quinta-feira, 27 de março de 2014

como o adelino gomes pôs em ridículo a revolução de 1974



só lembrava a um adelino gomes (1), passados 40 anos da data da revolta dos rapazes de santarém conjurados com mais alguns acantonados na pontinha, vir agora pôr em estudo jornalístico estratégias dos capitães que de conciliábulo em conciliábulo se organizaram para derrubar algo que eles não entendiam muito bem, mas que sabiam ter de realizar para melhorar o seu nível de vida e por tabela trazer algum alívio na repressão do regime que então governava portugal. quer dizer, durante 40 anos guardou-se o segredo da vitória no terreno acerca da revolta dos militares em abril de 1974: o cabo costa e o  alferes sottomayor tiveram nas mãos o fim do regime salazarista e a criação do que hoje se designa por democracia corrupta e corruptível à portuguesa. não sou eu que o digo. apenas repito o que disse numa estação de tv um alto responsável político  , acomodatício e bem colocado usufrutuário dos benefícios desta democracia: "nós somos o terceiro país mais corrupto da união europeia." uma medalha de bronze em termos desportivos. ora vamos dar a sottomayor o valor que ele merece  no 25 de abril e retirar ao cabo costa o demasiado protagonismo esculpido pelo adelino gomes no seu livro. o cabo costa era um ileterato político-militar, como confessou (não era de estranhar. todo o mundo era assim na época , excetuando meia dúzia de "poetas"). anedota: certo dia num quartel português, quando chega à porta de armas, o capitão soares ouve do cabo silva que nela prestava serviço: ó capitão, estás tramado! porquê, nosso cabo? (inquiriu o cap. soares). eh pá, o nosso sargento santinos já perguntou por ti cinco vezes! estás lixado! esta resposta do cabo ao capitão  traduz a importância que o soldado analfabeto da altura concebia aos superiores imediatos que com ele lidavam. a maioria era analfabeta (coisas do regime!). houve casos que a muitos deles era-lhes dada uma pequena pedra para a abafarem na mão direita a fim de poderem distingui-la da esquerda; contou-me um sargento. era assim ao tempo da II guerra. logo para a soldadesca ignara o seu chefe imediato era uma espécie de modelo divinizável. agora a história: disse o nosso alferes sottomayor para o nosso cabo costa (o adelino confirma): o nosso cabo só dispara se eu lhe der ordem para isso, tá a ouvir? sim, meu alferes! (repare-se que na tropa era tudo  meu ou nosso. agora é diferente. minha cabo, minha alferes, minha capitona (?) ...) de repente - voltamos ao 25 de abril - um brigadeiro manda prender sottomayor por este se negar  - tinha-os no seu sítio - a dar ordens de fogo para  matar  o chefe revoltoso de santarém, capitão maia que se encontrava no visor do canhão. sottomayor é levado dali e o brigadeiro depois dirige-se ao cabo costa que fica na chefia do tanque: você sabe mexer nisso? vou tentar, responde o bom do cabo cumpridor das ordens do seu alferes. o que se passou na cabeça do cabo costa não é difícil de entender: ou cumpria a ordem do seu alferes ou obedecia a um militar que ele não conhecia de lado nenhum. quer dizer, que se o sottomayor fosse militarão , amante  do regime vigente e obedecesse à ordem do oficial general o 25 de abril era um outro 16 de março (mais sangrento) e por aí adiante até que se organizasse a descolonização controlada pela onu... digo eu. acho que a próxima obra do adelino gomes devia ser sobre o paradoiro dos portugueses que foram corridos de áfrica para não serem assassinados. o regime salazarista não tinha capacidade de lidar politicamente com o problema colonial. era um regime fascista. este tipo de regime não dialoga. reprime. o pior é quando implode. também não estava na mente dos revoltosos adivinhar politicamente o que seria a áfrica portuguesa quando eles desistissem de defender militarmente a vida das populações portuguesas . havia tropas nacionalistas no terreno e bem armadas. não pensaram porque eram ignorantes e incultos. o que ainda dava uns toques era o melo antunes, mas mesmo este não passava de um teórico humanista. era um homem bem intencionado. não deixava de ser um bom burguês. a sua opção pessoal na mudança de regime caracterizava-se por  admitir que bastava  um simples golpe palaciano para portugal virar democracia do tipo europeu. estivemos à beira de uma guerra civil, mas isso foi depois do golpe militar que derrubou o regime de 1933. e se não houve muito sangue (morreram quatro militares) porque eanes e neves venceram uma intentona para levar ao poder os comunistas. derrubar um regime confessional caracteristicamente imbecil e regido por uma parcelar leitura do judeísmo foi algo de positivo. o anedótico é quando se verifica que ele foi derrubado por um grupo de revoltosos que meteu na cabeça que dominar o terreiro do paço era o suficiente para que uma revolução obtivesse êxito. olha cá, se calhar tinham razão. a providência divina protetora - dos que arriscam para petiscar mais tarde - providenciou um fernando sottomayor  (universitário, aristocrata, menino bem, humanista cristão, miliciano: quer dizer civil a prestar serviço militar) cheio de personalidade. este sim, fez história porque perante a ordem militar de um brigadeiro, 2º comandante da região militar de lisboa, arriscou não obedecer-lhe, o que lhe podia ter custado a vida. sem saber para que lado ia parar a vitória perspetivava-se-lhe um futuro desgraçado. a este sottomayor coube-lhe a consciência do ato. não era nenhum assassino! quanto ao cabo costa, acho que atuou à portuguesa. deixou tudo para a última hora... qualquer dos dois merece o nosso respeito. mas é bom não espremermos muito o limão, senão o celebrado movimento das forças armadas não passa afinal - para a história - de uma espécie de premonitória e vitoriosa manifestação de reformados. com tanta condecoração, não se sabe por que estes dois só têm apanhado com a bolota da história.
mmb
(1) - adelino g. é um homem de esquerda. em vez de analisar a atitude de sottomayor como um dos maiores atos pessoais da nossa história recente, porque consciente, resolve dar ao cabo costa - que não sabe o que está ali a fazer (ele próprio o afirma) o protagonismo maior.  no relato histórico sobre a ação dos rapazes dos tanques, o realce tende a ir para o camponês a cumprir serviço militar obrigatório em vez de o colocar no aristocrata cheio de cosmética tradicional. são feitios. há que dar o nome aos bois e na falta destes aos esgares de quem quer fazer história sem que para isso tenha alicerces.

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