domingo, 5 de setembro de 2010

LANÇAR CÉSAR PARA APARAR ALEGRE






César, socialista dos Açores é, hoje, um dos poucos políticos que escapou à sanha circense da comunicação social. Isto é, ao tempo que ele governa a RAA, aquela nada tem a apontar-lhe a não ser sucessos sucessivos. O mesmo já não dizem os adversários políticos, porém, isso até é salutar num sistema democrático (ainda não muito recomendável). Há tempos, quando César ganhou pela primeira vez as eleições legislativas regionais, julguei-o mal pois comparei-o a outras personagens que com o andar dos tempos demonstrariam não terem a inteligência nem a apetência para líderes. César seria naquela altura a mente mais salutar dos quantos, de bicos nos pés, queriam autoproporem-se como actores e fazedores de futuros. Beatos e pagãos ao estilo das ilhas de bruma fechadas até ao mar, os seus competidores mais não tinha do que um visão parcelar do que era a vida público-política. César abriu os horizontes sociais muito mais do que Mota Amaral. É bom que se diga que Mota Amaral governou os Açores numa altura em que até os seus "amigos" da direita cristã lhe criavam todo o tipo de obstáculos. Por uma birra ou coisa mais séria, o líder social-democrata abandonou a meio a "sua" obra e escondeu-se na capital. Onde lhe atribuiram um cargo que é uma espécie de Óscar de fim decarreira para quem o esquife se prepara para receber com flores e circunstância. Deixou órfãos toda uma caterva de descabeçados, que habituados a não terem ideias se foram desmanchando pelas paróquias e pelas romarias. Mota Amaral tinha um número dois - Américo Viveiros - que num golpe de mágica se apossara de uns quantos órgãos de comunicação social. Uma espécie de Balsemão, mas de outras origens. Vi nele uma alternativa à chefia de Mota Amaral. Quer se goste dele ou dele se tenha reservas era natural que viesse a liderar o PSD/Regional. A Igreja e ele são uma espécie de compadres de sacristia o que lhe fornecia uma capa carmim pró suave beatificação ao gosto dos indígenas votantes. Mas, Natalino Viveiros perdeu-se. E perdeu-se por não ter optado por colocar o serviço público como primeira grandeza a alcançar. Olhou demasiado para si mesmo. E adeus! Muito tempo depois, os laranjas organizando-se refizeram-se à volta de Berta Cabral. Porém, perderam precioso tempo com a reformulação das hostes e estripanço das tricas internas.

Com este grande vazio de oposição, César teve tempo para criar uma espécie de Estado Novo-Social Regional . A Justiça, as Forças da Ordem, a Corrupção, o Desemprego, a Imagem dos Dirigentes, as Relações com a Igreja, o Compadrio, as Obras Públicas, os Abusos do Poder, etc., tudo isto está controlado por César de tal modo que se pode dizer que a Região é um exemplo em comparação com outros. Como é que César chegou a este ponto alto numa altura em que a imagem dos políticos é aquilo que todos nós sabemos? O que sei e estou apto a referi-lo, é que quando alguém mete o pé na poça leva um bilhete de ida sem volta que se vislumbre. Sai, simplesmente. Para governar e bem nada como uma opinião pública cordata, obediente e pouco reivindicativa. E há que dizê-lo: reivindicar o quê num país no estado em que está?

Sócrates, o mais chamuscado chefe de governo dos últimos 110 anos (10 anos mais para incluir João Franco) sabe que precisa como de pão para a boca de um socialista que resista às invectivas de certa comunicação social que se apraz em queimar tudo e todos - o mercado democrático assim o exige. A política de terra queimada contra esta esquerda portuguesa tem vindo a cimentar o carisma de Cavaco Silva - não se sabe onde o foi buscar (só se é por nunca abrir a boca) - permitindo prever-se uma derrota em grande estilo dos socialistas. Assim, sem outra alternativa para quebrar a descida das intenções de voto nas presidenciais e com Alegre entregue a deambulações mitológicas no universo dos Direitos, Liberdades e Garantias, Sócrates começa a empurrar César para torná-lo no escudo protector pós-presidenciais. Tudo leva a crer que Cavaco ganhe as eleições. Em seguida cai o governo e a consequente saída de Sócrates. O PS sem chefes carismáticos e impolutos - repito impolutos - precisará de mais um líder a prazo para se poder impor no deserto que se avizinha. Só César está nessas condições! César está para Sócrates como o Padre Cruz esteve para Salazar. É que enquanto o santinho viajava pelo país abençoando galinhas, perús de Natal, esta e aquela velhinha, Salazar lá ia governando também abençoado. Cairá César na esparrela? Para já ele diz que não.

manuelmelobento







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