Logo após a destruição do Estado Novo, não se vislumbrou nenhum português ao nível de estadista, excepção feita a Cunhal e a Freitas do Amaral. Mário Soares, Melo Antunes, Sá Carneiro e até mesmo os republicanos que coabitaram com o antigo regime não passavam de uns líricos oposicionistas da primeira divisão. O resto da maralha tinha poucos conhecimentos. Cunhal trazia a visão de um Portugal à la Moscovo. Estruturado pelas massas trabalhadoras tendo como cabeça um partido comunista a dirigir uma economia planificada. Não conseguiu impor tal regime porque a malta que ficou no país enquanto ele cursava o Estado totalitário na antiga URSS não dava uma para a caixa. E o povo explorado nunca se virou para tal aventesma anti-Cristo e anti-Fátima que era e é o seu pão espiritual e ideológico. Freitas do Amaral poder-se-ia de apelidar de sábio que não ficávamos a dever nada a ninguém. Ele conhecia e bem por dentro e por fora o que fora o Estado português no tempo de Salazar. Daí que vê-lo, sendo então democrata-cristão creditado e sediado em Lisboa, a defender teses do estilo contra os novos e ignorantes esquerdistas e levá-los à parede foi um instante. Lembro-me do baile que ele deu na RTP a adversários o que foi confirmado pelos media. Esta bosta difusora que surgiu logo após o cheiro dos cravos histéricos até disse dele o seguinte: um homem sem razão que ganhou o debate. Só que Freitas entendia, na altura, que ser-se estadista (e até o foi - por pouco tempo - após o 25 de Abril de 74) era defender teses de um país que já não existia. Anos depois, percebeu que também podia ser democrata à la Mário Soares. Mais à frente explicarei esta questão. Mário Soares, o chamado pai desta democracia, repito desta democracia, era (está vivo e ainda bem) um teórico burguês liberal que aprendera nos países ricos como viver em democracia de voto e onde se poderia ver em cinemas a foda no cu de Marlon Brando à Schneider. O mesmo é dizer certa liberdade de expressão. Só que Soares - que nada percebia de economia portuguesa por a não a ter estudado - não lhe deu para comparar países democratas que vendiam e exportavam muito para fora como a França, a Alemanha, Luxemburgo, etc. Se tivesse feito tal raciocínio teria chegado à conclusão que Portugal só poderia começar a mudar arejando o marcelismo reformador, isto é, acabar com certos poderes da polícia política (ainda a temos) e permitir à comunicação muito mais espaço de manobra, para se poder discutir publicamente as independências das colónias e outros temas quentes. Quando Soares se apercebeu da bronca, empurrou-nos para a Europa dos ricos sabendo que daí poderiam advir muitas esmolas para poderem arcar com as loucuras do novo Portugal "democrático". Esqueceu-se que a entrada para o clube das guerras e invasões era muito cara. Está-se a ver, melhor, viu-se. De Melo Antunes nada se lhe pode exigir quanto à dimensão de estadista. Ele próprio quando se apercebeu da grande bronca dos cravos fugiu a sete pés quando o convidaram para primeiro-ministro. Ele sabia que não estava à altura e para fazer a figura do companheiro Vasco não dava, tal era o seu entendimento do ridículo. Quanto a Sá Carneiro, bem o homem cresceu contra tudo e todos. Parecia o De la Mancha. Nascido no Estado Novo, tal qual o Fernando Dacosta, a sua cabeça não estava preparada para governar sacanas e analfabetos cuja arma era o voto sectário de várias tendências - na altura pró-esquerda da moda. Imaginem o que lhe deu para fazer em plena euforia histérica sino-soviética: nomear um antigo chefe de uma prisão como candidato à presidência da República. Eh pá, de longe o Cavaco e as suas asneiradas. Passemos para os dias de hoje, ou aproximadamente. Quem poderia ser considerado estadista nos dias de hoje? Olhemos para os nossos políticos sem ideias preconcebidas. Louçã? Bom, o que ele fez nos últimos dias merece respeito. Apercebeu-se ou foi levado a perceber que este governo actua contra os trabalhadores. Moção de censura. Nada mais lógico! Perdeu mal dadas as circunstâncias a que o país atravessa no campo do oportunismo. Não sendo um estadista é uma referência intelectual do país. Passos Coelho? Bem, passemos adiante. Sócrates? Neste momento, não tendo explicado ao povo que ele governa o lodaçal onde estamos metidos devido... a termos nascido portugueses, perdeu credibilidade. Nós precisamos saber das razões da pancada que estamos a levar nos nossos dinheirinhos. Porra, Sócrates, vai às televisões e explica-nos a razão desta miséria. "Tu" aparecias sempre que te enxovalhavam. A vida dos portugueses não será mais importante? Mais, se estamos na miséria, porra, por que razão uma quantidade inconcebível de chulos ainda estão a viver à tripa forra com os dinheiros dos contribuintes? Pensei errado sobre o primeiro-ministro. O homem tem de prestar contas ao povo. Ele não se dá conta disso? Estadista? Porra. Jerónimo de Sousa deve estar a tapar algum lugar para sair algum coelho na altura própria. É o submundo da política dos clandestinos. Paulo Portas? A meu ver tem um programa de Estado, pois apresenta sempre directivas ou levanta questões de Estado. Porém, falha quando, como homem de direita, se torna cúmplice de jogadas que estão a degradar o país que ele tem na manga e no pensamento. É, nos dias de hoje, o líder legítimo da direita. Mas só isso não basta. Precisamos de uma força partidária que assuma um líder que aponte um caminho, mas que não dialogue neste modelo. Dialogar e tergiversar é o que fazem os nossos políticos e bem. São muito inteligentes, reconhece-se. Mas só isso não serve.
PS: Talvez, na manif de amanhã surja o demiurgo, pois de desejados estamos fartos.
manuelmelobento
Sem comentários:
Enviar um comentário