sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Independências e nervos

É sabido,  menos para os "historiadores" portugueses assalariados a todos os regimes que alcançam o poder, que hoje somos um país independente (o quanto possível) devido às constantes intromissões de Inglaterra nas disputas que tínhamos com Castela. Aquela procedia assim para nos dominar economicamente e enfraquecer o poder espanhol. Filipa de Lencastre veio para Portugal no século XIV como esposa real de um usurpador de trono e como orientadora da política indígena o que fez com que nos atirássemos mar adentro. Nós, que não passávamos de camponeses-pescadores dominados por meia dúzia de cavaleiros, fomos, de um momento para o outro,  metidos em navios com mercenários ingleses para ajudar a assaltar as riquezas e praças muçulmanas do Norte de África. Começou com as instruções daquela Bifa - a mando de Inglaterra - o êxodo das populações para o litoral o que fez ainda mais despovoar Portugal. Quando Castela se transformou na maior potência do mundo, tornámos a ser hispanizados de facto e de direito. Ao cabo de 60 anos de inclusão ibérica, França e Inglaterra, aliadas, conseguiram sujeitar Castela a grandes perdas e voltámos de novo a ser "independentes". Para isso foi só preciso atirar um desgraçado por uma janela. Foi a Restauração mais barata do mundo. Muito mais barata do que aquela que recolocou a direita no poder no Chile. É de lembrar que Salvador Allende enfrentou o exército de Pinochet com o rifle AK-47 nas mãos (julgo eu que não estava lá). Morreu, claro, pois estava praticamente sozinho no seu gabinete. Porém, não foi atirado pela varanda do palácio de La Moneda como o pobre Miguel de Vasconcellos o foi do Paço Real de Lisboa. Valha-nos ao menos isso. Claro que os reis castelhanos não se ficaram por aqui e procuraram recuperar o perdido. Porém, não conseguiram porque encontraram sempre ingleses pelo caminho. Mais tarde, quando os ingleses empurraram a Rainha Dona Maria I, acompanhada de seu filho, o futuro dom João VI, para o Brasil, quem acham que ficou a mandar em Portugal em termos absolutos? Isso mesmo, os ingleses! Imaginem que até nomearam vice-rei de Portugal o inglês Beresford. Quando se fala nas fortificações das Linhas de Torres que serviram para assustar os franceses (como diz Barry Hatton)  na Guerra Peninsular, quem acham que as mandou construir? Sir Arthur Wellesley, claro! Portugal sempre foi uma espécie de cloaca aberta para todo o serviço britânico.  Apesar de termos sido durante muitos anos uma colónia inglesa, o certo é que nós sempre os papámos. Querem mandar em nós, tipo escurinhos alforriados?, tudo bem! Trabalhem enquanto nós estamos deitadinhos nas nossas praias e/ou a dormir nas pampas do Alentejo, à sombra, claro! O nosso ouro desenvolveu a indústria inglesa? É verdade! Só que o ouro era por nós roubado e nada nos custava. Isto é, caçávamos escravos,  pusemos os desgraçados a garimpar o ouro de que nos apropriávamos depois e que nos serviu para comprar tudo o que a indústria inglesa produzia. Era cá um luxo. E a gente a descansar. Tivemos um rei que ficou cheio de ouro e que até mandou construir uma pirâmide tipo das do Egito . Foi em Mafra. Aquilo é que foi. Era tudo lucro! Fomos os maiores negociantes de escravos do mundo. Vendemos qualquer coisa como uns 4 milhões de seres humanos para serem esfolados  nos engenhos do  Novo Mundo . Quando a Inglaterra acabou com o mercado de escravos e nos obrigou a fazer o mesmo, nós inventámos um esquema para continuar a chupar a pobre gente de África. Querem saber como? Olhem, perguntem a Miguel Sousa Tavares. Aquela de o escravo africano comer a inglesa quase no fim do romance pondo os cornos (cuidado com o juiz Neto Moura) ao marido e ao amante branco foi de gritos. Eu não esperava tal desfecho! Já tinha ficado satisfeito com a inglesa a fornicar com o governador português...  Isto são apartes... Esta coisa de independências deixa-me nervoso. Agora falando a sério, será que somos realmente independentes de Espanha depois de nos termos libertado do jugo inglês? Já não temos fronteiras com ela. Podemos comprar lá de tudo pois qualquer coisa é sempre mais barata do que aquela que encontramos por cá. Mais dia menos dia o nosso sagrado Serviço Nacional de Saúde - que já matou perto de 3.000 portugueses em filas de espera - vai ser entregue aos nossos hermanos por ser mais barato e eficaz. Morre-se muito nas listas de espera quase tanto quanto se morre nos nossos hospitais. Não estou a sugerir nem a afirmar, estou a ouvir apenas algumas conversas... Não dá para avançar mais, pois a procissão ainda vai no adro... Claro que não queremos ser espanhóis. O que queremos de Espanha é o mesmo que quisemos dos ingleses, que o mesmo é dizer resolvam os nossos maiores problemas que a gente não se importa que mandem em nós.  A independência da Catalunha? Pois, mas para isso tenho de consultar o modelo de dom Pedro IV, o dos gritos do Ipiranga. Se Sua Alteza Real não tivesse berrado tanto nas bordas daquele rio, penso que ainda hoje estaríamos a vender o Brasil aos poucos. Isto é, como já se foram o ouro, a prata, o pau preto, os diamantes, as pedras preciosas, etc. não me admiraria nada que estivéssemos a vender a terra de cultivo em vasos lá para os lados dos Jerónimos... Com vasos "manufactured in England", obviamente. Quem é que ao longo dos anos  quis tornar Portugal independente de Castela e subjugado de Inglaterra? Que classe social tinha interesse nesta separação? E a Catalunha? A Catalunha é rica porque se desenvolveu por si. É apetitosa, portanto. São dois mundos. Um quer ligar-se aos ricos e o outro quer ser rico sozinho. Ia esquecendo a questão nação. Vem complicar ainda mais qualquer interpretação para ajudar quem não quer ceder autonomias a outrem. Eu sou uma nação e quero ser independente! Será que posso?  Depende! Não é nada comigo e eu estou a ficar nervoso. 4 anos antes de eu ter nascido a Espanha vivia uma guerra civil que fez cerca de 1 milhão de vítimas mortais. Foi uma coisa horrível. Digo eu que não estive lá. Existem independências pacíficas? Não me parece... Por que razão não escrevi um texto com cabeça? A Guerra Civil de Espanha não tem nada a ver com independências mas sim com troca de ideias. E nós? Brigamos por causa delas? Não, porque isso de pensar é lá com os ingleses. 

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