Ainda não tinha entrado no estádio de vigília e já o aparelho de televisão - para além de transmitir muita e indigesta publicidade nos dá a dica para a conversa na hora do pequeno-almoço. Entrou-me quarto dentro quais ares tipo caldeiras (das Furnas) a pronúncia de um muito mediático homem da Constituição à portuguesa. Disse ele que nem os Açores nem a Madeira contribuíam para o orçamento de Portugal. O nosso homem não deve petiscar ninum de extorção histórico-económica. Bem, deixa-me explicar esta entrada: o constitucionalista estava a responder à questão levantada sobre se o regime remuneratório que César tenciona aplicar na Região Autónoma dos Açores é ou não um acto abrangido pela constitucionalidade? Para nós a Constituição portuguesa é tão complicada que o melhor é atirar moeda ao ar para a interpretar no caso de haver dúvidas. Veja-se o caso das escutas e as milhentas interpretações dos chamados constitucionalistas... portugueses. Por esta razão não vou discutir a opinião do septuagenário mediático acerca das voltas que uma administração autónoma quer implementar apoiada pelo sentir dos actuais representantes do Poveco Açoriano. Porém, não posso deixar de dizer o que se segue para memória cultural futura do velhinho simpático que entra nas nossas casas qual missinha difundida pela antiga estação da Igreja antes de a pornografia oficializada ter ocupado o seu tempo de antena: ainda há gente que está viva e que se lembra de uns escroques que atacavam os camponeses açorianos para lhes sacar o milho e o trigo que eles tinham colocado a recato para poderem sobreviver ao longo do ano. Esses escroques eram funcionários da administração central - vulgo sacanagem do Terreiro do Paço. Os cereais serviam para matar a fome aos continentais. Bem, não sei se sabe que este poveco vive dispersado por nove ilhas que até ao ressurgimento do papão do separatismo passava fome e que tinha uma vivência comparada com os explorados enfiteutas da Idade Média. Veio o tal 25 de Abril e juntamente com ele surgiram os movimentos de emancipação dos povos insulares legitimada pela História do Homem Moderno cujos ditames apontam para direitos,liberdades e garantias. É isso que os povos habituados ao colonialismo como modo de vida não percebem. Desde 1415 que é assim. Foi sempre a sacar e não contentes com isso parte do poveco português também se dedicava à escravatura... e para nossa vergonha até em pleno século XX. Mudar mentalidades e comportamentos não é fácil e isso nota-se, pois ao colocar o país na Europa e obrigá-lo a funcionar como país higiénico foi o nosso fim. Bancarrota meu caro. O seu e ainda meu país anda de bancarrota em bancarrota. De corrupção em corrupção. Esta é de tal ordem um modo de vida dos portugueses que ainda há pouco tempo a banca privada golpeou o Estado em milhões de milhões de euros e não vi ninguém chamar a atenção para a constitucionalidade da cobertura que os Órgãos de Soberania lhe fizeram. Não sabe ou não quer saber, mas eu digo-lhe: o Portugal Constitucional, uno e indivisível (esta é para rir) esteve à beira de nos vender (AÇORES) no passado século XX para pagar as suas dívidas públicas. Nós vivíamos em rochedos mal habitados e tínhamos de pagar impostos alfandegários para transicionar produtos entre eles. E esta verba arrecadada servia para encher os cofres do Estado. Os Açores sempre foram explorados e o poveco que o habita de tão habituado a servir não compreende o quanto pode ser livre. Existe, sim, uma classe um pouco mais evoluída, que sabe que a coisa está contaminada pelo espírito de liberdade que é devida a todos os povos. E raios partam aos colonialistas. Vão trabalhar para poderem comer. Desde que para aqui viemos que temos sido chulados, roubados, vilipendiados, enviados para o Brasil como servos da gleba, transformados em tropas assassinas para contento da ganância dos que tomam o poder central, explorados em todos os níveis comerciais. Depois disso tudo ainda se dão ao luxo de falarem por nós sem sequer nos consultarem. Quando mudam de regime impõem-no como se tratasse de um dado adquirido. Alguns de nós já olham para certa classe que tomou as rédeas do poder como mafiosos, mentirosos e trapaceiros sem palavra honrada.
A Constituição portuguesa...
manuelmelobento
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