quarta-feira, 7 de outubro de 2015

homens de estado, ou melhor estadistas, onde estão depois dos que estiveram quase a sê-lo?







não vou estar aqui a falar da "origem do estado e da família" para revirar o estado português e procurar na caixa dos apuros algum estadista. vou, sim, com a minha cultura de leitor de jornais baratos, descobrir alguns homens e mulheres que me pareceram estadistas ao longo da história viva deste país de que faço parte e do qual tenho o prazer em viver, já não podendo dizer o mesmo dos seus habitantes. porém, olhando o mundo também não vejo muito melhor. ressalvando os casos de previsão e civismo é tudo farinha do mesmo saco. alguns historiadores nacionais entendem considerar dom joão II um homem de estado. só se for inconscientemente! talvez um dom josé I através do seu carrasco de serviço tenha aparências de homem de estado. rei pobre a querer património encontrou um homem português estrangeirado que dando uma no cravo outra no dedo deu início a uma economia "científica" de estado. sua filha, dona maria I uma mulher de transição teve a sorte pelo seu lado. vamos já entrar neste aspeto para não se perder tempo. a sorte de ter de fugir à democratização de portugal fugindo para o brasil por via da selvajaria com  que as tropas napoleónicas imponham uma nova visão para o "mundo das pessoas vulgares". outro aspeto não menos importante. talvez o mais importante, foi o fato de ter tido como nora dona carlota joaquina. está no seu comportamento político - que influenciou o filho dom miguel - a base de uma ideia forte de estado. a família real no brasil teve tanta força como aquela que levou o prior do crato a fazer da terceira um  portugal livre do domínio (por acaso legal) do rei espanhol. é que para que portugal se "transformasse" na espanha filipina era preciso esmagar o piolho terceirense. é uma questão de ordem política esta inclusão. para napoleonizar a europa era necessário fazer o mesmo a portugal. é o fazes. portugal fugiu para o brasil como os portugueses de portugal fugiram para a terceira...  está mal explicado, mas é o melhor que sei fazer. voltemos a dona carlota, figura muito mal tratada pelos imbecis dos historiadores de pataca e meia. dona carlota (uma grande de espanha, filha da grande espanha que dominara o mundo e meio. isso mexe com a cabeça e torna-a mais apta para uma nova compreensão), dizia, dona carlota tinha um projeto para portugal que passava por travar uma luta contra tudo que fosse liberal. as tais tropas liberais chefiadas por dom pedro (seu outro filho) e que se proponham transformar portugal numa merda. as tropas de dom pedro eram formadas por tudo que era do piorio. gente sem eira nem beira, salteadores, mercenários, debochados como dom pedro (a sua parte de mulherendo eu desculpo. o homem não era feito de pau. e putas, isso era o que  não faltava. e de todas as classes e etnias, acrescento. oh que bom!), comerciantes desonestos, piratas e corsários. ah, e açorianos esfomeados, os mais perigosos de todos os portugueses depois de armados, claro! quer dizer, aquilo ao que vinha essa cáfila de oportunistas era nem mais nem menos  destruir  a organização de como estávamos estabelecidos politicamente e associados à igreja. igreja e senhores tiveram a capacidade de se postarem como um todo preparado para gerir portugal e os portugueses. não está em causa se é bom ou mau. o que está em causa é a defesa de um estatuto que permitia ao país ser considerado independente. só se pode ser estado se se for independente. era esse o objetivo de dona carlota joaquina. dom miguel era a possibilidade de realização da sua visão. com certeza que o liberalismo traz consigo o progresso contrariamente ao estado confessional que dom miguel imponha. dom miguel representa a unidade (forçada, claro) de portugal, ao passo que dom pedro trazia o desmantelar de tudo que estava assente no feudalismo e outras formas de desumanização social. a vitória dos liberais arrastou o país para as garras do capitalismo inglês. daí a sermos mais um protetorado dos bifes são dois milímetros de esperma. até ao estado novo não se viu um único estadista com visão global para portugal. sim, houve quem se posicionasse numa atitude que poderia, uma vez impregnada, ter levado o país para o desafogo logo independente. os homens da primeira república. por exemplo. contudo não tiveram estaleca. salazar e a sua associada a igreja sempre tiveram uma ideia para portugal. salazar torna-se estadista quando começa a desenhar um plano económico para o país global. sim, já sabemos que foi à custa do empobrecimento do povo. mas isso é outro tema do qual havemos de tratar mais tarde quando formos para a análise da exploração do homem pelo homem... o estado que salazar proponha estava desajustado do mundo moderno. era um estado colonialista. desmoronou-se e bem. mas era um estado que assentava na auto-sustentação. coisa rara. coisa que só existia nas cabeça de algumas carcaças já muito esbatidas pelo pó do tempo. ficámos por aqui? não! do estado novo até cá só um homem encarnou melhor a ideia de estado. refiro-me ao dr mário soares. foi uma espécie de dom pedro mas muito mais culto. mas muito mais mesmo. dom pedro era uma besta. só que a comparação pode fazer-se na medida em que soares traz consigo o liberalismo democrático-burguês tão ao gosto dos estados modernos. soares é, também, um misto de um estrangeirado tipo marquês de pombal mais para o  civilizado e um experimentador à la salazar. esclareço: salazar tinha a ideia de estado (o seu, mas uma ideia para portugal). soares apresenta e representa - porque é o único que consegue ver mais à frente - um estado europeu. errou quando pensou que portugal se manteria um estado independente. foi ultrapassado pelos números. estava distraído como costuma dizer o carlos do carmo, fadista do tejo. salazar também errou ao calcular a manutenção de portugal colonial (a denominação de províncias ultramarinas é de gritos). não deixou de ser, por isso, um estadista. dizem que sá carneiro era um estadista. até lhe construíram uma estátua no areeiro do tamanho do cristo rei. não foi estadista. não só não trazia nada de novo como participou na divisão do país. soares une. soares é o intérprete e o porta bandeira de um portugal que se quer democrático e livre; um estado-novo-democrático. quando desaparecer da cena política vamos correr sérios riscos. ele permanece como símbolo de liberdade. ninguém mais traz consigo esse peso histórico aos ombros. resumindo que quero ir para a cama: uma forma de estado com dom josé-marquês de pombal; dona carlota-dom miguel; salazar-igreja católica; mário soares-estado-burguês, é o que me parece neste dia em que ainda consigo acordar e tenho em belém cavaco da silva a ocupar um lugar que devia pertencer a um estadista. neste momento olho o espelho e digo assim: cada vez gosto mais de mim. estão irritados (principalmente o  filósofo aristotélico afonso gonçalves que me acusa de narcisista)? ainda bem, é esse o meu objetivo, o de os pôr em "estado" de perturbação. 

varett (septuagenário excedentário)

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