o 25 de abril foi uma farsa popularesca que atingiu proporções incomensuráveis. vamos com calma e procurar colocar as coisas nos seus devidos lugares. a história das vicissitudes de um povo obedece a vários discursos. não podemos comparar a parte daquela que diz respeito à religião com outro tipo de convulsão social próprio do comportamento humano. repare-se, por exemplo, na páscoa dos judaico-cristãos: choram baba e ranho porque o jota cristo morreu para nos salvar. ora bolas, então ele ressuscita 72 horas depois, para quê chorar a sua morte? mesmo para quem acredita nesta historieta será difícil chorar por um morto que - dando-lhe na cabeça - resolve voltar a viver. estas coisas da religião não podem ser explicadas pela racionalidade do nosso pensamento. parece que a maioria dos humanos está programada biopsicologicamente para acreditar num fazedor humanóide do universo e mais interessante (quase todas as religiões o fazem) ainda é o facto de divinizarem o humano. e não é que acreditam mesmo! bem, este texto não vai por aí. o que eu quero é dar-vos a minha visão da festa que foi o 25 de abril há 37 anos. note-se que não é a mesmo desde o princípio. é que ela foi mudando e adaptando-se às exigências sociais. tal como a religião! vejamos qual era a atmosfera que antecedeu o 25 de abril de 1974. eu vivia em lisboa e andava metido com uma malta que se dizia humanista e outras coisas de esquerda. bem, não comparando, vim mais tarde a verificar serem uns bons filhos de puta. voltemos à atmosfera que é muito melhor. o país estava em guerra e os portugueses (que são todos colonialistas e as excepções podem contar-se com os fósforos de uma caixa monopolista da tabaqueira nacional) não pensavam sequer entregar as colónias, assim como as forças armadas portuguesas. tinha havido um levantamento militar de pouca expressão a 16 de março do mesmo ano. já lá vamos explicá-lo integrado na perspectiva abrilista. com a guerra em três frentes - guiné, angola e moçambique - o estado novo não teve outro remédio senão abrir mão na formação de oficiais que nada tinham a ver com as academias militares. e quando o fez, assinou o seu suicídio. os oficiais do quadro constituiam uma elite salazarista mais ou menos encapotada. estavam identificados com a pátria e a pátria era salazar. salazar era um nacionalista quase puro, diga-se em abono dos idiotas. ora quando os oficiais milicianos começaram a comandar as tropas em combate e se transformaram em oficiais do quadro deu-se o inesperado: os milicianos passavam à frente dos oficiais de carreira como o carlos lopes no mundial pelos outros pedestres. porra! isso não caiu bem entre suas excelências e os seus códigos. o que fizeram? começaram a reunir-se para reporem os tachos que estavam estouvadamente a serem divididos pela cambada que vinha das universidades e que tiravam em dois meses o curso de capitães depois de serem alferes. não precisavam serem tenentes. os desgraçados da academia ficavam a marchar parados nas promoções. que fazer? bem, um tal general spínola resolveu escrever um livro. bom, não foi ele, mas um jornalista, pois o coitado nem um discurso sabia redigir. dizia ele no livro qualquer coisa que ofendeu as velharias do estado novo. marcelo que estava a substituir o defunto salazar, julgando que aquilo era coisa com mofo correu com ele e com um amigo deste, um tal costa gomes. (estes dois comparsas - e que comparsas - vieram a ser presidentes da república. ao que aquilo chegou). já está! pensaram os oficiais da academia: a nossa contestação já tem cabeça! das reuniões saíam umas exigências meias parvas. falando claro, os oficiais da academia eram todos da direita e pouco dados a coisas públicas ( o melo antunes tinha uns laivos de esquerda mas pouco consistentes como mais tarde se veio a confirmar, além disso ele estava a gozar os rendimentos nos açores onde sua mulher possuia elevados bens de família). prender os elementos da pide? coitadinhos! nenhum deles tal propôs. tá quieto ó meu! nem mesmo ao post-comunista amigo/companheiro/camarada vasco isso lhe passara pelo cérebro . o companheiro (enlouqueceu em contacto com banhos de multidão) veio mais tarde a chefiar um executivo tresmalhado. afinal, o que pretendiam os da academia militar? subir na vida e não deixar que os bandalhocos fizessem das forças armadas aquilo que elas vieram a ser: um grupo de bons rapazes do bridge. resolveram sair dos quarteis e medir forças com as forças do regime. forças do regime apanhadas de surpresa, apesar da pide estar a par dos seus movimentos, não reagiram. pronto, agora somos nós que mandamos. isso julgaram os intrépidos da academia militar. os idiotas não contaram com o histerismo popular. o povo português, justiça lhe seja feita, era e é um analfabeto em potência. adere por intuição. e foi o que fez. de um momento para o outro as ruas de lisboa encheram-se de gente. multidões festejaram a prisão caricata do primeiro-ministro marcelo. foi caricata porque o herói que o foi prender ouviu dele que estava desarmado que fosse à procura do general spínola para lhe entregar o poder. ópera bufa! porra. e não é que o capitão da academia lá foi procurar o general escritor para receber o poder das mão de marcelo. imaginem, receber o poder de um homem que estava sobre prisão, caricato, não é? vejam só a noção que aqueles queridos tinham dos negócios de estado. bem os arruaceiros tomaram conta de tudo. um maluco qualquer gritou: vamos caçar os pides! e a malta foi o que fez. ah, e os presos políticos (78 ao todo. muitos comunistas e funcionários do partido comunista, por essa razão não estavam no "programa" do mfa) continuavam... presos. o edifício da pide continuava a funcionar em pleno. de repente a matula resolve cometer uma loucura e vai para a maria cardoso provocar a pide. dois deles abrem fogo e matam 5 infelizes. um deles, ex-seminarista e açoriano. um rapaz muito sossegado que foi levado pela euforia colectiva. e os presos continuavam em caxias... e nenhum herói militar foi capaz de lhes devolver a liberdade. depois das balas assassinas dos dois pides, um marinheiro ajudado pelos populares resolveu as questão. mais tarde foram os populares que obrigaram a libertação dos presos políticos. onde estavam os heróis que derrubaram a ditadura que momentos antes eram os seus mais acérrimos defensores? um deles, o otelo (que hoje já se arrependeu de ter brincado aos revolucionários) dava uma conferência de imprensa que ficou célebre. e porquê? porque ele afirmou que gostaria de ser actor. lá longe o solnado cantava através do telefone para os portugueses: malmequer, malmequer que eu não sei a letra. a verdade é que os governantes fugiram ou foram presos. quem ficou a governar? aqui é que é de gritos. os oficiais da academia. coitadinhos! só sabiam marchar. esquerdo, direito, ope dois e etc. que eu não fiz tropa. isto significava que portugal ficara sem cabeça. mas tempos depois chegaram dois intelectuais da altura. a saber mário soares e álvaro cunhal. cada um trazia uma ideia para portugal. soares queria um país que obedecesse a um regime capitalista burguês, com liberdade de expressão, onde se pudesse discutir portugal, coisa que os salazaristas não permitiam. cunhal - o russo - trazia um esquema para a sovietização do país. enquanto se formavam facções partidárias, os ministérios foram ocupados pelos militares. até eanes que era major foi presidente da rtp. um homem que naquela altura ainda não sabia falar como agora o faz. acho que a glória de matos é que lhe deu umas ensinadelas, para melhorar a dicção. o certo é que os militares estiveram dois anos à frente da nação. foi o suficiente para nos afogarmos. uma onda de politização invadiu tudo e todos. mesmo os analfabetos discutiam política consoante os seus pastores-orientadores-espirituais lhes indicavam os falares. os portugueses que se sovietizaram foram para os campos e aldeias ensinar a ler e a escrever o povo que eles adoravam... podem os mais novos gritar de gozo. mas isto que vos relato foi um facto. estão a ver aldeãos mal nutridos e cheios de sono a aprenderem a escrever e a ler tendo como professores outra caterva de ignorantes, pedagogicamente falando. tenho de acabar esta merda, senão nem mesmo eu a conseguirei ler para corrigir algum disparate. ora, criou-se uma democracia, apesar de certas forças de esquerdas se terem oposto. reinventou-se o voto livre para todos (ah, como me recordo de afonso costa. este proibia o voto aos analfabetos para não perder o lugar do de comer a ele e aos amigos). que lindeza tamanha (do régio) foi ver-se em plenos actos eleitorais gente paralisada e acamada que foi votar por medo. deram um trabalhão aos bombeiros. valeu a pena o 25 de abril? não! teria valido se quem o fez não o tivesse feito olhando para a sua barriga. poder-se-ia ter continuado portugal dirigido diferentemente. o 25 de abril destruiu 500 anos de história africana em dias. fez despovoar dos territórios africanos 600.000 portugueses, que de um dia para o outro se viram na mais triste miséria. o 25 de abril desmoronou portugal. quem disser o contrário não olha para a história, não esteve nos aeroportos portugueses, onde chegavam por dia milhares de refugiados sem malas e apenas vestidos com uma simples camisa. muito pior do que alcácer quibir. em portugal branqueia-se tudo. somos de facto um povo estúpido que acredita em todas as baboseiras que lhe enfiam pela goela. hoje, comemoramos o 25 de abril invadidos pela troika. estamos transformados nos porcos da europa. batemos no fundo. festejar o 25 de abril? só se for com a pobreza que está com o rabinho de fora.
manuelmelobento
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