segunda-feira, 30 de julho de 2018

A velha Alfama e os novos fadistas

Havia uma dita esquerda que tomou o poder em 2015, aproveitando a composição da Assembleia da República e inspirada, por certo, em experiências de países nórdicos. O Partido Socialista embora chamuscado por suspeitas de alguns dos seus mais altos representantes tinha como almofadas éticas o Bloco de Esquerda e o reputado Partido Comunista Português. A era socrática foi taticamente relegada para um plano onde o PS era um dois que tinha tido a habilidade de se decompor colocando os seus suspeitos de má gestão governativa num um que se debatia com os tribunais da opinião pública por um lado e por outro enfrentava  o peso da Justiça do quarto órgão de soberania: os Tribunais.  O outro um,  é o um do PS de António Costa. O tal que tem duas almofadas de grande mérito ético-político e que aos costumes da tradição disse nada. Quer dizer, tinha, pois o que se passou com a pretensa especulação imobiliária  originada por um alto  bloquista com grandes  responsabilidades no Partido que dá pelo nome de Bloco de Esquerda, vai contribuir para destruir o status quo que dava pelo nome de geringonça. A geringonça morreu. Robles matou-a! O Partido Comunista já ajuizou a situação e pela voz de Jerónimo de Sousa disse do BE o que costumavam os comunistas dizer no tempo do PREC aos extremistas imberbes. Com uma direção como esta se encontra, o BE sujeita-se a ficar a falar sozinho no hemiciclo e na rua. Para o PCP nada de acordos que isso pode afetar o seu eleitorado. A direção do BE num momento de  pânico deixou de raciocinar e numa de grupo ético após uma má ação fechou-se em concha. Nem Francisco Louçã, nem Catarina Martins, nem a Mariana Mortágua se aperceberam do que aí vinha. A comunicação social não vai deixar de vasculhar tudo e todos os intervenientes do negócio Casa dos Robles. Naturalmente os manos não estão sozinhos nas facilidades com que o negócio se fez; o que vai  levantar suspeitas que originarão, certamente, investigações policiais. O senhor Robles acabará por ter de responder perante a Comissão de Inquérito Parlamentar. Outros o foram por muito menos. Que espetáculo teremos quando a diligente Mortágua questionar o seu companheiro de tanta luta contra os patos-bravos que enxamearam ministérios e edilidades e que se pavoneiam com os seus topo de gama e palacetes por esse país fora? O PS ainda não percebeu a parte que lhe vai tocar do efeito Casa dos Robles. Não entendeu  e só vai ter consciência disso quando o eleitorado o punir em sondagens. Catarina Martins foi sempre uma voz sólida mas por mais que quisesse descolar do PS viu-se sempre a ter de o apoiar porque as suas políticas eram impraticáveis e só como  infiltrada poderia obter algumas vitórias. Isto é, vitórias do PS que chamou suas. Agora com o apoio à bronca do senhor Robles e mana ela perdeu toda  a credibilidade. E isso é mau para o partido. Virá para  as arruadas com o bombo? Acho que não devido a que o barulho do bombo iria despertar as mentes dos que se sentiram enganados. Virá o Bloco para a rua sem bombo? Catarina sem bombo? Não estou a ver! Catarina Martins e Mariana Mortágua deviam pôr os seus cargos políticos à disposição? Deviam?, porém, o BE ficaria nu de todo. Sem estrelas de primeira grandeza qualquer partido esfuma-se. Depois há aquela coisa de o senhor Robles não pensar em demitir-se e logo a dona Catarina abençoou-o na postura. Claro que o arcebispo de Mitilene também o abençoou, mas esse anda por aí e já se deixou disso. Disso de política ativa de cúpula. O PSD de Rio (há outro) começou a tomar fôlego na Madeira. Rio anda a estudar a tática de Anibal Barca para conquistar a sua Roma. Com o PCP para um lado, com o BE para o outro, com o PS mais sozinho que o Leão da Metro, Rio sem grande esforço assume-se como o próximo inquilino de São Bento. Parece que estão todos a trabalhar para ele. Mesmo os adversários... Até se contabilizar o rombo que a Casa dos Robles fez no mundo político continental - que isso das ilhas é outra conversa - é natural que o eleitorado pare para pensar. O eleitorado português parar para pensar? Há sempre uma primeira vez para tudo...

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