quarta-feira, 4 de abril de 2018

O turismo matou aquele Portugal tradicional

O enorme afluxo turístico que o país ultimamente enfrenta deve-se a uma série de condicionalismos não totalmente explicados. Houve os que disseram que as "guerras árabes" proporcionaram a vinda de muita gente oriunda de toda a parte do planeta que não quis arriscar levar com uma bomba ou com um bombardeamento aliado (ocidental) nessas zonas. É de considerar! Uma coisa estranha aconteceu e que é de arrepiar. Eu explico como posso e posso pouco. No tempo do Estado Novo, o bondoso ditador Salazar resolveu a crise habitacional não permitindo que os senhorios aumentassem as rendas. Por outro lado, e para garantia daqueles exploradores o escudo (moeda portuguesa) não desvalorizava. Mantinha-se como uma das moedas mais fortes do mundo. Nada de inflação! Por exemplo, em Campo  de Ourique-Lisboa, na década de sessenta, um simples apartamento de duas assoalhadas minúsculas custava a um terceiro oficial de Finanças (para comparação real) quase dois terços do seu vencimento mensal. (1.110$00).  Se fosse casado e a mulher não trabalhasse, restava-lhe apenas 640$00 para todas as despesas. Era vê-los elegantes a tomar a sua bica de pé ao balcão. Baixos mas esguios. As mulheres também não eram como as de agora. Mais magras, mais naturais e mais apetitosas (cuidado com as piropoleiras do BE ). Com a Revolução dos Cravos e com a inflação galopante, os senhorios, impedidos de aumentar as rendas, passaram de escroques a vítimas. Enquanto os inquilinos subiam para o tal estatuto da nova classe média nacional (com a novidade de poderem usufruir de pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia porque praticamente pagavam quantias ridículas de renda) os senhorios empobreciam. E o Turismo, onde fica nesta mixórdia de palavras? Em Lisboa salazarista, os que tomavam de arrendamento  casas com preços exorbitantes acabavam por as  subarrendar. Isto é, "aluga-se quarto". Não era raro haver famílias convivendo com estranhos dentro dos seus lares. Casas havia com dois ou três hóspedes. A lei permitia. Eram os "turistas"! Não havia outros. Bem, na Linha de Cascais sempre se encontravam nobreza real fugidia, Grandes de Espanha e outros. Deixem-me contar uma cena de que fui testemunha. Em 1961, quando vim fazer exame a Belas Artes (chumbei, claro!) estava eu a "viajar" de elétrico lá para os lados do Largo do Rato quando a máquina parou. O que foi? Eu costumo gozar com os meus leitores (muito poucos) mas desta vez é a sério. Uma loira, talvez sueca - usando uns calções muito curtos (shorts) que deixavam ver aquela parte que ainda é madrepérola quase na fronteira da penugem púbica - atravessava  aquele espaço descuidadamente. Tudo normal. Só que o maquinista, com cara de cascalho, achou que aquele ser extraterritorial  era digno de uma miradinha. Elétrico parado, sim senhor. Eu que não tinha cara de cascalho mas sim de saloio, também gostei. E quando ela, sempre a mover-se sem rebolar mas com um regular andar espaçado entre cochas,  que nem um pêndulo, se pôs de costas para os basbaques, é que eu me apercebi da diferença entre um regime democrático e uma ditadura. Que é que isto quer dizer? Quer dizer que fiquei cheio de tesão e fui parar à Eva Dois que era logo ali a uns trezentos e tal metros e custava apenas  30 paus. Turistas eram poucos. Hoje, já não é assim! Os senhorios estão outra vez por cima e vai dai toca a expulsar os inquilinos para meterem em suas casas os turistas tal qual aqueles faziam com o dinheiro dos hóspedes para poderem viver desafogadamente. Falta dizer aquilo que não se lê nem se ouve nos telejornais: a sul de Espanha o Turismo está a abarrotar. É essa a razão de estamos a beneficiar com o facto de sermos o Portugal Hispânico. É isto que os governos portugueses têm de analisar com cuidado. O vender Portugal turístico lá fora não foi fruto de esforço nosso. Aproveitámos a boleia. Nem tudo  que tenha origem espanhola é mau. Quando a onda turística assentar o pó qual corgo algarvio estival - depois das bestas o calcarem  - como vamos enfrentar um desvio de rotas, que é o que costuma acontecer a este negócio internacional? Será que o nosso Turismo está nas mãos dos espanhóis? Não se acha estranho que o turista que nos visita tenha muito pouco para ver? Ninguém vem visitar um país que tem para oferecer na sua primeira capital o Mosteiro dos Jerónimos e na Capital do Norte a Torre dos Clérigos! (e pouco mais...) Não são os pasteis de Belém nem as Francesinhas que os atraem como moscas. Precisamos com a máxima urgência de descobrir as causas reais desta invasão. Será um ato temporário ou temos pela frente um continuar de um turismo amante da velha e carcomida Lusitânia e da arte submarina do Côa? As nossas praias, as melhores da Europa, não se apresentam  recheadas de montanhas de turistas a não ser a zona do Algarve e mesmo assim não houve aumento de turismo. O Turismo internacional que não o inglês dirige-se às costas da Espanha. Estude-se, por exemplo, o que se passa em Benidorme. Mais vale prevenir. Não temos vocação para a cultura de prevenção e um dia vamos pagar a fatura, lá isso vamos!

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