domingo, 4 de maio de 2014

entrevista a manuel melo bento, que por acaso não correu bem. o costume. por paulo rehouve



paulo rehouve:
que ficou da intervenção do primeiro-ministro?

mmb:
que estamos próximos de eleições e que é preciso agradar aos eleitores que ainda votam para garantir o estado a que as coisas chegaram.

pr:
não estaremos perante um repescado crédito internacional perdido com os desmandos dos diversos governos que antecederam o de coelho-portas?

mmb:
tínhamos dívidas como qualquer país do mundo. só que os credores queriam garantias de pagamento pois o estado português estava desvairado e metido numa embrulhada. a educação, a saúde e a segurança social estavam mal geridas e caminhavam para a falência. e um estado sem dinheiro para cumprir com os seus compromissos duas coisas poderiam surgir incontroláveis: sair da zona euro e destruição da paz social.

pr:
como é? o país ficaria sem dinheiro?

mmb:
um país fica sem dinheiro se se deixa envolver numa economia que não gere. isto é, não tem moeda própria daí que não pode controlar a inflação que por natureza própria faz com que consiga ir pagando o que se pede para manter uma vida decente minimamente. naturalmente que a inflação ataca todos. com uma moeda como o euro só uma parte da população é que sofre com medidas de austeridade. os que mais têm não sofreram com os sacrifícios pedidos, anunciados e efetivados. quem pagou a crise foram os pobretanas. uns foram despedidos outros reduzidos ao temor de ficar sem um mínimo para sobreviver.

pr:
quer dizer que o plano do governo era necessário para resolver a situação em que o país se encontrava?

mmb:
eu estou a aguentar-me. estou a esforçar-me para não rebentar. olhe para mim! acha-me com cara de parvo, melhor dizendo com cara de eleitor português?

pr:
não entendo!

mmb:
você acha que um ex-empregado comercial que se transformou em empresário e que por motivo de o estado português estar entregue a um sistema desgovernado por partidos-quadrilhas estabelecidos nos dinheiros públicos e que conseguiu ser eleito por diversas fases chefe de um deles tinha capacidade para resolver o problema económico de portugal?

pr:
o que é certo é que internacionalmente portugal lavou a imagem...

mmb:
tenho de lhe atirar às beiças um pouco de história. quando mataram dom carlos, o país estava entregue a partidos que defraudaram o erário público. os portugueses da altura confundiram a desgraça do país com a monarquia - leia o professor pulido valente - e pouco se importavam com reis, rainhas e brancas de neve, o que eles queriam era resolver os seus problemas próximos. daí a que surgir uma república parlamentarista foi o tempo de  uma cuspidela. em vez de tentarem resolver os problemas de fundo, os republicanos puseram-se a perseguir inimigos. nos intervalos aproximaram-nos do modelo francês da época e aí entraram em parafuso. são deles (republicanos) reformas bastante positivas na saúde, na educação e um pouco na segurança social que na altura não era designada assim...

pr:
não se disperse. estávamos a tentar perceber a agora renovada imagem internacional do país.

mmb:
 você está a chatear-me. uma entrevista comigo é para eu dizer o que quero e não a ser conduzido como um carneiro que é o que pretende de mim. esteja caladinho ou ficamos por aqui. 

pr:
ok!

mmb:
já nem sei onde ia... bem, o ensino dá bota porque para além das despesas com professores e alunos toda uma teia de sanguessugas se escancha à volta. o mesmo se dá com a saúde e com a segurança social. no ensino: prolongou-se o ensino público obrigatório e construíram-se milhares de edifícios. na falta de docentes para as cobrirem... inventaram-se escolas superiores e formaram-se professores mais depressa que uma galinha põe um ovo. as escolas tornaram-se verdeiras mamadeiras. o certo é que o que delas saiu , com algumas excepções, foram diplomados de inutilidade confirmada. a maioria que ainda não fugiu está no desemprego mamando reformas dos pais e dos avós. há casos em que bisavós estão a colaborar também. as despesas com a saúde... dá para rir. o que se tem hoje são médicos e enfermeiros de computador e mesmo assim em longas filas de espera estão os pacientes.  quem mais ganha com a saúde, são os doentes ou aqueles que fornecem os hospitais , centros de saúde, indústria farmacêutica e prolongamentos? dizem algumas bestaças que a saúde em portugal é das melhores do mundo. porra, os médicos e enfermeiros que são quem a malta quer ao perto, estão longe. morre-se ao deslocarmo-nos para eles atuarem. se fosse um bom sistema pró-cidadão, eles teriam de estar mais à mão de semear. nada disso. estão à volta dos computadores e falam connosco tendo-os como intermediários. quer dizer, uma consulta custa um cêntimo mas toda aquela merda torna o sistema insustentável. 

pr:
mas...

mmb:
nem mas nem meio mas. naturalmente que o computador e as análises ajudam os que aos médicos recorrem. mas ajudam como? morre-se muito mais hoje do que antigamente. 

pr (muito rápido)
e a intervenção do primeiro-ministro'

mmb:
adotou o modelo salazarista que consistia em conter despesas desinvestindo na educação, na saúde e na segurança social. até mandou retirar a reforma choruda ao afonso costa, antigo primeiro-ministro e ministro da justiça. em nome da poupança salazar mandou-o chupar no dedo mindinho. permitiu que o patronato abusasse dos seus operários despedindo-os a seu bel-prazer e pagando mal. fomentou a insegurança social deixando que os portugueses sem esperança de trabalho emigrassem clandestinamente como danados. portugal transformou-se num país de emigrantes com 300.000 saídos nos últimos 3 anos. passos-portas atuam da mesma forma. os nomes que dão às suas manigâncias é que são outros. pare e compare! agora, com estas medidas o país económico passou a ser muito respeitado no mundo ocidental. antigamente, também a nossa moeda era considerada das mais fortes. 

pr:
o euro é forte?

mmb:
isso só interessa a quem nos governa na europa. porque se passos não pode inflacionar a moeda, pode baixar o poder de compra dos portugueses.

pr:
e como o faz?

mmb:
baixando os vencimentos dos portugueses o que vai dar ao mesmo.

pr:
e quanto a gorduras?

mmb:
foi buscá-las ao povinho. então não se vê que as gorduras que ele foi arrancar vieram prejudicar grandemente os mais necessitados. ele não mexe nos grandes "latifundiários" do capital porque pensa que eles possam fugir e deixar de investir.

pr:
ainda esta semana foram condenados a prisão responsáveis por bancos. isso já é alguma coisa!

mmb:
só foram condenados porque tinham crescido muito e mexeram em interesses estrangeiros. as regras da banca europeia eram-lhes estranhas por interesse próprio. são pressões externas. há regras a cumprir. não foram os seus colegas cá do burgo que bufaram. a estes também estarão guardadas medidas penais sempre que de fora houver denúncia.

pr:
se este regime foi copiar medidas salazaristas, o certo é que hoje, vive-se melhor.

mmb:
claro, mas isso aconteceria mais dia menos dia. o que nos aconteceu foi que fomos a reboque. somos os da cauda.

pr:
o 25 de abril tirou-nos da cauda e colocou-nos nos primeiros lugares do mundo civilizado.

mmb:
nos primeiros lugares a pedir, nos primeiros lugares a exigir justiça social, melhores vencimentos, melhor saúde, melhor habitação, melhores escolas, melhores transportes e por aí adiante. você quer é conversa.

pr:
criticar toda a gente o faz. mas dar a volta a isto é que ninguém a dá.

mmb:
os que criticam estão de fora. os que estão na mamadeira não querem mexer em nada. estão numa boa. repare só neste exemplo que lhe vou dar para caracterizar a mentalidade que nos gere. cada um que possui viatura tem de pagar o iuc. quando nos deslocamos pelas ruas e avenidas das cidades como lisboa, por exemplo, estamos sujeitos a cair em centenas de buracos e covas que são visíveis a olho nu a centenas de metros de distância. para onde vai o dinheiro desse imposto? não era para ser investido para benefício de quem para ele contribui? nada disso, ao lado de buracos do tamanho da cova da iria estavam uns tantos pintores a pintar faixas muito brancas e bonitas. e para quê? naturalmente para que a polícia mais tarde atue e aplique multas a quem se distraia. e os buracos? eh pá, alguns estão a ser tapados muito lentamente. e isto vou registando no mapeamento que fiz para não partir o carro com que me desloco. pagamos para termos centros de saúde. e estes tipos fecham-nos pondo o estúpido do eleitorado a berrar. enquanto não se correr com esta mafia não teremos um estado vocacionado para o cidadão. não temos cultura de diálogo. temos partidos políticos que se comportam como clubes de futebol. 

pr:
afinal, da intervenção do senhor pedro passos coelho que retirar?

mmb:
outra vez! nada! estamos vivendo num regime salazarista sem pide nem censura abençoado pela religião do estado. ouço sempre na estação oficial do estado a missa dos domingos e dias santos porque sou ateu e tenho saudades de boas palavras ditas por aquelas personagens tão meigas. eh pá, nada que se compare ao rolo duarte quando discute com joão gobern na mesma estação... mas a horas diferentes. não me pergunte mais nada que vou ver como mann vai tratar a senhora buddenbrook-grunlich-permaneder pois não passo de um bisbilhoteiro que se preocupa com a libertação da mulher... teoricamente, claro. que é que está a dar para ficar bem na fotografia...


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