sábado, 16 de janeiro de 2021

CONDESSA, CONVERSAS: CONCLUSÃO.

 


PRESSPORTUGAL:

Senhora Condessa, que me diz de Salazar e do Estado Novo?

CONDESSA:

O que vou dizer não vai ser entendido senão daqui a umas boas dezenas de anos, ou mesmo centenas. Preste bem atenção porque só vou contar factos. Em termos estritamente políticos, Salazar foi um dos grandes políticos portugueses, se não foi o maior em meu entender anda por lá perto. Chefiava um governo autocrático, com certeza. Por exemplo, comparando-o com Dom Afonso IV, Dom João II, Dom João IV, Marquês de Pombal e vou parar por aqui, acho que ele governou sem necessidade de matar com as suas próprias mãos portugueses adversários tal como o fizeram essas grandes figuras históricas. As suas mãos ainda cheiram ao sangue das vítimas: Inês de Castro, Duque de Viseu, Miguel de Vasconcelos, os Távoras. 

PRESSPORTUGAL:

Perdão Condessa, e a PIDE que até matou um escultor por ser opositor ao regime? Além de outros assassinatos? Não contam?

CONDESSA:

Opositor comunista! Se os comunistas  apanhassem o Salazar não o transformariam em carne picada para os porcos? Claro que sim! O que a PIDE fez não se desculpa. Como também não se desculpa o que a polícia dos estrangeiros...

PRESSPORTUGAL:
SEF!

CONDESSA:

Isso! Repare que essa polícia matou sem motivos políticos. Um  verdadeiro horror. Continuando: repare como era Salazar : Naturalmente quem conhece factos passados, hoje em dia, sabe que ele nomeou opositores ao Estado Novo para o seu próprio governo. Coisa que estes governos autodenominados de democráticos não fazem. Por exemplo, o Prof. Adriano Moreira foi preso por ter sido defensor de uma família que acusara um ministro poderoso do regime de ter sido cúmplice do assassinato do seu familiar. A acusação implicou de imediato crime contra a segurança do Estado. Adriano Moreira e a mulher da pessoa que tinha sido assassinada foram condenados e presos tendo ficado hospedados na famosa cadeia do Aljube. Adriano Moreira era opositor político de Salazar, para que conste. Por coincidência, também lá na cadeia se encontrava o dr. Mário Soares. Uma festa! Repare que depois deste episódio, Salazar convidou o Prof. Adriano Moreira para secretário de Estado e mais tarde para Ministro do Ultramar. Salazar transformou Portugal numa potência em que a unidade do Estado era um objetivo de muito peso.

PRESSPORTUGAL:

Os partidos políticos estavam proibidos... e depois houve a Guerra Colonial, onde a juventude morreu por nada.

CONDESSA.

Partidos políticos, uma coisa medonha! Passam a vida a falar mal uns dos outros. Ainda esta semana o Primeiro-Ministro acusou políticos portugueses de falarem mal de Portugal. Onde é que isto vai parar? Quanto à morte de jovens em África, eu naquela altura,  porque sou católica apostólica romana, acreditei que era o dever dos portugueses marcharem para a guerra. Isso deveu-se em grande parte porque o Cardeal Cerejeira abençoava os nossos soldados antes de partirem, e eu achei que ele, que representa Deus na Terra mas na parte de Portugal pois é delegado do Papa, estava em sintonia com Ele, Deus Nosso Senhor.

PRESSPORTUGAL:

Não acha que foi criminoso essa bênção da parte de Cerejeira pois foi cúmplice de Salazar e dos ultras (que enchiam o papo à custa da guerra) na morte de 10.000 (dez mil) rapazes. 

CONDESSA:

Criminoso?, não acho. Talvez o Cardeal  tivesse percebido mal o que Deus lhe disse para fazer. O Cardeal já tinha a sua idade e ouvir bem não era o seu forte. Que Deus o tenha junto a si. Ele estava sempre bem disposto. Devia ter sido Papa. 

PRESSPORTUGAL:

Para terminar, o que acha a senhora Condessa do Milagre de Fátima?

CONDESSA:

Em primeiro lugar, uma grande honra termos sido distinguidos com a visita da Mãe de Deus ao nosso País. Depois, Ela ter falado diretamente a três pastorinhos que para além de pobrezinhos eram analfabetos. Souberam transmitir palavra por palavra o que a Senhora de Branco lhes dissera. Eram muito inteligentes embora um pouco toscos. Isso para mim é outro milagre. Outra parte do milagre foi o facto de eles terem referido a Rússia, terra do pecado e da destruição dos santinhos da nossa  religião verdadeira. Sempre que posso dou uma saltada a Fátima para lá rezar e pagar promessas. Em geral é em dinheiro vivo que o faço. As velas são muito pesadas. Ah, evito ir nos dias dos peregrinos! É muita confusão e pouca higiene.  O passeio até lá também me dá muito prazer. Peço sempre ao Joaquim (motorista) que vá devagar para aproveitar a paisagem.

PRESSPORTUGAL:
Desculpe interromper. E quanto ao sol ter dado umas curvas no "13 de Maio" ?

CONDESSA:

Meu caro senhor, milhares de testemunhas idóneas observaram esse fenómeno. Peregrinos e fiéis que assistiram ao poder de Deus. Um poder divino que até mexe com os astros e os planetas. Gostaria de perguntar a Galileu: e agora, já acreditas? Acha que os Papas se iam incomodar a vir a Fátima se não fosse um grande milagre verdadeiro que até transporta muito ouro para o Vaticano e que serve para manter a Igreja de Cristo luminosa que nem mil sois.

Fim



1 comentário:

  1. Vejo, com pena o fim do Acto II. Tenho a certeza que essa condessa tem muito mais para dizer... Por acaso sabes se ela era amiga da marquesa? A tal do terceirense amigo da FLA?!!
    O quadro é, como os outros, um espectáculo! "O sonho de uma Condessa". Pode ser?

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