sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O PADRE MANUEL ANTUNES, O MITO E O LOGOS E OS PARECERES DE ALGUNS NACOS CEREBRAIS

Naturalmente, a convite do Jornal de Letras, dirigido pelo  ex-antifascista José Carlos de Vasconcelos, alguns nacos cerebrais da nossa comunidade letrada e não só (1) puseram-se a debitar encómios para serem encaixados no conhecido quinzenário e relativos ao centenário do nascimento do padre Manuel Antunes. As baboseiras ronhosas  foram tantas que mais pareciam discursos de parabentalização dos cem anos da avozinha do Capuchinho Vermelho muito antes de ser comida pelo Lobo Mau.  Fui aluno do Padre da História da Cultura Clássica. O que ele dizia nas aulas repetidamente entra ano sai ano era sempre o mesmo, com algumas exceções relativos a acrescentos provenientes das suas investigações em períodos de férias. Comprar a sebenta com aquilo que ele debitava qual gravador audível em baixos decibéis era o mesmo que assistir às suas aulas cheio de sono que ele também fomentava inocentemente. O Homem sabia tudo e mais qualquer coisa. Era para mim uma autêntica pipa de saberes. Falava línguas mortas ou de antigos (re)vivos textualmente. Lia-as nos originais. Quase que apostava que ele sabia mais coisas sobre os Gregos do que eles sabiam de si próprios. Era um sábio enciclopedista. Hoje, seria comparado a uma wikipédia volante, mas muito mais rigorosa e científica. Ouvi-lo discernir sobre o Mito e o Logos era cá uma coisa tão intensa que se podia comparar com uma descida ao Hades logo seguida a uma subida  ao Olimpo. A maioria não percebia nada do que o bom Padre narrava com palavras recheadas de bolor conventual. A sua Cadeira servia vários cursos. Derramava cultura sobre todos e todas aqueles  que frequentavam as salas de aula e que certamente se autopropunham para serem mais tarde considerados a futura elite intelectual e nacional. Coisas do Estado Novo ao pretender formar o seu futuro escol representativo. O Padre colaborava com o censório Estado Novo como quem vai obrigado à missa de domingo para não ser visto como suspeito do pároco, das beatas e dos bufos. Quer dizer, para não ser mal visto. Era como todos nós, que embora não colaborando, permitíamos em consciência aquela pouca vergonha. Claro que houve exceções, mas estas cabiam a funcionários efetivos do Partido Comunista que vivia de remunerações e donativos provenientes do Kremlin. A aulas de Manuel Antunes eram chatas e peganhentas. As Aulas Práticas, dadas por uma assistente do tipo mnésico repetitivo, eram cá outra pegada de dinossauro: Ulisses e as suas rotas marítimas até que voltasse para a sua Penélope tornada virgem tantos foram os anos a seco que passou longe do aventureiro , seu homem,  e dos seus excessos sexuais (digo eu que naquela altura dava lugar a "despejo" qualquer atitude depravada conotada com a área dos prazeres. Para terminar, pois quem quiser saber o que fora aquela pipa de saber mas não de sabores na boca de graxas intelectuais que leia os tais nacos cerebrais no JL. Dizia eu, que uma coisa era ler os Diálogos Platónicos e abrir a boca de espanto com tanta interação entre aprendiz e mestre, outra era ouvir falar de Filosofia por quem não tinha a elasticidade socrática. Talvez Manuel Antunes soubesse mais do que um Sócrates e um Platão juntos, mas que me fizesse vibrar como eles isso é já outra conversa. 

(1) - Ramalho Eanes, G. Oliveira Martins, José Eduardo Franco, Lídia Jorge, Luís Machado de Abreu, Luísa Ribeiro Ferreira e o Miguel Real que na altura em que era aluno de Manuel Antunes utilizava outro nome.

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