quarta-feira, 3 de junho de 2015

a trindade-troika 2: salazar não mandava em portugal como ditador isolado. salazar foi um criado bem esperto das forças armadas a quem o poder lhes estava destinado pela história e pela cultura

salazar manteve-se no poder dezenas de anos porque sabia obedecer como um penitente e tinha uma maldade experimentada e adquirida no seminário. era também um desconfiado como qualquer bom rural. já foquei alguns aspetos da sua personalidade no texto anterior. bem, voltemos ao real. em 1946 lembro-me de ver um carro preto - um buick americano - conduzido por um motorista agente da polícia de segurança pública vir buscar o filho do governador civil à escola primária. o tonina, o filho, levava sempre muitos colegas consigo dentro do carrão. não era democrata, mas era bom menino. quem era o governador civil? nada mais nada menos do que um capitão. eh pá, salazar tinha entrado para o governo em 1928. logo, tinha de estaleca de governo 18 anos. e ainda precisava de militares para serem o primeiro agente do governo  nos distritos? estranho, não é!  porque ceder a militares parte do poder civil que carmona lhe tinha entregado quando era ele ainda um ditador militar simpático? é complicado explicar. ora, na altura do referido passeio em viatura do estado (local: ponta delgada-açores) havia um governo militar dos açores chefiado por um general. que tomava o nome de governador militar dos açores. vamos esmiuçar o que se passava na minha terra. havia polícia de segurança pública chefiada por um comissário mas cujo comando estava entregue a um militar com posto de oficial. a junta geral tinha como presidente um coronel. o presidente da câmara era um advogado que  vestia uma farda que pertencia a uma força paramilitar que dava pelo nome de legião portuguesa. era uma força política, mas chefiada por um militar. por acaso coronel do exército. os militares eram os senhores de portugal. sim, também havia os civis prepotentes, mas isso era outra loiça que mais tarde explorarei. um pequeno exemplo de como os oficiais das forças armadas eram quem mandava, vai neste pequeno exemplo que já digo. certo dia, o carro militar do coronel comandante do b18 conduzido por um soldado, estacionou frente a um café. o café dos chiques. como havia um sinal de proibição de estacionamento, o polícia de serviço resolveu autuar. o coronel, acabado o seu cafezinho, quando tomou conta do acontecido mandou prender o polícia. foram só três dias de calaboiço. década de cinquenta... polícia que se esquecesse de saudar militarmente qualquer oficial das forças armadas era punido. saltemos para lisboa.  ouvi falar de um general que era presidente da câmara de lisboa (frança borges) por altura dos anos sessenta. a censura estava entregue aos coronéis do lápis azul. a legião portuguesa era chefiada por um general. a brigada naval da dita legião era comandada por um almirante (henrique tenreiro). a pide era cfefiada por um militar. o major silva pais. no mesmo comando havia antigos militares. um tal tenente leitão, por exemplo, se não estou em erro. dei por mim a contar quantos militares tinham sido ou eram ainda governadores civis e fiquei a saber que a maior parte estava entregue a oficiais das forças armadas. em angola, por exemplo, todos os governadores civis eram oficiais das forças armadas. o governador-geral era  um oficial do exército. um deles foi o ten-coronel rebocho vaz. nos oficiais das forças armadas não se tocava. só quando as próprias forças armadas os expulsavam é que havia perseguição política pelas polícias "tradicionais". foi o que aconteceu com henrique galvão e humberto delgado, por exemplo. ena tantos! não foi o salazar nem a sua escolta  de lambe cus que os expulsaram. foram as forças armadas! melhor, parte delas que não admitia mudanças e a quem salazar servia. alguma vez o chefe político do estado novo iria mandar os militares para angola sem ter recebido ordens das chefias militares? foi aconselhado a fazê-lo. a máquina militar era omnipotente dentro do país. no entanto, para as incompetências e manigâncias de ordem política recuavam os militares e salazar ponha-se nos bicos dos pés. quantos golpes militares tentaram? mais de 10. e com altas patentes a chefiá-las. o que lhes aconteceu? amendoins comparado com outros países onde os civis eram de fato quem dirigia o país. a salazar estava interdito meter-se em assuntos das forças armadas! a gnr toda ela era comandada por oficais das forças armadas. se alguém, mandava neste país eram os militares. quem acham que resolveu que nos devíamos lançar nos céus com uma frota comercial? as forças armadas! foram elas que estão na base da criação da tap. ok! se havia uma polícia judicial c dirigida por civis, havia por outro lado uma polícia judiciária militar. a polícia judiciária metia o nariz em tudo. até nos chamados tribunais civis! a coluna vertebral do nosso país era constituída pelas suas forças armadas. quer se queira quer não se queira elas eram o miolo da nacionalidade. quando o império português começou a colapsar a igreja de roma tornou-se num inimigo meio declarado. principalmente quando paulo VI recebeu os líderes nacionalistas das colónias portuguesas e fez intenção de visitar o mais valioso mealheiro religioso. falo de fátima, terra de muita fé. as forças armadas não apreciaram o gesto ofensivo e mandaram salazar avançar diplomaticamente contra a santa sé. salazar assim fez. a questão não passou das sacristias e pauloVI levou o seu em contado. mas que rica dízima. então ficou assim estabelecido: cá dentro a igreja continuava a apoiar a guerra. capelães militares e bispos brigadeiros não faltavam. nas escolas, nos centros da emigração nunca faltaram os padres com vencimento pago pelo estado. (que ricas divisas enviavam), o sustento esmoler de certa camada social, etc, pertencia à igreja pois só ela sabe fazer dinheiro com a miséria e ainda por cima não de pagar impostos. acho bem que a igreja chupe algum. pois a igreja atuava como os psicólogos e não levava mais do que um simples obrigado. a igreja de cerejeira era muita humana e nacionalista. é daqui que lhe vinha o pão.  no aspeto exterior, como a igreja - por vezes é um estado europeu e por outras uma espécie de são francisco de assis de mão estendida para socorrer os pobres - tinha de  dar satisfação às críticas das grandes democracias ocidentais muito avessas a certos colonialismos, cabia a salazar dar resposta. eis que a deu: "orgulhosamente sós". senhores que me leem, isto é conversa pouco política! isto é conversa de caserna temerária. é preciso não esquecer que salazar como cristão e ex-seminarista devia obediência ao seu patriarca. estão a ver esta porra? o velho botas entre a ditadura religiosa e a ditadura dos militares tornou-se numa raposa felpuda muito sábia. era uma espécie de rolha sempre a sobreviver e a vir à tona. quando é que salazar começou a mandar? é que cerejeira tinha o povo nas mãos. fátima terra de fé dava-lhe um poder imenso na rua e nas cabeças. as armas e as centenas de quartéis entregues aos militares davam-lhes um outro poder imenso. bastavam espirrar. por isso salazar proibia correntes de ar. quando se preparava qualquer revolta militar para fazer cair o regime, salazar telefonava aos que detinham ainda as grandes forças e jogava com a intriga. era um homem informado diariamente pela pide/major silva pais. por isso esteve sempre à frente dos pré-acontecimentos militares. esse fato significava que ele ao servir de bufo aos grandes senhores da guerra obteria o apoio deles. permaneceu como primeiro-ministro e era a face visível da trindade-troika da ditadura. reparece-se que quem dá  a cara à situação são os políticos. eles foram a face do regime. são eles que discursam e que reabilitam a realidade quando esta de realidade não passa apenas de uma leitura de interesses. o estado novo foi sempre uma ditadura militar prepotente mas discreta. tão discreta que colocou a servi-la políticos que como se sabe - por experiência histórica - raramente se entendem nos negócios de estado. a ditadura militar do estado novo não permitiu a corrupção que singrou na dita primeira república tipo parlamentar. no tempo do estado novo a corrupção era mínima ou nada se sabia dela. havia um conceito de integridade fascista (fascismo português era diferente, note-se). salazar dava a ideia de ser um pobre funcionário público. até se dizia que casara com a nação para a servir. claro, tirando a parte em que acasalou com muitas mulheres. salazar era um cristão da porra. vejam só esta história: quando o prof. bento de jesus caraça, líder comunista, estava a morrer de cancro na prisão, foi-lhe negada a possibilidade de passar os últimos dias de vida em casa junto à família. salazar ficou com as culpas. não foi bem assim. a direção da pide é que  impediu o ato de caridade. ora, sabemos quem mandava na pide. logo, salazar ficou-se caladinho e nem sequer deu uma de bom cristão. o homem sabia agradar. qualquer bom filho de puta de política deixaria o seu inimigo político morrer com dignidade, pois isso só lhe traria simpatias. ah, porra, tratava-se de uma ditadura e ela caga-se para a boa figura. era uma ditadura casmurra e prepotente. tão orgulhosa que ficou a sós consigo própria. havemos de abordar a sua queda e o momento em que o dr mário soares deu início ao fim do poder militar português. aos poucos as fardas ficaram a olhar  narcisisticamente para o espelho e a masturbarem-se com o brilho  das suas medalhas. já não é mau de todo. amanhã escreverei sobre o pulo que o poder deu ao saltar dos militares e se foi escanchar nos juízes. o poder fugiu de entre os dedos dos políticos. bem feito! não souberam seguir os conselhos do pai da democracia e do partido socialista. 
varett

Sem comentários:

Enviar um comentário