sexta-feira, 12 de julho de 2013

grande entrevista de varett. cavaco criou o ministro da república para as autonomias partidárias e transformou o governo de passos/portas num governo de iniciativa presidencial

pressportugal:
esperava este posicionamento de cavaco silva?
varett:
não totalmente. estava convencido de que cavaco silva iria dar continuidade às políticas propostas por passos e portas confirmadas pelo voto popular. aliás, o governo sai da acção e confiança conjuntas da assembleia da república e não da cabeça do chefe de estado. se a intenção popular está desfocalizada com a acção governamental, então  cabe ao presidente  interpretá-la e actuar em conformidade.
pressportugal:
e não foi assim que actuou?
varett:
não, de modo nenhum! o presidente esteve-se nas tintas para os apelos de rua que mobilizaram milhões de pessoas por todo o país. também, convém não esquecer  que a rua ofendeu-o com impropérios pouco católicos. 
pressportugal:
então como interpreta a atitude do presidente?
varett:
o presidente é um homem de direita. da direita católica, defensora acérrima da propriedade inspirada nas teoria do capitalismo competitivo com influências americanas. actuou em defesa da sua visão e não está sozinho nesse  mundo. 
pressportugal:
o presidente não se ficou só pelo discurso de esclarecimento...
varett:
não, a ele cheirou-lhe a oportunidade de ser poder máximo. percebeu que o psd de passos e o cds de portas apesar de desavindos não estão disponíveis para irem a eleições. seriam derrotados e postos fora dos negócios do estado por indecente e má figura. tanto o governo quanto a assembleia da república não querem ouvir falar de dissoluções. a vida corre-lhes bem enquanto o país afoga. o presidente conhece o seu mal cheiroso habitat.
pressportugal:
e o partido socialista não conta para este arranjo, uma vez que está comprometido também?
varett:
cavaco sabe que o ps de seguro representa apenas  50% do partido. e que enquanto seguro não for expulso é seu "aliado".
pressportugal:
aliado?
varett:
sim e de real valor. imagine o que criou o presidente cavaco: uma espécie de ministro da república para os partidos.
pressportugal:
não percebo?
varett:
a tal figura que vai embrulhar os três partidos num só pensamento a fim de se concertar um entendimento nacional sobre temas candentes. os três companheiros da europa neoliberal apressaram-se muito rapidamente a responder que sim aos  "conselho" do presidente. estão todos rendidos às diabruras do chefe de estado e nem sequer se predispõem a discutir as directivas presidenciais. refiro seguro, passos e portas.
pressportugal:
este aceitar colaborar com as disposições do presidente não impede  o governo de ter manter personalidade política?
varett:
a partir do momento em que o presidente intervém na composição do governo, este governo não é mais do que um governo de iniciativa presidencial.
pressportugal:
para isso teria de apresentar um orçamento novo para ser aprovado na assembleia da república e devia o presidente tê-lo anunciado como tal.
varett:
este governo não corresponde àquilo que tanto o psd quanto o cds apresentaram ao presidente. o presidente chumbou o governo proposto pela coligação assente numa maioria absoluta. em seguida o presidente disse a passos como é que  devia ser composto o executivo. discutiu as negociações com a troika previamente com passos. tanto cds quanto psd recompuseram o governo sob a orientação de cavaco. se este não é um governo de cavaco, o que será então? mais grave ainda foi o golpe que cavaco impingiu ao cds. pires de lima um alto responsável centrista e empresário de renome do norte - já assinava cartões de visita como ministro - iria ocupar a pasta da economia. cavaco disse não. aquele que está lá fica. ninguém mexe no álvaro! proibiu o fogoso paulo portas de sair das necessidades e que não sonhasse ser vice-primeiro-ministro. obrigou assunção cristas, mesmo em demasiado estado interessante, a trabalhar sem estar a dividir horários com mais ninguém. 
pressportugal:
o país está acima dos interesses pessoais, foi o que quis dizer o presidente ao indicar caminhos de esperança e de futuro. não acha?
varett:
o que eu acho é que interesses pessoais e de grupos se posicionaram acima dos interesses de todo um povo. 
pressportugal:
do modo como vivíamos era muito provável que o país não sobrevivesse no modelo actual e que estivéssemos à beira de uma guerra civil.
varett:
se a gente da política conseguir impedir isso, ainda bem. eu não acredito em milagres, mas que eles trazem muito dinheiro aos santinhos e seus procuradores lá isso trazem.

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