domingo, 5 de novembro de 2017

O que aconteceria se os jornalistas resolvessem fazer greve indeterminada?

Sem hipótese de usar os Meios de Comunicação Social  que papel estaria reservado às instituições? Afogar-se-iam? Criariam meios próprios...

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Não é fácil imaginar o que seria. A informação circularia, quando muito, através das redes sociais. As investigações judiciais/policiais e as sentenças dos tribunais, por exemplo, estariam abafadas até que os novos "rede-jornalistas" conseguissem publicar os esclarecimentos das "autoridades". Este tipo de jornalismo atafulharia e entupiria os novos canais de informação, porque haveria mais destes "videojornalistas" por metro quadrado que ovas de esturjão do Mar Negro. O desinteresse instalar-se-ia. Sem videos da violência quotidiana (que é o que mais vende) a informação cairia no desinteresse geral. Sem um jornalismo "condicionado" pelas redações afetas a este ou aquele grupo económico e político desapareceriam os comentadores. Sem relatos de futebol que empolam os mitos humanos lá se iam os milhões que circulam pelos futebóis. As atuais estrelas do desporto valeriam meia dose de pó de anjo quando muito. Os políticos teriam de descer permanentemente à rua para falarem cara a cara com aqueles a quem mentem nos actos eleitorais para se manter nos seus "empregos". Caso contrário cairiam no anonimato. Sem intermediários qualificados ideologicamente como são os jornalistas de hoje, a moda retornaria para as mãos dos alfaiates e costureiras desconhecidas. As modelos rebolantes que ficam famosas a transportar trapos e cedas ficariam tão isoladas do social que para sobreviver teriam de fazer horas extras fora das passadeiras. Os párocos do púlpito e a mando dos seus bispos restaurariam o poder de programar mentes servíveis do alto. O acto sexual regrediria na prática aos primórdios e as mulheres perderiam o ar atual de satisfação que conquistaram à custa do remeter as leis da Bíblia para o calhau dos bikinis. A Felicia Cabrita serviria hambúrgeres nos intervalos da sua atividade de caçadora de cabeças poderosas. Os paparazzi morreriam de fome e a apanha de um rabo de fora de fêmea-figura-pública não valeria mais do que uma vela de oráculo da Cova de Iria. O "sexta às 9" e a nossa Sandra Felgueiras nunca mais mexiam na caixa de Pandora. Sem jornalistas para interpretar a realidade, seríamos incapazes de pensar. Não haveria factos e sem factos o cérebro vegeta. Sem jornalismo a DECO passaria a bater de porta em porta à procura de queixas domésticas. Sem jornalistas as polícias nem um camundongo apanhariam de dia. Sem jornalistas que fazem parte do trabalho policial os agentes teriam de vir para a rua (o que não era mau) e não estariam  refastelados à espera de queixas e de telefonemas aflitivos. Sem jornalistas o INEM não passaria de um carro funerário. Sem jornalistas a floresta nunca arderia mais do que 6 hectares. Sem jornalistas ninguém seria preso por corrupção nem o BES e outros bancos implodiriam. Sem jornalistas nunca teríamos assistido a prisões em direto de políticos ordenadas por magistrados mediáticos nem teríamos acompanhado também em direto à prisão de um deputado enquanto "trabalhava" na Assembleia da República. Sem  jornalistas (Gustavo Sampaio, verbi gratia) nunca ficaríamos a saber que o Parlamento Português acoita um grupo de corruptos que fez perder milhões de euros ao Estado em contratos criminosos. Sem jornalistas não sairíamos da Idade da Pedra. Sem jornalistas não teriam desaparecido armas dos quartéis. Sem jornalistas alguns inocentes apodreceriam nas cadeias. Sem jornalistas nunca saberíamos onde se encontraria o nosso querido e beijocas Presidente. Sem jornalistas nunca saberíamos que quem manda nos preços da energia são uns capangas que até acagaçam os governos. Sem os jornalistas nunca saberíamos quem esconde dinheiro nas offshores e foge aos impostos. Sem jornalistas nunca nos passaria pela cabeça que há uma justiça para pobres e outra para ricos. Sem jornalistas a sociedade é uma caca. O videojornalismo, hoje, alimenta em grande parte o jornalismo que se vende pelas estações televisivas porém não se trata de um jornalismo propriamente dito que investigue. É fruto do acaso. Sem jornalismo tudo ficaria isolado. Os jornalistas ainda não perceberam o que representam nem o poder que têm na sociedade moderna. Quando um dia se separarem das instituições - que ainda por cima não os respeitam - uma nova filosofia de vida formará novas mentalidades. É o futuro!

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