu ser, daí não o poder dispensar quando me fizerem o favor de me cremarem já que eu nessa altura - calculo - não estar em condições de  locomover-me. Diz-me que telemóvel usas que dir-te-ei quem és. Não é favor nenhum, pois nele estão todos os passos registados que uma pessoa dá; com quem fala ligando ou atendendo a uma chamada, etc. As horas ficam lá registadas. Bem bom que eles não existiam no tempo da PIDE! E aqueles que se distraem e começam a falar de negócios escusos e que depois são tramados pelas forças policiais, judiciais, segurança nacional, etc ? Vão dentro que é uma beleza e tudo se  deve aos telemóveis serem hoje os bufos mais eficientes do mundo moderno. As polícias seguem um desgraçado até ao semicúpio desde que o tenha à mão. Dizem que mesmo desligados estão a emitir sinais que depois são recebidos pelos especialistas informáticos. Às vezes o meu aparelho apresenta certos ruídos que até parece que está à escuta. Se eu fosse algum figurão até que estava bem. No entanto, dizem que todas as nossas conversas  são gravadas mesmo que não passemos de um gato-pingado. Há provas de que mesmo sem autorização do juiz de instrução houve e há digo eu gravações a eito sem controlo. Lembram-se do célebre "caso do Envelope 9"? Que grande sacanice! Há cada espião entre nós que é um louvar a deus (dos judeus e nosso também, mas adaptado) E não é que me afeiçoei aos telemóveis e fui comprando um por ano. Descartáveis não compro porque isso torna suspeito os que os utilizam e  aos olhos dos polícias especialistas é um sintoma nada abonatório. A vida sem telemóvel já não dá gozo. A própria saudade portuguesa sofreu tratos de polé com o seu aparecimento. Morre cabra (doentia-saudade)! Está lá? Sim! És tu querida? Quem é que está aí desse lado a tratar a minha Maria de querida? É o telemóvel, estúpido! Ah, então está tudo bem!





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